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Porandubas nº 439

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Atualizado às 08:37

Abro com duas historinhas ; uma da Bahia, outra, do Rio de Janeiro.

Esperando o aperto de mão

O deputado baiano mandou cartão de Natal para uma mulher que morrera há muito tempo. A família, irritada, retribuiu : "Prezado amigo, embora jamais o tenha conhecido durante os meus 78 anos de vida terrena, daqui de além-túmulo, onde me encontro, agradeço o seu gentil cartão de boas-festas, esperando encontrá-lo muito em breve nestes páramos celestiais para um frio aperto de mão. Purgatório, Natal de 2005." O deputado recebeu a resposta. E espera, angustiado e insone, pelo aperto de mão.

Casa de tolerância

Da verve do Sebastião Nery, mais um registro. A vereadora Lígia Lessa Bastos, da UDN, fazia discurso contra o prefeito Negrão de Lima, enfrentando os apartes dos representantes governamentais. Resolveu não conceder mais apartes. Manoel Blásques insistia, mas dona Lígia se mantinha intransigente. Quando terminou o discurso, Manoel Blásques pediu a palavra pela ordem :

- Sr. Presidente, estranho o comportamento da nobre colega Lígia Lessa Bastos, pois esta Casa é reconhecidamente uma Casa de tolerância.

Tempos pós-chocolate

Passada a comilança de chocolate, na esteira da gula gerada nesses tempos de Páscoa, voltamos ao feijão com o arroz da crise. Mudou algo no horizonte após dias de doçura na boca e paladares satisfeitos ? Pouca coisa, mas algo de relevante surgiu nos últimos dias : a consciência de que alternativas políticas devem ser postas à mesa, sob espíritos desarmados e dispostos a encontrar saídas para a crise. O bloco situacionista deve se convencer que o momento é grave, não permanecendo na atitude tola de navegar nas ondas borrascosas que embalam a presidente Dilma ; as oposições também devem se convencer que um desastre geral as afetará. Todos perdem.

O caminho

O caminho mais largo é o aberto pelo pacote de ajustes do Joaquim Levy. Não passará in totum pelo Congresso, mas se atravessar os longos corredores das duas casas congressuais fazendo algumas concessões, deverá, mesmo assim, ser a baliza para resgatar a força da economia. O pacote envolve um montante de 110 bilhões de reais. Se Levy conseguir salvar cerca de 80 bilhões, suas metas poderão ser preservadas. Esse é o dever do Parlamento : aprovar medidas para melhorar a economia.

Terceirização

Ontem, abriu-se o debate sobre Terceirização no país, por meio do PL 4.330/04. Trata-se de um instrumento de modernização. O combate à Terceirização é feito por uma visão retrógrada que integra o PT, a CUT e os movimentos radicais. Que defendem relações do trabalho da época dos conflitos entre capital-trabalho. O mundo do século XXI é outro. O conceito de manufatura não é mais o do século XVIII. A especialização é a ferramenta-mor da produção. Um automóvel é um conjunto de obras especializadas. Cada qual, cada profissional, cada categoria pondo sua força de trabalho na produção dos componentes. Terceirização, como bem acentuam o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e Vander Morales, presidente da Fenaserhtt e do Sindeprestem, é especialização.

Direitos

Os especialistas são contratados por empresas que os procuram no mercado, observando suas conveniências de produção. Empresas de prestação de serviços são formadas para ajudar as contratantes. Aos profissionais terceirizados garantem-se TODOS OS DIREITOS trabalhistas. Sem tirar nem por. Há sindicatos formados para agrupar os terceirizados. Que fazem Convenções Coletivas para garantir pisos de cada categoria e outros direitos. O PL 4.330 tem cerca de 80% seus artigos direcionados à defesa dos terceirizados. Falar sobre precarização do trabalho é balela. É slogan de CUT e radicais. É gritaria de quem quer continuar a abarrotar os cofres com os contingentes efetivos.

Grana, grana

Ora, as Centrais Sindicais preferem trabalhadores efetivos a terceirizados. A razão ? Quanto maiores os contingentes, mais grana nos cofres para os sindicatos dos efetivos que trabalham numa empresa. O que querem as Centrais ? Que uma copeira que trabalha numa metalúrgica, seja metalúrgica e não copeira, fazendo sua contribuição sindical ao sindicato dos metalúrgicos e não ao sindicato de asseio e conservação. Ora, essa copeira será manipulada pelos sindicatos da categoria preponderante para reivindicar o piso de metalúrgica, e mandando para o lixo o piso das copeiras. Ora, as empresas veriam, da noite para o dia, seus cofres estourados. As folhas tornariam insustentável a vida das empresas. Essa é a verdade que se esconde por trás do lero-lero da "precarização do trabalho".

PMDB na articulação

Será difícil ao PMDB aceitar o convite para comandar a articulação política, por meio da Secretaria de Relações Institucionais, hoje ocupada pelo ministro Pepe Vargas. O convite teria sido feito ao ministro Eliseu Padilha, que comanda a pasta da Aviação Civil. Padilha é um exímio articulador. Mas seria improvável aceitar a missão, que tem o todo poderoso ministro Aloizio Mercadante dando as cartas.

CUT, PT e movimentos

A ordem de Lula é : vamos para as ruas nos defender da corrupção e enfrentar nossos adversários. A CUT começou sua empreitada ontem. Mais tarde, nessa direção, vão arrumar uma nova designação - Frente de Mobilizações, por exemplo - uma expressão para induzir os incautos a pensar que tal movimento é de oposição ao governo. Lula é hábil nesse tipo de artimanha.

Dia 12

As redes sociais convocam uma grande mobilização, dia 12 próximo. Pouco tem se falado sobre o evento. Será que caiu no buraco da banalização ? Minha bola de cristal não permite enxergar êxito ou fracasso no ato. Nesse momento, o país está muito imprevisível. E cercado pelo muro da imponderabilidade.

Continuidade

Os movimentos sociais deverão, doravante, estabelecer uma agenda mais pontual, com temas e demandas específicas. A conferir.

Lava Jato

Nos próximos dias, será aberto o ciclo do julgamento dos atores envolvidos na Operação Lava Jato. Os políticos, sob o crivo do STF, serão julgados mais adiante.

O Brasil a limpo

Não há dúvida. O Brasil a ressurgir, após essa bateria de crises, terá uma fisionomia mais asséptica. As crises apontam para a revitalização de estruturas, métodos e processos.

Vaccari

João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, reluta em pedir licença do cargo. Quanto mais demora, mais deixa o partido em maus lençóis.

Nalini

O presidente do TJ/SP, desembargador José Renato Nalini, é um craque. Respondeu com tranquilidade e sabedoria a todas as questões que lhe foram remetidas, segunda feira passada, pela bancada do programa Roda Viva, na TV Cultura, da qual participei. Um exemplo de humanista entre os nossos juízes.

Forum de Comandatuba

Entre 18 a 21 de abril próximo, será realizado o 14º Fórum de Comandatuba, sob o comando do dinâmico empresário e jornalista Joao Doria Jr., presidente do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais. Mais de 50% do PIB brasileiro se fará presente, ao lado de grande bancada de senadores, governadores, deputados Federais e prefeitos. Destas feita, o Fórum abrigará um seminário sobre a América Latina, com a participação dos ex-presidentes Fernando Henrique (Brasil), Vicente Fox (México), Luis Alberto Lacalle (Uruguai), Jorge Quiroga (Bolívia) e Álvaro Uribe Vélez (Colômbia). Já o Seminário Brasil debaterá "Medidas para Combater a Crise Institucional e Política do Brasil." Este consultor estará presente.

Imagem de Dilma

Pergunta recorrente feita a este consultor : com imagem tão negativa (só 12% atribuem ao governo o grau de ótimo/bom), Dilma poderá resgatar a imagem ? Em tese, sim. Tudo vai depender da economia, que é a locomotiva do trem. A economia puxa os carros da inflação, do desemprego, da carestia, da falta e dinheiro no bolso e, na ponta, gera alta do Produto Nacional Bruto da Infelicidade, que é amalgama das angustias, expectativas, alegrias e tristezas. Quando a economia vai melhorar ? Uns sinalizam o ano de 2016. Outros vêem um respiro nos meados do segundo semestre. Pois bem, o resgate de imagem vai depender da economia. Que deixa os políticos mais animados a fazer oposição.

Lula

Luiz Inácio deve estar com muita dor de cabeça. Ao ver ser PT de ponta-cabeça. Revirado. Identificado com a lama da corrupção. Lula está angustiado. E vendo seu estoque de carisma refluir. Gota a gota, aos pouquinhos.

Espelhos rotos

No dizer de Jorge Luis Borges, "somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, essa pilha de espelhos rotos". Um monumento de espelhos que, mesmo rotos, conseguem refletir o despertar de uma nova aurora. É assim que vejo o nosso país.

Os sete pecados dos governantes

Os governantes não gostam de ver seus retratos em preto e branco. Só a cores. Alguns até olham para o espelho, como a madrasta da Branca de Neve, e tascam a pergunta : "espelho, espelho meu, há alguém mais competente do que eu ?". O poder provoca delírios. Daí o primeiro pecado capital. É o pecado da insensibilidade. O pior é que os governantes acabam se achando com a cara de Deus : o segundo pecado capital, o pecado do sentimento da onipotência. Acham que o dinheiro compra tudo. Eis o terceiro pecado capital. O pecado da crença na força absoluta da grana. Não buscam soluções inteligentes e inovadoras para a gestão. Cometem o quarto pecado capital : o pecado da rotina. Daí para o quinto pecado, o salto é pequeno. Não obedecem a uma agenda planejada. Não administram seus tempos de acordo com um sentido de prioridades e lógica. Caem no pecado da improvisação. Cercam-se de "luas-pretas". E aceitam o sexto pecado capital, o pecado da bajulação consentida. Por último, abrem seu inferno particular para comemorar o sétimo pecado capital : o pecado do descompasso com o senso comum.

Projeção para inflação