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Política & Economia NA REAL n° 111

terça-feira, 27 de julho de 2010

Atualizado em 26 de julho de 2010 16:59

BC, nada de novo

O COPOM reduziu o ritmo de elevação da Selic. O aumento de 0,5%, elevando-a para 10,75%, não contrariou as expectativas, ao contrário, confirmou-as. Os últimos e moderados números de crescimento reforçaram a convicção de que o BC será mais leve na atual campanha de subida dos juros. Todavia, este é apenas um detalhe em meio à percepção de que, diante de elevados gastos públicos e atividade forte, a autoridade monetária vai continuar a protagonizar seu papel de "guardiã da moeda". Os juros estão em alta e vão continuar subindo. O ritmo mudou, mas o samba-enredo é o mesmo. Até o final do mandato de Lula.

A política monetária vai mudar

Se no curto prazo a política do BC não muda, há razões de sobra para acreditarmos que a partir do próximo mandato, seja quem for o presidente, vai sofrer alterações. A independência do BC é incômoda para os dois principais candidatos. Eles consideram a política monetária como parte integrante de toda política econômica (o que de fato é), mas têm visões que pregam que a harmonização deve ser feita em um âmbito no qual a Fazenda e o presidente possam defini-la. Ora, isto destoa do atual cenário do BC. Isto não significa necessariamente que haverá irresponsabilidade na condução da política de juros, mas a segurança de um BC mais autônomo deve ser perdida. Note-se que o caminho para tanto está mais pavimentado de vez que a constituição atual do COPOM é mais intestina ao próprio governo e isto facilita a mudança desejada por Serra ou Dilma.

A política fiscal

Se a política monetária será mais independente no próximo mandato, a política fiscal assumirá um papel mais substantivo. Disciplinar os gastos públicos e aumentar a eficiência dos investimentos estatais ganhará papel crucial para a manutenção da estabilidade de preços. Ora, aqui há diferenças e semelhanças entre os candidatos de toda a ordem. Destacamos apenas uma : Serra é um fiscalista convicto, conhece a máquina pública e exerce a coerção na execução dos gastos. Todavia, é um intervencionista nos moldes da CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. O seu intervencionismo é relativamente flexível frente às regras de relacionamento com o setor privado, estimulando este último a participar dos investimentos. Já Dilma acredita menos em disciplina fiscal de curto prazo e mais nos resultados futuros dos investimentos públicos e seus efeitos sobre o setor privado. Ou seja, para ela o Estado é necessariamente uma locomotiva que corrige a ausência de investimentos privados. Assim, é menos propensa em ceder nas regras de relacionamento com o setor privado. Parece uma diferença sutil como alguns órgãos de imprensa - local e internacional - informaram. Todavia, não é nada sutil.

Cenário confuso

De um lado, resultados corporativos estimulantes da crença de que a economia mundial vai crescer, de outro números macroeconômicos sofríveis. Assim está a conjuntura nos EUA e na Europa. Uma confusão mental e tanto, para os analistas. Com efeito, somente no próximo trimestre do ano é que teremos mais luzes para iluminar as "bolas de cristais". Até lá, tanto o mercado quanto a economia vão oscilar muito e, na média, ficar onde estão.

Radar NA REAL

16/7/10  

TENDÊNCIA

SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA alta alta
- Pós-Fixados NA alta alta
Câmbio ²
- EURO 1,2946 estável estável
- REAL 1,7643 baixa baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 66.322,99 estável/baixa estável/baixa
- S&P 500 1.093,67 baixa baixa
- NASDAQ 2.245,89 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

As pesquisas e suas confusões

Mesmos os analistas comprometidos com uma ou outra das principais candidaturas, possuidores lá de informações privilegiadas das pesquisas reservadas que as duas campanhas mandam fazer, estão confusos com a divergência de números nos últimos levantamentos do Vox Populi e do DataFolha. Algo não está batendo. As diferenças de metodologia - Vox pesquisa em casa, DataFolha nas ruas - e do tamanho da amostragem - pouco mais de 3 mil do primeiro, mais de dez mil do segundo - não explicam por si sós a vantagem de percentuais para Dilma num e de um p.p. para Serra no outro. Descarta-se, pela boa imagem dos dois institutos, qualquer hipótese de manipulação ou erro grosseiro. Mesmo um encadeamento de perguntas, ainda que involuntário, que possa induzir respostas favoráveis a um ou outro concorrente, não justifica tal discrepância. Muitas hipóteses foram levantadas por especialistas, jornalistas e palpiteiros, nenhuma conclusiva. Como não pode ser coisa do Sobrenatural de Almeida (homenagem a Nelson Rodrigues), nem artimanhas do Saci-Pererê ou do Boto, há que perscrutar mais. O Ibope vem aí até o fim de semana para talvez dar mais luz às dúvidas. Ou, para no melhor estilo Chacrinha, confundir ainda mais.

Versão mineira para pesquisas

Um experiente político mineiro, desses capazes de ouvir diretamente o sopro das urnas, sem precisar do auxílio da ciência estatística, e que por mineirismo no momento prefere o anonimato para não se comprometer, diz que a charada pode ser explicada pelo fato de nem a eleição nem os candidatos terem "pegado". Esperava-se que o eleitor, saído da Copa, mergulharia na campanha. Está preferindo outros divertimentos. Cinquenta por cento deles para o DataFolha e 45% para o Vox Populi ainda não definiram em quem votar. O campo está aberto, o que aumenta a relevância do horário obrigatório no rádio e na televisão e a responsabilidade dos marqueteiros.

Na bolsa de apostas

Nos meios mais bem informados, aqueles que já se ligaram nas eleições, a bolsa de apostas tende mais na ocasião para Dilma, mesmo entre os potenciais eleitores de José Serra. As razões para o palpite : a boa economia, Lula e a incrível falta de "pegada", de uma ideia forte, da campanha tucana. Ninguém, porém, esta jogando todas as fichas nas possibilidades da governista.

Os donos do mundo

Pelo que se pode inferir da longa entrevista de Michel Temer ao jornal Valor Econômico, o programa de governo de Dilma, caso eleita, será o do PMDB, ou mais próximo dele do que do PT que a candidata demonizou ao trocá-lo do TSE em menos de 12 horas. E quem dará as cartas neste governo futuro será quem fizer a maior bancada, isto é, se não sobrevier um desastre, o PMDB. Por trás de muitas ressalvas, Temer emergiu da entrevista já vestido com a faixa de primeiro-ministro ad hoc da provável gestão Dilma. É por essas e tantas outras que o PT está reforçando o cordão sanitário em torno de sua candidata e o tal conselho político da campanha da petista, com representantes de todos os partidos aliados não passa de um bibelô de penteadeira - enfeite de gosto duvidoso e inútil. Quem decide agora é Lula, Dilma, Palocci e José Dirceu. O restante é figuração.

A dona do mundo

Registra-se nos arrabaldes dilmistas cada vez mais irritação com conversas do tipo de que ela será submetida à vontade de Lula, à tutela de grão-petistas redivivos e de peemedebistas açodados. Passada a eleição, diz-se, ela vai mostrar de fato quem é : a Dilma de sempre, como naquela foto premonitória publicada pelo Estadão esta semana, com jeito crispado e dedo em riste. Uma seria persona eleitoral, que se deixa moldar. Outra seria a persona real. Para mostrar autonomia, ela pode tentar mudar muito mais que se imagina se for eleita. Daí a inquietação geral em Brasília, mesmo entre os adeptos da candidatura oficial, convictos de que ela já venceu.

Pergunta inocente

De um editorial do Estadão a respeito da desenvoltura financiadora do BNDES : "Trata-se de criar campeões nacionais ou apaniguados muito especiais ?"

Ajuste de linguagem

Por falar em BNDES, as autoridades econômicas precisam combinar o que vão dizer em público. O presidente do BNDES disse, viva voz, que era muito difícil calcular os custos para o Tesouro Nacional da operação "contabilidade de padaria" em que o governo toma dinheiro ao preço da taxa Selic (R$ 180 bilhões em duas operações, no ano passado e neste ano) e repassa ao banco para emprestar a 6% ou até menos. Dois dias depois, talvez com a ajuda de um super-computador, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apareceu com um cálculo quase preciso : custa ao contribuinte, entre R$ 5 bilhões e R$ 5,5 bilhões anuais.

Apetite pantagruélico

Tem um gosto refinado o BNDES; ficou com quase 100% dos R$ 3,746 bilhões em ações lançados pelo frigorífico JBS e admite adquirir os R$ 2,5 bilhões também em debêntures que o frigorífico Marfrig anunciou que vai emitir caso não apareçam investidores privados interessados.

Torcida no mundo da teles

Em Brasília e num dos vértices do antigo "triângulo das bermudas estatal" no Centro do Rio, região onde se situam a Vale, a Petrobras e o BNDES, é imensa a torcida para que o negócio da compra da Vivo pela Telefônica se concretize o mais rápido possível e os portugueses da Portugal Telecom fiquem com o caixa gordo para desembarcarem na Oi. Isto evitaria desembolsos oficias e para-oficiais para a ex-quase multinacional brasileira de telecomunicações. O maior obstáculo, segundo gente do ramo, estaria na questão do controle acionário da Oi, o que estaria levando a certo desgaste da imagem de dois big bosses queridinhos na capital, generosos investidores eleitorais. Com as arcas recheadas e livres de um punhado de processos, Daniel Dantas gargalha nas arquibancadas.

Dinheiro e política

Faltando menos de dois meses para o "maior IPO do mundo" e a Petrobras ainda não explicou perfeitamente como vai proceder para vender algo como até US$ 80 bi de ações. Uma obrigação de transparência numa companhia com ações negociadas em bolsa no país e no estrangeiro e sob o controle acionário do governo. Há algo confuso nisto tudo. Pode ser apenas mera coincidência, mas as brigas pelo poder no seio oficial fazem circular, desde a semana passada, nomes de futuros presidentes da companhia. E na lista não há nada parecido com José Sérgio Gabrielli.