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Porandubas nº 501

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Atualizado às 09:09

Abro a coluna com a verve de Jânio

A banana

Na campanha pela prefeitura de São Paulo, em 1985, contra Fernando Henrique, Jânio foi ao bairro de São Miguel Paulista, reduto de nordestinos. Enfrentou uma feijoada, regada a caipirinhas múltiplas. Caiu na cama da casa de um eleitor. Atrasado, às 19h, foi acordado. Em sobressalto, vestiu o terno amarfanhado, pegou uma banana e colocou no bolso. Subiu o palanque e tascou : "político brasileiro não se dá o respeito. Eu, não. Desde as 7h da manhã, estou caminhando por este bairro e até agora não comi nada. Então, com licença". Sob os aplausos da galera, devorou a banana. Ganhou as eleições. Teve de desinfetar a cadeira onde, momentos antes, se sentara Fernando Henrique.

O acolhimento da pronúncia

A sessão pelo acolhimento do impeachment da presidente Dilma entrou pela noite. Haja discurso. Os adeptos da presidente querendo esticar o debate. Os adeptos do impeachment mostrando o Brasil quebrado e a volta da confiança com o novo governo. A decisão estava sendo aguardada com muita expectativa. Se o acolhimento da pronúncia se desse por mais de 55 votos, o acolhimento do impeachment, no final do mês, estaria, como de fato está, praticamente definido. Isso porque, quem votou a favor hoje, tende a votar amanhã da mesma forma. Este consultor, duas horas antes do início da votação cravou o número 59. E, como se viu, acertou na mosca.

O voto de Cristovam

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) fez um discurso importante. Mostrou todos os lados da questão do impeachment. Argumentou sobre a ingovernabilidade do país sob o comando de Dilma. E tomou posição a favor do relatório do senador Anastasia. A favor do impeachment. Um voto muito esperado. O senador é de muito respeito.

Clima amainando

A temperatura do meio ambiente esteve muito quente nos últimos tempos. O impeachment da presidente Dilma acirrou os ânimos. Mas o clima está mais temperado. Pouco a pouco a ideia de que se torna irreversível a volta de Dilma ao Palácio do Planalto toma corpo. Mesmo os petistas mais renhidos se acostumam com a retirada definitiva da pupila de Lula. O que se espraia é a observação de que, a par das pedaladas fiscais, ela está sendo retirada pelo conjunto de obra.

Russomano é candidato

Por 3 a 2, a 2ª Turma do STF absolveu Celso Russomano do crime de peculato. A relatora Cármen Lúcia e o ministro Teori Zavascki o condenaram, mas Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Celso de Mello o absolveram. Candidato a prefeito de São Paulo, Russomano deverá enfrentar o desafio que o persegue : deixar de ser um cavalo paraguaio ; sai na frente, mas não consegue chegar ao pódio.

Decepção

A presidente não correspondeu às expectativas : 1. Da sociedade, pela perda do patrimônio formado nos dois mandatos de Lula (a inserção de 30 milhões de brasileiros ao meio da pirâmide social) ; 2. Do PT, por não ter conseguido realizar o ideário do partido e contribuído para o racha entre alas ; 3. De Lula, que pode estar arrependido pelo fato de ter escolhido um perfil que não correspondeu às expectativas ; 4. Da esfera política, que nunca se sentiu prestigiada por ela.

A Carta

Dilma divulga esta semana uma Carta aos Brasileiros. Onde firma um compromisso : defende eleições para a presidência da República. Ora, onde está essa figura na CF ? Como pode haver eleição no meio de um mandato ? E em que tempo esse plebiscito seria realizado ? Mais falso que uma nota de R$ 3.

O perfil

Na verdade, o perfil da presidente Dilma está sendo, hoje, reformatado : não é uma gerente eficaz ; expressa a imagem de autoritária e auto-suficiente, o que é bem diferente de um governante com autoridade ; a feição técnica que se impregnava no perfil, por ocasião do primeiro mandato, esfacelou-se. Dilma deu as costas ao Congresso, cercou-se de um grupo de áulicos, afastou-se do próprio PT. Que, aliás, mais a suportou do que a apoiou.

Guerreira

A imagem de guerreira, que não se abate com as derrotas e se sente sempre altiva, está no foco dos assessores que ainda circulam no entorno da presidente. Mas é visível que a imagem de baluarte inexpugnável tende a desmoronar. Os últimos bastiões de Dilma persistem na narrativa da guerreira : três a quatro sites patrocinados pela era lulo-dilmista ; três a quatro colunistas que deixaram de fazer análise política para fazer crítica açodada ao novo governo e insistem na lengalenga do golpe ; um ou outro grande veículo, que teima em dar manchetes alarmantes.

Michel, candidato ou não ?

Na política, não há certezas. As coisas mudam a cada instante. Por isso, não se pode garantir que o presidente em exercício, Michel Temer, caso seja confirmado no cargo e faça um bom governo, decline de uma eventual candidatura em 2018. Mas quem o conhece sabe de sua disposição, firme, de não querer ser candidato em 2018. Primeiro, pela óbvia constatação de que precisaria aparecer como juiz no pleito ; essa situação garantiria efetivo apoio de uma ampla base. Segundo, porque, se for aplaudido nas margens de 2018, ele daria por cumprida a missão de ter pacificado o país e colocado o trem nos trilhos. Sair pela porta da frente - no auge da carreira - seria um trunfo.

Amigo do papa

Rui Carneiro, paraibano matreiro, era candidato a senador pelo PSD, em 1955. A UDN tinha apoio dos comunistas. Rui esteve na Europa, voltou, foi fazer o primeiro comício da campanha :

- Paraibanos, estive em Roma com o Papa. Ele me cochichou : "Rui, se destruírem meu trono aqui no Vaticano, sei que tenho um grande amigo lá na Paraíba. Vá, dê lembranças à comadre Alice e diga ao povo que estou com você".

Ganhou a eleição. (O amigo Sebastião Nery, com sua graça, nos brinda com essa historinha.)

Reforma ministerial

É evidente que o governante precisa fazer ajustes periódicos em sua equipe. Ajustar parafusos na máquina, substituir figuras que não estão correspondendo às expectativas ; alinhavar a linguagem de forma a manter a unidade da equipe ; melhorar a performance geral - esses são algumas tarefas a que se dão os governantes. Por conseguinte, é razoável pensar em ajustes na equipe ministerial após concluído o processo de impeachment. Mas a índole do presidente em exercício aponta que eventuais ajustes serão sempre combinados com os partidos e seus líderes.

Renovação na base

O primeiro andar do edifício político é formado pelas municipalidades, o segundo pelos Estados e o terceiro pela esfera Federal. A base da política se assenta, pois, sobre os prefeitos e vereadores. Pois bem, qualquer projeto de inovação política só ganha sentido e força quando abarca a base dos municípios. Nessa direção, teremos o pleito mais emblemático da contemporaneidade. Veremos grande renovação de prefeitos, mais do que dois terços. O que significará a irrigação do chão da política.

PT chega ao fim da linha

O PT atravessa o momento mais difícil e perverso de sua vida. Sob o bombardeio de denúncias, desde os tempos do mensalão, o partido está dividido. Duas alas parecem viver grande divisão : a ala Construindo um Novo Brasil, ex-campo majoritário e a corrente Mensagem ao Partido duelam, cada qual tendo uma visão de futuro. Nem mesmo Lula consegue mais unir as bandas. O presidente do PT, Rui Falcão, expressa publicamente sua discordância da presidente Dilma, quando esta defende eleições gerais este ano para a presidência da República. O partido terá tempo de compor uma unidade antes de outubro ? Como será o discurso ? Quantos sairão do partido ? Como fazer renascer das cinzas o ex-todo-poderoso Partido da Ética ?

O pior cego

Vanessa Grazziotin, Lindberg Faria, Gleisi Hoffmann e Fátima Bezerra são quatro figuras do Senado que expressam o discurso de uma nota só : Dilma é inocente e o que está havendo é golpe. Vanessa é do PCdoB do Amazonas, os outros três são do PT. Para eles, está havendo uma trama. Dilma fez um ótimo governo. E o atual ocupante da presidência é usurpador. O pior cego é aquele que não quer ver. Os discursos de cada qual deverão ser lembrados na campanha de 2018. Se forem candidatos, terão de rebolar. A conferir.

Lula e a família

Lula e sua família continuam a ser alvo da Lava Jato. A PF intimou a mulher do ex-presidente, Marisa Letícia, e o filho mais velho, Fábio Luis, para depor sobre o sítio da Atibaia. Com esta preocupação nas costas, Lula ainda tem de mobilizar a bancada de senadores do PT e mais alguns amigos senadores de outros partidos na tentativa de convencê-los a livrar a presidente Dilma do impeachment. Já não tem mais a antiga força.

Marta, a número 10

Marta, a goleadora da nossa seleção feminina, toma o lugar de Neymar no coração das massas. Neymar, um ídolo vaiado, Marta, um ícone aplaudido. É o Brasil. Que tem vergonha da seleção masculina de futebol na Olimpíada.

Não é inscrito na OAB

Em Antenor Navarro, Paraíba, havia um júri. O juiz da comarca, Nelson Negreiros, viu o réu chegar sem advogado de defesa :

- O senhor não tem advogado ?

- Tenho, doutor juiz. Meu advogado é Deus.

- Não serve. Não é inscrito na Ordem.

Mundo aplaudiu

Foi um belo acontecimento. A abertura da Olimpíada, no Rio, foi um show de criatividade, beleza e enaltecimento à formação de nossa cultura e de nossa gente. Quem esperava um anticlímax ganhou uma decepção. O mundo aplaudiu, de pé, a mais espetacular abertura da Olimpíada nos tempos contemporâneos.

Os 7 pecados capitais I

Senhores prefeitos, está chegando a hora da avaliação de suas administrações. Façam uma reflexão : onde acertei, onde errei ? Eis um roteiro que pode auxiliá-los : O poder provoca delírios e, assim, com o porre que lhes adormece as mentes, os governantes cometem seu primeiro pecado capital. É o pecado da insensibilidade. De tanto ver de perto, eles se desacostumam a ver de longe. O pior é que os governantes acabam se achando com a cara de Deus. Flagra-se, aqui, seu segundo pecado capital, o sentimento da onipotência. Os governantes decidem o quê, onde e como fazer.

Os sete pecados capitais II

Para eles, o dinheiro compra tudo. Com muito dinheiro, não perderão a eleição. E aqui está seu terceiro pecado capital. A crença na força absoluta da grana. Não há nenhuma criatividade, não se buscam soluções inteligentes e inovadoras. E o caldo insosso acaba gerando o quarto pecado capital dos governantes, o pecado da rotina. Daí para o quinto pecado, o salto é pequeno. A desorganização grassa, bagunçando as malhas burocráticas e gerando o pecado da improvisação.

Os sete pecados capitais III

As assessorias desqualificadas e os grupinhos de "luas-pretas" constituem um dos maiores danos à imagem e à eficácia dos governos, descortinando o panorama do sexto pecado capital, a bajulação consentida. De tanto andarem de sapato de salto alto, os governantes acabam pisando nos pés do povo. Nesse ponto, os governantes comemoram o sétimo pecado capital, o descompasso com o senso comum.

Empatando com Deus

Zé Baioneta, sapateiro e muito prendado lá de Remanso/BA, bebia muito. Bebia demais. Recebeu um dinheiro do cabo chefe do destacamento policial para fazer uma bota, bebeu o dinheiro, não conseguiu comprar o couro, começou a se esconder do cabo. Uma tarde, já noitinha, ia voltando para casa bem chumbado, encontra o cabo na esquina.

- Zé Baioneta, e minha bota ?

- Vou fazer, seu cabo. Tive uns problemas, mas vou fazer.

- Faça logo, urgente. Você recebeu meu dinheiro e está me deixando desmoralizado na cidade com essa bota toda estragada, toda furada, uma vergonha.

- Nada disso, seu cabo. Pois eu vou lhe dizer uma coisa. Aqui em Remanso não tem ninguém tão importante quanto o senhor. O senhor é mais importante do que o prefeito Marcelino Régis, mais importante do que o deputado Carlos Ribeiro.

- E do que Deus ?

Zé Baioneta pensou um pouco :

- Aí empata.