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Porandubas nº 383

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Atualizado às 08:14

Abro a Coluna com duas historinhas de Carlos Santos, pinçadas de seu "Só Rindo 2".

Pedras no português

Médico e candidato a prefeito de Pau dos Ferros, Etelânio Vieira retorna de outra movimentação de campanha. Ao seu lado, o vereador "Assis Bigodão".

No interior do carro em que ambos estão, Assis desabafa fuzilando de morte o português :

- Jogaram uma pedra "neu"...(sic).

Com elegância, quase inaudível para não expor o vereador a embaraços, Etelânio sopra o que seria a expressão correta :

- "Neu" não, Assis; "em mim" !

Olhar de espanto, o vereador complementa o assassinato da língua de Fernando Pessoa, Camões e Eça de Queirós :

- Sim...Jogaram no senhor também, doutor !

Que coisa !

O candidato retardado

Palanque armado no bairro Pereiros, o comerciante "Chico do Peixe" chega com considerável atraso, ávido por discursar na condição de candidato a vereador em 1996, no município de Mossoró. Favorecido pela escassez de oradores no comício do candidato governista, engenheiro Valtércio Silveira, apoiado pelo prefeito Dix-huit Rosado, Chico é alertado de que também terá direito a discursar. Ufa! Ele já pensava que não teria vez. Abrindo a oratória, Chico do Peixe tenta justificar sua ausência até então, mas mistura semântica com psiquiatria :

- Olha, meus amigos, eu estou chegando "retardado"...

Previsões para o ano

Há analistas pessimistas, otimistas e realistas. Distinguir uns de outros não é tarefa fácil. Alguns apontam para a recuperação da economia americana e impactos sobre o Brasil. Outros procuram mostrar que a engenharia da "catástrofe perfeita" começa a ser desenhada. Entre uns e outros, os realistas se impõem. A tempestade perfeita ocorreria no cenário de reversão da política monetária, fortemente expansionista, empreendida pelo FED, o banco central americano. O nosso guru, Delfim Netto, diz que se a oferta de moeda estrangeira escassear, o câmbio interno poderia passar por turbulências. Como pano de fundo, rebaixamento da qualidade da dívida brasileira. Mas o próprio Delfim acredita que as chances da tempestade estão sendo afastadas.

Economia de 2% do PIB

Delfim argumenta : basta que a presidente Dilma assuma o compromisso firme de que o governo fará uma economia de 2% do PIB (cerca de R$ 96 bilhões) por ano, destinada a amortizar a dívida (superávit primário), para que a política econômica comece a passar firmeza e, nessas condições, a tempestade seria enfrentada sem avarias de monta para o navio. Nesse caso, teria de basear-se em cálculo transparente das contas públicas, sem os truques contábeis inventados em 2012 pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, que vem denunciando a existência de ataques especulativos contra as finanças do governo.

Leos : garantindo grau de investimento

O economista Mauro Leos, vice-presidente da Moody's, uma das maiores agências internacionais de classificação de risco, garante que se a situação macroeconômica do Brasil, em 2014, for idêntica à do ano passado, a nota do país continuará sendo a de grau de investimento. Com ele, a palavra: "o cenário que prevemos não deverá ser muito diferente de 2013, quando a economia cresceu em torno de 2%. Neste ano, deverá ficar no mesmo patamar. No caso da dívida pública, que ultrapassou 60% do PIB em 2013, deverá acontecer algo parecido. Se esse cenário se confirmar, não precisaremos mudar a classificação de risco do Brasil no curto prazo. Acreditamos que ela é consistente com a nota do país, hoje, de grau de investimento com perspectiva estável".

Dilma, franco favorita

Pois bem, mantida essa situação, este analista acredita que a presidente Dilma Rousseff continua na posição de franco favorita do pleito de outubro. Uma catástrofe - inflação alta, desemprego em massa, tumulto na distribuição do Bolsa Família, descalabro na saúde e segurança pública - aumentaria, consideravelmente, as chances de um candidato das oposições. A candidata governista, convenhamos, conta com gigantesca máquina - as estruturas administrativas de ministérios e agências governamentais, milhares de cabos eleitorais postados em áreas-chave. Pode ser que o clima do ano chegue a conturbar o processo eleitoral. Manifestações por ocasião da Copa, mobilizações nas margens eleitorais, movimentos paredistas de setores e categorias profissionais etc. Teriam força para mudar a paisagem eleitoral ? Essa é a pergunta que fica no ar.

Dor de cabeça

A dor de cabeça que afligirá a candidata à reeleição pode, também, prejudicar o rumo de sua campanha. Trata-se do imbróglio da reforma ministerial. Sairão alguns ministros para disputar a eleição. Os partidos começam a guerrear por melhores postos na administração, a partir do PMDB, o maior partido aliado. Será impossível chegar ao consenso. No Rio, as posições tendem a ser irreconciliáveis, a partir da férrea determinação do PMDB e do PT de manter as candidaturas do vice-governador, Pezão, e do senador petista Lindenberg. O vice-presidente Michel Temer, com sua conhecida habilidade para negociar, continua a tentar um acordo. O que pode ocorrer é um palanque duplo para Dilma, no Rio de Janeiro. E uma parceria estremecida.

Rolezinhos

Os "rolezinhos" começam a se multiplicar pelas praças do território. Aglomerados de jovens, sob o convite das redes, adentram os shoppings centers, para uma zoeira, um encontro animado, sob manifestações e palavras-chave de uma turba que quer se divertir. Os "rolezinhos", como estão sendo chamados, podem se transformar no hit das próximas estações, principalmente se o Estado não souber administrar as ondas. Proibir a entrada de jovens em um shopping center, levando em conta seu modo de vestir, é um ato discriminatório. Permitir a bagunça generalizada em um ambiente privado também é inconveniente. O Estado é transportado ao espaço entre a cruz e a caldeirinha.

Significado

Os "rolezinhos" são como a água corrente de um rio, que esbarra em pedras e obstáculos, até encontrar o oceano. A água se infiltra entre as pedras, procurando desvios, ladeando barreiras, adentrando os estreitos espaços entre rochas. Procuram dar vazão a seus volumes. A falta de espaços urbanos para o lazer, a compressão das grandes cidades, o estrangulamento das vias e praças públicas - eis o leit motiv dos "rolezinhos". Essa movimentação quer dar vazão à expressão de jovens contidos em suas vontades, anseios, expectativas e demandas.

O marketing eleitoral

Estamos quase entrando no "império dos signos". Refiro-me à campanha eleitoral. Urge lembrar aos candidatos. A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais e a insinceridade deverão ser anotadas por um eleitor mais sabido, crítico e racional. A "feitiçaria" da publicização eleitoral não será capaz de enganar a massa eleitoral. Gato não mais será vendido como lebre. Se o Príncipe não pode dispensar a astúcia da raposa e a força do leão, devendo trapacear e matar, de acordo com os preceitos de Maquiavel, o súdito não vai deixar ser pego por eles. O eleitor saberá medir versões, interpretações e propostas. "Nenhum homem, por maior esforço que faça, pode acrescentar um palmo à sua altura e alterar o pequeno modelo que é o corpo humano". É o que diz a Sagrada Escritura.

Candidato não é sabonete

Candidato não pode ser tratado como sabonete. Tem identidade, alma, tem emoção. Para chegar ao fim do caminho, passará por cinco grandes fases. A primeira é a do lançamento, quando seu nome começa a ser apresentado ao eleitorado. A segunda é a do discurso, quando fará propostas condizentes com as demandas sociais. Contará com a ajuda de mapeamentos e pesquisas qualitativas e quantitativas. Usará uma ampla e densa bateria de comunicação para dar conhecimento de suas ideias, os chamados canais publicitários e jornalísticos. Deverá formar uma sólida rede de articulação com a sociedade organizada, a partir de entidades de credibilidade e respeito, a partir de convocação e parceria com os setores políticos (partidos e lideranças). E fechará seu marketing com os esquemas de mobilização, onde deverão ocorrer os eventos de contato com as massas.

O eleitor de 2014

Uma pequena lição de Zaratustra para compreender melhor o eleitor de outubro próximo : "novos caminhos, sigo; uma nova fala me empolga: cansei-me das velhas línguas. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas".

Debates

Este consultor sugere um amplo e contínuo programa de debates entre os candidatos. Como faz a TV americana. Escolhem-se três a quatro temas e, sobre eles, cada candidato fará a sua análise e propostas. O eleitor ganhará ao poder comparar a viabilidade de cada proposta e a maneira de implementação das ideias. Sem agressões.

Herói

O Brasil está à procura de um Herói. Quem se habilita ? Atenção aos candidatos : cuidado com as pedradas.

Grande dúvida

Guido Mantega resistirá ? Continuará firme e forte no Governo Dilma ? E o Arno Agustín, Secretário do Tesouro, idem ?

Papel tem pernas ?
E a seguinte historinha (real) dos papéis que andam entre as instantes dos prédios públicos não passaria de folclore. O cidadão chega à repartição e pede para ver seu processo. Ouve do atendente : "ah, tem muitos outros na frente. Vai demorar um tempão até ser despachado. Papel, doutor, não tem pernas". Agastado, o interlocutor reage: "e quanto o senhor quer para por dois pés nesse papel ?" Tiro e queda. A nota de 100 fez o papel correr rapidinho.

Conselho aos jovens

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos maniqueístas que se multiplicam no país. Hoje, dirige-se aos jovens :

1. Compreende-se a onda jovem que irrompe nos espaços privados para fazer valer sua expressão e necessidades lúdicas. A falta de espaços públicos para as manifestações da juventude explica, em parte, a multiplicação de ondas de mobilização juvenil.

2. Convém, no entanto, não se deixar levar por oportunistas e aproveitadores, que procuram disseminar um poderio destrutivo, voltado para a depredação dos ambientes.

3. Cuidado para não servirem de massa de manobra a grupos e setores interessados em desestabilizar os climas ambientais.

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