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Porandubas nº 461

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Atualizado às 08:20

Abro, hoje, a coluna com uma parábola e um pequeno conto.

A parábola

"Há pessoas que não conseguem perceber o que se passa ao seu redor. Não veem que não veem, não sabem que não sabem".

O conto

Maria cai em um poço e está a 10 metros de profundidade. Olha para os céus e não vê o buraco. Desesperada, começa a escalar as paredes. Sobe um centímetro e escorrega. Passa o dia fazendo tentativas. As energias começam a faltar. No dia seguinte, um agricultor que passava pelo lugar ouviu um barulho. Olhou para o fundo do poço. Enxergou o vulto de Maria. Correu e pegou uma corda. Lançou-a no buraco. Concentrado em seu trabalho, esbaforida, cansada, Maria não ouve o grito da pessoa : "pegue a corda, pegue a corda". Surda, sem perceber a realidade, continua a tarefa de escalar, sem sucesso, as paredes. O homem na beira do poço joga uma pedra. Maria sente a dor e olha para cima, irritada, sem compreender nada. Grita furiosa :

- O que você quer ? Não vê que estou ocupada ?

O desconhecido se surpreende e volta a aconselhar :

- Aí tem a corda, minha senhora, pegue a corda que eu puxo.

Maria, mais irritada ainda, responde sem olhar para cima :

- Não vê que estou ocupada, ó cara. Não tenho tempo para me preocupar com sua corda.

E recomeça seu trabalho.

Parábola : "Maria não vê que não vê, não sabe que não sabe". Qualquer semelhança com algum político ou governante é mera coincidência.

Pacotão

Novo pacote de cortes e impostos coloca governo Dilma no canto do ringue. O objetivo é arrecadar 66 bilhões de impostos. Esta alternativa continua a ser questionada pelos setores produtivos. Mais uma vez, veremos a OAB/SP e FIESP liderando uma frente contra a famigerada CPMF, desta feita cotada para cobrar uma alíquota de 0,20% sobre o valor da transição financeira. Só esta alíquota será responsável por 32 bilhões de receita. Mas foi acordado que nada irá para Estados e municípios, o que torna pouco provável a passagem tranquila pelos plenários das casas congressuais. A não ser que a alíquota seja aumentada para atender a súplica de governadores e prefeitos.

O resto do dinheiro

O resto do dinheiro será tirado do corte no programa Reintegra (créditos tributários aos exportadores) ; redução do PIS/COFINS na área da indústria química ; na limitação de juros sobre capital próprio (TJLP) e no IRPJ, com dedução de valores para SESI, SESC e SEST ; realocação de recursos do Sistema S para cobrir déficit da Previdência. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Desta feita, os ovos de uma granja por muito tempo. Haja cocoricó.

Cortes

Os setores produtivos reagem : será que o governo vai fazer os cortes que se fazem necessários ou fará uma cosmética em cima de alguns programas ? O fato é que o governo se inclina a cortar parcela dos recursos destinados à agricultura familiar, Pronatec, Fies, ProUni, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida. Ora, mas esses programas não são dirigidos às classes C, D e E, base principal do eleitorado do PT ? Sim. A querela, então, ganhará mais força. Pois o PT vai reagir ao corte de recursos para suas bases. A chiadeira vai engrossar. Petardos de todos os lados vão fazer feridos.

CUT contra governo

A CUT é um dos braços de sustentação do governo. Ou era. Agora, posiciona-se contra. Vejam. O presidente da Central, Vagner Freitas, o mesmo que disse que, se necessário, recorrerá às armas para defender Dilma, classifica como "lamentável" o pacote de medidas do ajuste fiscal. A CUT promete lutar contra Levy e seu pacote.

Tensões

Seja qual for o desenlace que aguarda o pacotão de cortes, o fato é que as relações entre governo e esfera política estarão mais acirradas, ao contrário do que se supunha quando a presidente Dilma parecia inaugurar uma fase de articulação política sob seu direto comando. A CPMF tem pequena possibilidade de passar pela Câmara. Mas os deputados poderão se convencer sobre sua absoluta necessidade. As tensões começam nas hostes do próprio PT, que não se conforma com os cortes em programas que considera vitais para sua sobrevivência.

Saídas para a crise

O mais abrangente e intenso evento na área dos grandes temas nacionais foi realizado pela OAB/SP, em parceria com a TV Cultura, Instituto de Estudos Avançados da USP e Assembleia Legislativa. Grandes expressões nas esferas da política, da economia e das questões sociais debateram, por dois dias, saídas para a crise. Destaques para o ministro Gilmar Mendes, senador Romero Jucá, empresário Jorge Gerdau e Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira. Os resultados do evento serão reunidos em um livro, a ser entregue aos congressistas.

Bola com o Congresso

O governo, navegando à deriva, joga a bola para o Congresso chutar. Renan Calheiros, presidente do Senado, se mostra mais acolhedor que Eduardo Cunha, presidente da Câmara, às próximas investidas governamentais na frente do ajuste fiscal. Como o governo vai tentar passar a CPMF pelas casas congressuais se as verbas orçamentárias destinadas aos próprios parlamentares receberão ajustes ? Quero ver esse milagre.

Greve de funcionários ?

Já se ouve o ruído nas cercanias do funcionalismo público. Uma greve geral do funcionalismo estaria sendo preparada, caso o governo tente sustar o aumento dos quadros públicos. A paralisia geral das estruturas da administração seria a gota d'água para acelerar a próxima mobilização das ruas. Só mesmo a incompetência abrirá mais um buraco nos costados do governo.

Pergunta

Por que o governo não encontra meios de cortar R$ 30 bilhões em um orçamento de R$ 1,2 trilhão ?

Vai e volta

O Fundo Partidário, aumentado este ano para R$ 867, 5 milhões, será cortado em 64%. Vai e volta, vem e vai. Barata tonta.

Frebraban

Há gente, sim, entidades também, que aprovam o novo pacote de tributos e cortes do governo. A Febraban, por exemplo, a Federação dos Bancos. O sistema financeiro vai muito bem, obrigado.

A resposta de Michel

Ante a pergunta feita ao vice-presidente Michel Temer, em viagem à Rússia, se a presidente Dilma chegaria ao fim do mandato, foi rápido : tem certeza de que ela vai terminar o mandato. Na verdade, ele falaria na Rússia apenas sobre os assuntos tratados com o governo russo. Ante, porém, a pergunta casca de banana, não teve dúvida : respondeu. Imagine-se a especulação caso não respondesse. Nos últimos tempos, o que o vice diz ganha manchete.

O rolo da Caixa

Mais um rolo em apuração : a CEF teria descumprido a Lei de Responsabilidade Fiscal ao repassar recursos para programas nos ministérios da Cidade e da Agricultura. E ficou à espera do ressarcimento. Uma pedalada fiscal. O MP está investigando.

Menos um

A Secretaria de Assuntos Estratégicos está com os dias contados para deixar de ser Ministério. Seu titular acaba de pedir demissão : Mangabeira Unger. Que deverá continuar dando palpites como consultor do governo. Pelo menos, fica fácil para Dilma eliminar a Pasta.

Petrobras, menos, menos

A Petrobras valia há cinco anos cerca de R$ 280 bilhões de dólares. Hoje, vale R$ 28. Queda de grande despenhadeiro.

Nova crise ?

Murilo Ferreira, presidente da Vale, deixou a presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Diz-se que divergia do presidente da petroleira, Aldemir Bendine. Alegou questões de saúde. Realmente, Petrobras é, hoje, sinônimo de dor de cabeça.

Exercícios de decalagem

Decalagem (com a, isso mesmo, não decolagem) é a distância entre a posição corretamente prevista de um alvo móvel e a posição real de onde os últimos sinais foram recebidos. Assim, para levar em conta a decalagem, o caçador antecipa, dispara à frente da ave em voo ou de um prato de barro ; aponta, não em direção ao próprio alvo, mas a um ponto previsto na trajetória. Em política, um governante deve ter aptidão para prever e antecipar os problemas que vão surgir. O que a presidente Dilma precisa fazer para melhorar sua taxa de decalagem ?

A volta de seu Lunga

Pérolas que mandaram para a coluna, atribuídas a "Seu" Lunga, o grande frasista e saudoso cearense. Não garanto que sejam dele.

1. A mulher viu Seu Lunga deitado, de olhos fechados, na cama, com a luz apagada e perguntou :

- Você tá dormindo ?

Ele :

- "Não, tô treinando pra morrer".

2. Seu Lunga levou um aparelho eletrônico para a manutenção e o técnico pergunta :

- Tá com defeito ?

- Ele :

- Não, é que ele estava cansado de ficar em casa e eu trouxe ele para passear.

3. Seu Lunga decidiu sair de casa na hora da chuva. A mulher perguntou :

- Vai sair nessa chuva ?

Ele :

- Não, vou sair na próxima.

4. Um amigo ligou para ele, em sua casa, e indagou :

- Onde você está ?

Ele :

- No Polo Norte ! Um furacão levou a minha casa pra essas bandas !

5. Mais uma vez, a pobre da mulher faz a pergunta :

- Você tomou banho ?

Ele :

- Não, mergulhei no vaso sanitário !

6. E mais uma.

Na frente do elevador do prédio do INSS, alguém pergunta a Seu Lunga :

- Vai subir ?

Ele :

- Não, não, to esperando o INSS descer pra eu fazer minha inscrição no atendimento.