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Dr. José Maria da Costa, autor da coluna Gramatigalhas, é destaque de reportagem publicada na Revista Revide

Apaixonado pelas palavras, o advogado cursou Direito pela falta da Faculdade de Letras em sua cidade.

Da Redação

sexta-feira, 7 de março de 2008

Atualizado às 08:51


Entrevista

O ilustre autor da coluna Gramatigalhas, Dr. José Maria da Costa, da Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados, é destaque de reportagem publicada na Revista Revide de fevereiro. Confira abaixo na íntegra.

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A LEI E A LÍNGUA PORTUGUESA

Estas são as paixões do juiz aposentado, ex-professor de português e atual advogado, José Maria da Costa

Nascido em uma família simples, José Maria da Costa demonstrava sua vocação desde a infância: era um apaixonado pelas palavras. Mesmo trabalhando em serviços dos mais variados e que não exigiam o domínio da língua como ferramenta indispensável de trabalho, ele mantinha o sonho vivo. Na hora de escolher a profissão, não tinha dúvida de que queria cursar Letras, mas não havia nenhuma faculdade que oferecesse o curso na cidade. O Direito surgiu sem grandes pretensões, como uma segunda opção. "Não havia muitos cursos na cidade naquela época. O Direito era um dos poucos oferecidos para quem trabalhava durante o dia e precisava estudar a noite", justificou. O interesse pela profissão surgiu gradativamente, conforme foi conhecendo um pouco mais sobre as leis e as formas de aplicá-las no dia-a-dia durante a faculdade e o trabalho em um escritório de advocacia.

O gosto pelas palavras também falava alto. Juntamente com os estudos para se tornar um advogado, José Maria conseguiu se matricular na primeira Faculdade de Letras de Ribeirão Preto. A dupla jornada, segundo ele, era um esforço que valia a pena. Assim que se formou, começou a lecionar a disciplina em cursos pré-vestibulares. "Era uma rotina intensa e foi uma experiência gratificante. Fui professor durante 20 anos", comenta o advogado.

Depois de alguns anos atuando nas duas áreas, José Maria optou pela carreira de juiz e prestou o Concurso de Ingresso à Magistratura paulista, onde concorreu com aproximadamente dois mil candidatos de todo o país e foi aprovado em primeiro lugar.

Durante sua atuação como juiz, passou por diversas cidades, entre elas Santa Rosa do Viterbo, Sertãozinho, São Paulo e Ribeirão Preto, onde se aposentou em 1998. Foram 11 anos dedicados a uma rotina que exigia domínio completo das leis e capacidade de decisão rápida e consciente. "Não é fácil decidir. No tribunal, aparecem casos complicados, que envolvem a vida, a liberdade ou a alimentação de alguém, por exemplo. Não podemos nos envolver emocionalmente, nem atender aos apelos populares. O juiz tem que aplicar a lei, tentando ser justo, ter uma boa formação pessoal e conhecimento das regras. Analisar bem cada argumento usado no processo ajuda na hora de bater o martelo", explica.

Para ele, um dos quesitos mais importantes para os que se envolvem no mundo das leis é a constante reciclagem profissional. "Em um meio tão dinâmico e cheio de regras, um detalhe pode fazer a diferença e mudar por completo a decisão final. Por isso, a atualização é imprescindível", aconselha.

José Maria esteve à frente de inúmeros casos durante a sua carreira, desde processos corriqueiros, como pensão familiar, até julgamentos que geraram grande repercussão. Foi o que aconteceu quando ele teve que decidir quanto à proibição da queimada da cana antes da colheita, em 1992. O apelo popular era grande para que o juiz aceitasse o pedido, mas não foi o que aconteceu. "Não havia motivos jurídicos para a proibição. Foram muitas pessoas contra, algumas à favor, mas eu sei, até hoje, que tomei a decisão certa diante dos fatos que tinha em mãos", esclarece o ex-juiz. A sentença dada por ele foi confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e pelo Superior Tribunal de Justiça, e vale até hoje.

A área desperta o fascínio de muitos leigos, que se interessam em saber sobre as peculiaridades que envolvem casos polêmicos e como a Justiça esclarece os fatos para chegar ao veredicto. Atentos a isso, os estúdios produzem filmes e séries para a TV onde abordam o assunto. Mas, segundo José Maria, grande parte dos roteiros são falhos e mostram inverdades sobre o universo jurídico. "Esses episódios são apenas dramatizações, que servem para alimentar a curiosidade do público. Não se pode acreditar em tudo o que eles exibem", salienta.

Casos mais marcantes também despertam a atenção da imprensa, que nem sempre desenvolve um relacionamento amistoso com os envolvidos no julgamento. "Não tive nenhum desentendimento sério com a imprensa, mas também não abro espaço para isso. Temos um relacionamento cordial. Eles precisam saber mais sobre as regras e terminologias do Direito, pois costumeiramente passam informações de maneira errada", indica. O conhecimento gramatical permaneceu vivo durante a carreira jurídica de José Maria. Para ele, era um exercício diário ler várias páginas de declarações dos advogados que pretendiam, com suas palavras, passar um entendimento claro e preciso para obter os resultados esperados no tribunal. "Alguns textos eram bons. Outros cometiam alguns erros. Percebi que as falhas eram semelhantes na maioria dos casos e, quando ficava em dúvida sobre algum termo, concordância ou grafia, anotava o conteúdo em um papel, apenas por curiosidade", explica José Maria. Esse fato se repetiu durante anos e, quando o juiz se aposentou, reuniu todo esse material e resolveu publicá-lo. Foram três anos apurando as mais de mil anotações.

O "Manual de redação profissional" foi um projeto pioneiro, onde diversos verbetes são explicados de uma maneira simples, destinado a todos os profissionais que buscam aprimorar sua comunicação, através da fala e da escrita. "É imprescindível para um trabalhador dominar a Língua Portuguesa. Hoje em dia, a capacidade de se fazer entender é fundamental para se manter no mercado e isso só é possível se soubermos usar as palavras corretas em um contexto preciso", indica o advogado. Logo após seu lançamento, em 2002, o manual teve uma grande procura e já se encontra em sua 3ª edição, atualizada com 300 verbetes a mais do que o primeiro livro.

Depois de conseguir reconhecimento com sua obra voltada para a Língua Portuguesa, José Maria resolveu se envolver em um novo projeto, ainda inédito em sua tão polivalente carreira: a poesia. "Como professor, eu tinha conhecimento da estrutura de um poema. Comecei montando alguns versos e usei como base os versículos da Bíblia. Mostrei o poema para um grande amigo meu, Marcos Landell, que é um grande compositor. Ele fez uma melodia para os meus versos, o que me estimulou a produzir mais", revela José Maria, que depois de nove composições, lançou o CD Mesa Rica, onde também atua como cantor. "Não sou um cantor nato, mas acho que o propósito desse projeto vale a pena. Ensinamentos preciosos podem ser extraídos da Bíblia e, através da música, conseguimos divulgar essa sabedoria com maior alcance e profundidade. O segundo volume já está a caminho", adianta.

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