COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Porandubas Políticas >
  4. Porandubas nº 125

Porandubas nº 125

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Atualizado às 08:16

IMPACTO ABSORVIDO

A essa altura, pode-se concluir que a morte da CPMF não teve muito choro. No velório, o que dá para ver é muita vela. Vela de parlamentares que rezam para que a faca do Executivo sobre o orçamento de 2008 lhes poupe as emendas. A montanha de emendas soma quase R$ 5 bilhões. A campanha municipal do próximo ano poderá ter resultados bem diferentes, caso os prefeitos que são candidatos à reeleição não ganhem a grana prometida aos projetos estabelecidos. A pressão sobre o Executivo apenas começa.

O VESTIBULAR DE GARIBALDI

O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) passou com louvor, segundo a revista Veja, no vestibular para a presidência do Senado. A sessão que derrubou a CPMF foi uma das mais contundentes da história recente da Câmara Alta. O senador exibiu autoridade, independência e sensibilidade na condução dos trabalhos.

INDEPENDÊNCIA E TRANSPARÊNCIA

Ex-deputado estadual, ex-prefeito de Natal, ex-governador do Rio Grande do Norte, exercendo o mandato de senador pela segunda vez, Garibaldi é uma figura afável, educada e simples. Sua sinceridade causa até surpresas. Com a bagagem política que acumula, ele diz à Coluna: "Vou agir com independência, transparência e respeito às normas da Casa; a minha meta central é resgatar a imagem corroída do Senado".

MANTEGA BOQUIRROTO

O ministro Guido Mantega consolida a fama de boquirroto. No momento em que as camadas tectônicas do terremoto da CPMF se ajustam, abrindo horizontes de calmaria, eis que o ministro da Fazenda reinicia a polêmica com o anúncio de uma "nova CPMF". Falta de sensibilidade. Poderia ter feito uma convocação, sob a moldura da modéstia, para que o Parlamento pudesse reabrir as discussões sobre uma nova fonte de recursos para a saúde. Não pode é falar de nova CPMF. Nesse momento, a sociedade está alerta e mobilizada. O puxão de orelhas de Lula esquentou as orelhas amantegadas.

O DESAFIO DE CAPPIO

Não se nega que o bispo Luiz Flávio Cappio, 61, é um homem de grande força moral, como reconhece o senador Eduardo Suplicy, em conversa com a Coluna. Mas resistirá aos apelos do Vaticano para que encerre a greve de fome ? Será que espera a transformação do apelo em ordem ? A greve de Cappio pode ser, até, compreensível, mas não é consoante com os princípios cristãos. O simbolismo que denota extravasa o bom senso. A continuar intransigente, irá de encontro à morte. Nesse caso, um suicídio, algo que confronta a fé cristã. É o que procuro transmitir ao senador Suplicy, que foi visitar o bispo. Pensativo, promete : "Vou refletir sobre essa questão".

JOGO EMPATADO

Dom Cappio se mostrou contrariado com a argumentação do ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social. O ministro afirmara que o bispo é alheio à situação do Rio São Francisco e dos movimentos sociais. Pode ter sido um exagero, até porque Cappio não é alheio, habitante da região que é intérprete das populações ribeirinhas. Poderia ter dito que o rio serve a outros Estados, além da Bahia e Sergipe. Agora, Patrus Ananias é o mais religioso entre os ministros. Católico praticante, é muito ligado aos movimentos sociais. Nesse ponto, o bispo erra. O jogo deu empate: um a um.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA (POR ENQUANTO)

O bispo irá até o fim com sua greve de fome ? Qual o desfecho do episódio para o governo Lula ? Como todas as coisas nesse país são jogadas no tabuleiro do "perde e ganha", a pergunta emerge: haverá vencedores e perdedores ? A conferir.

BERZOINI REINA

O deputado Ricardo Berzoini, reeleito presidente do PT, se compromete com a meta de fortalecimento do partido e tem em mira a eleição da bacia de prefeitos em 2008. Está certo em defender a meta de consolidar a base partidária, reforçando os núcleos municipais. Fará um jornal de massa com alta tiragem. Já Jilmar Tatto, o perdedor, acenou com as metas de renovação e mudanças, mas seu compromisso maior era com a candidatura própria à presidência da República. Que vai haver, ainda, confrontos sobre essa questão, ah, isso vai.

MARTA SAI OU NÃO SAI ?

Marta Suplicy está encostando em Geraldo Alckmin, segundo as pesquisas de intenção de voto para prefeito de São Paulo. Significa intuir que o "relaxa e goza" foi esquecido ? Não. Por ocasião da campanha, se ela for candidata, o refrão aparecerá como um Exocet contra sua candidatura. Marta é a única pessoa do PT em condições de disputar palmo a palmo a candidatura. Geraldo, por sua vez, não tem saída. Se esperar até 2010 para se candidatar ao governo do Estado, passará uma temporada no limbo. Marta será impelida a aceitar porque a pressão será insuportável.

KASSAB, INSENSÍVEL

O prefeito Gilberto Kassab plantou a auto-suficiência na cachola e agora começa a colher tempestades. A cidade é uma buraqueira só. Obras por todos os lados. Ocorre que o alargamento de ruas centrais nessa época do ano é um tiro no pé. Nunca vi tanto congestionamento em meus 40 anos de São Paulo como hoje. Parcela desse Produto Paulistano Bruto de Infelicidade (PPBInf) aparece na forma de xingamentos, angústias, insatisfações, indignação, stress. Que se voltam contra o DEM (ocrata ?) Kassab. Essa é a razão para o aumento da desaprovação do prefeito atestado pela última pesquisa Datafolha. Nesse item, aumentou 10 pontos.

EVO PRESTIGIADO

No momento em que a Bolívia se reparte, com lutas contundentes entre o Governo e as oposições, Lula oferece o cobertor da Petrobras para Evo Morales. A empresa investirá quase US$ 1 bilhão na Bolívia. Será que a Petrobras se cercou de garantias ? Precisamos, claro, do gás boliviano. Mas cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

JUCÁ INVESTIGADO

O líder do Governo no Senado, Romero Jucá, começa entrar no inferno astral. O Supremo Tribunal Federal abriu inquérito para investigar o senador pela suspeita de compra de votos na campanha de 2002. A denúncia foi feita pelo Ministério Público de Roraima. No ultimo dia 7, o ministro Celso de Mello, relator de outros inquéritos contra Jucá, aceitou o pedido e determinou diligências. Celso de Mello é um dos mais qualificados ministros do STF.

VIRGÍLIO, VOZ PODEROSA

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) tem sido a voz coerente do tucanato. Pode-se, até, não gostar da maneira com que defende suas idéias. Trata-se, porém, de um perfil destemido. No episódio em que enfrentou o senador Pedro Simon, valeu-se do princípio da coerência. Simon passou os últimos tempos verberando contra a CPMF. No último instante, decidiu ser o comandante da luta pela aprovação. Arthur cumpriu o dever de chamar sua atenção. Simon - apesar de história gloriosa no PMDB - tem também seus pecadilhos.

AGRIPINO, LÍDER DAS OPOSIÇÕES

Mas é o senador José Agripino (DEM-RN) quem se apresenta como o líder maior das oposições. E a razão é muito clara: enquanto os tucanos se apresentam divididos, o DEM está plenamente unido. Agripino, como líder do DEM no Senado, fala por todo o partido. Já Arthur, por exemplo, não tem o endosso dos governadores José Serra e Aécio Neves. Pelo menos em matéria de CPMF.

LULA TRANQUILO

O mais tranqüilo perfil do governo, ante a morte da CPMF, é o do presidente Lula. "O mundo não acabou", avisa. Ora, há muita gordura a se cortar. Há alternativas para aumento de receitas, sem necessidade de aprovação pelo Congresso. Lula continua a fatiar a carne seca. E tem a aprovação de 51% da população.

REGISTRO

Deixa o cenário da vida o Governador Ottomar Pinto - brigadeiro, engenheiro, médico, advogado e economista - um homem plural, inclusive, um perfil intensamente populista. Quem o conheceu, como este colunista, sabe que era um homem de grande coração e de grande domínio na arte da política. Era um grande defensor da questão amazônica, significando a defesa intransigente da soberania brasileira. Destemido, desafiava tudo e todos para defender o seu ideário. Plantou sementes de progresso em Roraima.

CONSELHO AO MINISTRO GUIDO MANTEGA

Esta Coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos aos políticos e governantes. Na passada, o espaço foi dedicado aos dirigentes da TV Pública. Hoje volta sua atenção ao ministro Guido Mantega:

1) Seja mais sensível às demandas sociais.

2) Fale menos e aja mais.

3) Cuidado: aumentar a carga tributária é dar um tiro no pé do governo.

_________________