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Porandubas nº 527

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Atualizado às 07:53

Abro a coluna com uma historinha hilária de PE.

Verbo não "vareia"

A Câmara Municipal de Paulista/PE vivia sessão agitada em função da discussão de um projeto enviado pelo prefeito, que pedia crédito para assistência social. Um vereador da oposição combatia de maneira veemente a proposição. A certa altura, disse que "era contra o crédito porque a administração municipal não merecia credibilidade". O líder da bancada governista intervém, afirmando que "o nobre colega não pode jogar pedras no telhado alheio, pois já foi acusado de algumas trampolinagens".

- Menas a verdade - retrucou o acusado. Sou homem honesto, de vida limpa.

- Vejam, senhores, - disse o líder - o nobre colega, além de um passado nada limpo, ainda por cima é analfabeto, pois, "menas" é verbo, e verbo não "vareia".

(Historinha contada pelo jornalista Ivanildo Sampaio).

A crise pinga e respinga

A crise continua forte. Pingando novos dados, novas revelações, novas pontuações e respingando em velhos e novos atores. Léo Pinheiro, o ex-todo poderoso da OAS, amigo de Lula, confirma: o tríplex era dele. E reúne provas do dito. João Santana e Mônica, sua mulher, confirmam que Dilma sabia da propina e mais, sabia da conta no exterior, onde se depositavam milionários recursos. A Lava Jato põe a público vídeos com delações de todos os executivos da Odebrecht. Um oceano de revelações. Onde tudo isso vai desaguar?

Destruir provas?

Essa delação do Léo Pinheiro é mesmo uma bomba de alguns megatons: disse que Lula o orientou a destruir provas. Os detalhes da conversa são significativos. Os dois eram amigos. Essa orientação de Lula colará fundo em sua imagem.

A salvação de Lula

Lula iria depor dia 3 de maio em Curitiba. É o fato mais esperado dos últimos tempos. O ex-presidente está armado até os dentes. Diz que quer olhar Moro de frente. E que vai refutar: o tríplex nunca foi meu. Moro pode adiar o depoimento a pedido da PF e, dizem, também do governo do PR. Querem montar um esquema de segurança mais aparatoso para evitar balbúrdia. Difícil. Vai haver confusão em qualquer data que Luiz Inácio der seu depoimento. Por quê? Porque o petismo e Lula não terão salvação fora do escudo do carisma do ex-metalúrgico. E do barulhaço das ruas. Daí a urgente e premente necessidade do espetáculo armado em torno de Lula. Caravanas de todo o Brasil. Palanque na frente do prédio onde Moro estará fazendo sua interrogação.

Lula preso, grande comoção

Se Lula for preso, o PT vai vibrar. É o que o partido mais deseja para inflamar as bases. Os petistas querem inundar as ruas com emoção, barulho, quebradeira. O deputado Paulo Pimenta PT-RS, que o diga. Denuncia Moro como "um insano". Diz que o Poder Judiciário "é o mais podre do país". Anuncia uma conflagração social. E diz que irá à luta. Incita a militância. Luiz Inácio sabe que sua condenação em segunda instância acabará sendo uma medida providencial. Pois não teria candidatura. Tornar-se-ia vítima e não se arriscaria a perder como candidato.

Moro com a decisão

Sérgio Moro deve medir todos os procedimentos. Está colecionando provas. As hipóteses surgem aos borbotões: a) não mandará prender Lula, mas o condenará; b) mandará prender Lula e mostrará um conjunto de provas; c) deixará a condenação a cargo da segunda instância. Qualquer que seja a decisão, será ele a bússola a guiar os próximos passos da trajetória de Lula nos próximos tempos. Façam suas apostas. Este analista faz a sua: deixará a prisão a cargo da segunda instância.

Dilma nega, nega, nega

A ex-presidente Dilma continua a negar todas as delações que a colocam no circuito da participação. Diz que os marqueteiros João Santana e Mônica Moura mentem, faltam com a verdade. Mesmo? E os detalhes narrados com prontidão por ambos? Será que a senhora Dilma imagina que sua palavra está acima das evidências?

Assédio sexual

Oito modelos acusam de assédio sexual dois sócios da editora que publica a revista "Playboy" no Brasil, a PBB Entertainment. Os empresários André Luís Sanseverino e Marcos Aurélio de Abreu Rodrigues e Silva teriam prometido oportunidades de trabalho, fama e sucesso em troca de fotos nuas e sexo. É o que conta a reportagem do Fantástico do domingo passado. Os casos de assédio sexual ganham amplitude e visibilidade, graças à coragem de mulheres que sobem ao patamar da igualdade de gêneros e decidem denunciar o machismo que ainda impera em nossa cultura. Sanseverino já fizera trabalhos como fotógrafo para a "Playboy" e Marcos Aurélio é dono de uma empresa de recursos humanos. Há muito lobo por aí disfarçado em pele de ovelha.

Greve geral?

Há uma greve geral marcada para depois de amanhã. Os organizadores são os mesmos: CUT, mais uma ou outra central sindical, estudantes profissionais da UNE, alguns quadros de uma ou outra organização social, MST e MTST. Com o apoio de meia dúzia de gatos pingados do PSOL e a militância da salsicha, sempre ela a bagunçar o coreto das ruas. Não se sente um animus animandi a liderar o processo. O que quer essa turma do barulho? Puxar o cabo de guerra para as trevas do passado. Ou seja, é contra as reformas que o governo está liderando, necessárias para viabilizar os dias de amanhã.

Que Dom Jaime, hein?

Este consultor recebe um áudio, onde o arcebispo de Natal, de nome D. Jaime, prega a adesão à greve do dia 28. Conclama seu rebanho a fazer fileiras pela greve. E pinça algumas frases bíblicas para adoçar seu caldeirão cheio de palavras pronunciadas com fervor. Do meu bornal de ex-seminarista, despacho uma lembrancinha ao arcebispo, lembrando outro D. Jaime, de sobrenome de Barros Câmara, primeiro reitor do meu querido Seminário Santa Terezinha, em Mossoró/RN: "Reddite Caesari quod est Caesaris, et Deo quod est Dei". Mateus 22.21 21: Então Jesus lhes disse: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Jaime, caríssimo, cuidado com a pregação cutista.

E os 98 políticos nomeados?

E para onde irão os 98 políticos arrolados nos processos que estão com o ministro Edson Fachin? Ficarão na arquibancada vendo o jogo ser disputado. Muitos escaparão pelos furos do funil. Ou seja, deverão escapar porque são denunciados por envolvimento com caixa dois. Desde 2006, ninguém foi condenado por receber recursos por meio desta modalidade. Muitos casos serão arquivados por falta de provas. E, depois de longa travessia nos corredores do Judiciário, uns poucos deverão ser condenados. É a realidade em que se assenta nossa Justiça.

País mais asséptico

Mas o país sairá mais asséptico de todas as operações envolvendo corrupção desde o mensalão. Um novo ciclo descortinará horizontes mais claros, menos turbulentos. Não teremos uma renovação radical, como se deseja. Mas, pouco a pouco os mapas políticos ganharão perfis mais sérios e comprometidos com as reais demandas das comunidades. Em todos os espaços, até nos fundões do território.

Democracia repartida

Há um fenômeno que merece destaque na atualidade: o despertar da consciência cívica. O cidadão sente-se estimulado a usar a arma do voto para combater a bandidagem que impregna razoável parcela da esfera política. Novos núcleos de poder se instalam aqui e alhures, a denotar o nascimento de uma democracia suplementar, exercida pela miríade de entidades que aglutinam núcleos e grupos. Trata-se de um ganho de nosso sistema democrático.

Passado

"Que o passado esteja diante de nós, vá lá... Mas o passado adiante de nós, sai pra lá". A expressão artística é do poeta Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF.

O acordado sobre o legislado

Do economista José Márcio Camargo: "o que ficar acertado entre trabalhadores e sindicatos vai se sobrepor à legislação"; este será o eixo da proposta de reforma trabalhista. Afinal quem define quanto custa um trabalhador é a empresa.

Valores em ascensão

Os novos tempos acolhem um conjunto de valores, do tipo:

- a verdade - a mistificação que tem sido a tônica da política passa a dar lugar à verdade, aos fatos verídicos. Está esgotado o ciclo do engodo, da mentira, dos falsos profetas.

- mais ação, menos discurso - o cidadão quer ver ação e não mais ouvir lorota.

- gestão de resultados - a gestão pública será acompanhada de maneira mais atenta. As promessas de campanha serão cobradas pela mídia e atentamente acompanhadas pelas massas eleitorais.

- defesa real e não artifício - os trabalhadores passarão a exigir de suas entidades sindicais defesas mais consistentes de seus direitos e menos artifício, como sorteios, premiações em eventos, lorotas que têm inspirado o peleguismo sindical.

- proximidade - os políticos deverão chegar mais perto de suas bases. As comunidades desejam acompanhar mais de perto as administrações municipais. A clássica distância entre o político e o eleitor - só diminuída em ciclos eleitorais - dará lugar a maior proximidade.

- qualidade de serviços - as administrações devem trabalhar pela melhoria da qualidade dos serviços públicos, prioridade número um entre as demandas sociais.

Confiar na Justiça

"Espera-se que uma herança de séculos, a construção de independência das Cortes de Justiça, não seja desprezada por nossos representantes eleitos. Compreende-se a angústia do momento com a divulgação de tantos casos de corrupção. Mas deve-se confiar na atuação da Justiça" (Sérgio Moro em O Globo, de ontem.)

Pontos para reflexão

Ponto um: nos termos do parágrafo único do artigo 1.º da Constituição, "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".

Ponto dois: nos termos dos artigos 45 e 46 da Constituição Federal, os deputados Federais representam o povo e os senadores representam os Estados e o Distrito Federal.

Ponto três: os deputados são eleitos pelo sistema proporcional e os senadores, pelo sistema majoritário.

Ponto quatro: se o povo vota em um candidato e este, com sua bagagem de votos, leva para o Parlamento mais dois ou três de contrabando, esses excedentes ferem o princípio constitucional alinhavado no primeiro item.

Ponto cinco: a representação popular, para ganhar respeito e legitimidade, deve se submeter a uma radiografia moral a fim de se conformar aos ditames constitucionais.

Ponto seis: o exercício do poder em nome do povo é tese ancorada na hipótese de escolha dos eleitos de acordo com o preenchimento das vagas que cabem a cada Estado.

Ponto sete: essa hipótese abriga o voto majoritário, que, adotado na escolha dos representantes do povo, acabaria com a excrescência gerada por coligações proporcionais, pela qual o eleitor vota em um candidato e, alheio à sua vontade, elege mais um, dois ou até mais de três.