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Entrevista

Advogados têm medo de tecnologia?

Tiago Fachini, da ProJuris Software Jurídico, entrevista Gustavo Rocha.

Da Redação

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Atualizado às 07:12

A tecnologia veio para ficar, ninguém há de dizer ao contrário. Alguns setores se adaptaram a ela mais depressa que outros. Alguns setores não funcionam mais sem a tecnologia. Mas e quanto ao direito, como é sua relação com a tecnologia? O advogado tem medo de inovação?

Gustavo Rocha é consultor de Gestão, Tecnologia e Marketing Estratégicos para advogados e respondeu a essas e outras perguntas feitas por Tiago Fachini, da ProJuris Software Jurídico, investigando a relação entre advogados e tecnologia, como também seus motivadores.

ProJuris: O advogado tem medo da tecnologia?

Gustavo Rocha: Não sei se a palavra certa seria medo, mas o que há de fato é um certo receio em relação a o que a tecnologia poderia gerar. Isso acontece porque, de maneira geral, tanto escritórios de advocacia, quanto departamentos jurídicos, se organizam naquilo que é mais empírico. Muitas vezes, não há um planejamento, não há uma aplicação da gestão em um primeiro momento. A organização vai se dando conforme a demanda vai surgindo. Quando não há essa atenção com inovação, esses advogados se atém ao modo como a advocacia era feita há dez, vinte anos atrás.

Você percebe muitos advogados investindo em capacitação em Excel para um estagiário ou secretário, e isso é um erro duplo, e muitas vezes gerado por um descaso com a inovação. Em primeiro lugar, o Excel é uma ótima ferramenta, sim, porém para banco de dados somente. Em segundo lugar, pensar na tecnologia como uma atribuição de um terceiro, este terceiro terá um real conhecimento de como o escritório se comunica com o judiciário.

Essa foi justamente a grande mudança no que diz respeito a processos eletrônicos nos últimos anos: a forma como o advogado se comunica com o judiciário. Sempre reforço isso em minhas conversas com advogados. Se a pessoa que sabe manipular aquele mecanismo não é você, você está se tornando um profissional despreparado.

ProJuris: Como fatores como segurança e cultura influenciam este distanciamento?

Gustavo Rocha: Cultura e segurança, estão intimamente ligadas. Hoje temos um advogado que vem do papel, que vem da agendinha e da pasta física. Em alguns lugares no Brasil, temos uma mudança que já aconteceu, não que vai acontecer. Hoje, 100% do trabalhista brasileiro é eletrônico. O federal está muito próximo disso. O estadual, no entanto, ainda está longe disso. Algumas grandes praças já passaram por essas mudanças, enquanto outras, tão grandes quanto, ainda estão no meio do caminho.

O que o advogado precisa entender é: o digital é um caminho sem volta. Muito advogado argumenta que consegue realizar seu trabalho com a agenda de papel. Tudo bem. O que ele não percebe é o tempo que ele desperdiça ao utilizar a agenda de papel.

Ouça agora: JurisCast #7 - Inteligência Artificial, com Gustavo Rocha


Em relação à segurança: só há uma maneira de se estar 100% seguro, que é não utilizar a Internet. Acredito que nenhum advogado veja esse horizonte para o seu negócio. No entanto, essa insegurança pode ser minimizada. É papel do profissional de TI estruturar um sistema que proteja o advogado, um software seguro, com criptografia, certificação HTTPS, Firewell, enfim, o advogado pode e deve confiar nessa estrutura preparada, o advogado pode, sim, ficar tranquilo quanto à segurança. E tomando cuidados básicos, como criar senhas complexas e trocá-la a cada troca de estagiário ou secretário, ele ajuda a si mesmo a proteger suas informações.

Em relação à cultura, ainda vai levar um certo tempo. A cultura do papel ainda é muito forte. No entanto, mesmo escritórios pequenos já estão compreendendo que, com a tecnologia a favor deles, tudo é muito mais prático.

ProJuris: E quanto à formação acadêmica?

Gustavo Rocha: Na academia, há uma forte tendência de mudança. As faculdades já estão começando a se adaptar. Percebo isso porque leciono disciplinas como marketing, tecnologia e gestão, em cursos de pós-graduação, em cursos de extensão. Isso era impensável há alguns anos atrás, e eu tenho projetos para levar essa mentalidade para as Universidades a partir de 2018.

Então, estamos, na prática, em um processo de preparação dos alunos. Tenho observado um trabalho da OAB, em alguns estados, com cursos gratuitos voltados à essa adaptação do advogado para o tempo em que vive. Acredito que essa mudança, a longo prazo, ainda terá muito mercado para explorar.

A tecnologia no Direito não é algo novo. Software jurídico, armazenamento de todas as informações relevantes de seu escritório, de seu cliente, de seu departamento jurídico em nuvem não é algo novo. Agora, a questão é termos advogados preparados para aproveitar tudo que a tecnologia pode lhe oferecer, e um mercado adaptado para abraçar essas inovações e permitir sua continuidade.

ProJuris: A tecnologia pode ser um diferencial competitivo na advocacia?

Gustavo Rocha: Em primeiro lugar, vamos entender o que é advogar. Infelizmente, muitas faculdades de Direito somente ensinam o advogado a peticionar. Na verdade, peticionar é o passivo da advocacia. É o problema do negócio do advogado. O que faz a advocacia é o cliente, é a sociedade.

O advogado deve se perguntar: o que estou gerindo em meu negócio é um passivo? Estou cuidando bem do ativo do meu negócio? Que é captar clientes e diferenciar meu trabalho de forma mais ordeira, para que ele não me tome tempo naquilo que é o passivo, ou seja, naquilo que me custa? Mil processos não significa que você seja um bom advogado. Significa, sim, que você tem mil problemas a resolver. O que te faz advogado, neste aspecto, é identificar e gerir o que você fará com estes mil processos para que eles se tornem rentabilidade para o seu negócio e como você fará para satisfazer a expectativa do cliente.

Dessa forma, a tecnologia e seu bom uso pode sim ser um diferencial competitivo. O advogado deve pensar em seu software como uma ferramenta para ganhar tempo, gerir melhor o seu negócio para que não tenha prejuízos, e a única forma de não ter prejuízos em um negócio é sabendo o quanto ele me custa. É conhecendo o tempo que gasto. É sabendo se o número de pessoas que tenho na minha equipe é suficiente. Então, com certeza, a tecnologia é um diferencial competitivo para advogados. Uma boa gestão leva a negócios rentáveis.

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