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Política & Economia NA REAL n° 172

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Atualizado em 3 de outubro de 2011 10:13

Dilma popular, políticas em xeque

Surpreendeu, causou ciúmes e desgosto o resultado da última pesquisa de opinião realizada pelo Ibope por encomenda da CNI na qual a popularidade da presidente Dilma subiu em relação aos números de julho e já é melhor que a de Lula. O próprio Planalto foi surpreendido e, embora tivesse suas pesquisas para consumo interno, não tinha segurança quanto as repercussões das histórias de corrupção na imagem da presidente e do governo. Causou ciúmes em quem se julga monopolista da popularidade no Brasil. Seus adeptos não passarão recibo. Porém, não comemoraram. 2014 é um horizonte que mais divide do que aproxima.

Já a oposição...

A popularidade da presidente produziu desgosto na oposição. Ela que apostava - e só apostava nisto ! - no desgaste do governo por causa da avalanche de ministros demitidos, descobriu que precisará sair em busca de novos discursos e ações se não quiser se tornar mais irrelevante do que já está hoje. Noves fora esta maravilha para os dilmistas, a pesquisa traz números preocupantes em relação às políticas oficiais. Dois pontos principais : o descontentamento com a política de saúde, sobre a qual o governo "tergiversa" e deixa se envolver numa discussão extemporânea sobre falta de recursos e as preocupações com a volta de inflação, em torno da qual o BC anda passivo. A lição é simples : não há governo popular no longo prazo com políticas que afetam a população e também geram apreensão. A "faxina" dá louros temporários. As políticas públicas cobram votos.

Economia e popularidade

Já analisamos nas colunas das últimas semanas a influência da crise externa sobre o Brasil. Bem como as preocupações com a inflação crescente. O dado mais incerto de qualquer análise, contudo, diz respeito aos efeitos que uma menor atividade econômica e maior inflação terão sobre a popularidade e se a presidente estará habilitada para trocar "popularidade no curto prazo por popularidade no longo prazo". Explicamos : necessitará de ajustes na política econômica expansionista ora em vigor. O emprego ficará mais raro e o poder de compra mais restrito. A presidente saberá operar este cenário sem olhar a toda hora para as pesquisas de opinião ?

Um meio argumento

Para justificar a necessidade de mais recursos para a área da saúde (agora, depois de uma "faxina", na expressão da presidente) o governo tem apresentado o gasto de outros países como exemplo de que vamos mal. Primeiro foi o ministro Aloizio Mercadante, e depois a própria Dilma, a dizer que a Argentina investe no setor, per capita, 47% mais que o Brasil e o Chile 18%. Falta completar e dizer que eles fazem isso com uma carga tributária bem mais baixa que a brasileira. De novo : é questão de prioridade e não simplesmente de recursos escassos.

Só faltou dizer o nome

Em evento promovido em SP pela revista "Exame", a presidente Dilma justificou o que já está sendo considerado uma "nova política econômica" e defendeu algumas medidas já adotadas por seu governo para isolar o Brasil da crise que se desenha no horizonte. Disse que o país não pode repetir erros cometidos na última débâcle econômica mundial em 2008. Deu aval à tese de que na ocasião o BC perdeu uma excelente oportunidade para começar a baixar os juros. Pequena lembrança : o presidente, em 2008, era o padrinho Lula. As últimas manifestações públicas da presidente, como esta, os discursos nos EUA e algumas atitudes em relação a partidos e aliados, indicam que seu governo está se afastando, tanto na política e na economia, do legado de Lula. Não há, nem deverá haver, rompimentos pessoais. Mas os propósitos já não são os mesmos.

Intrigas brasilienses

De um isento observador brasiliense : "Até pouco tempo Dilma tinha a caneta, mas Lula tinha a popularidade. Agora, pelo menos por um tempo, Dilma tem os dois. E isto vai fazer a diferença."

Cenário do mercado I

Tudo que sabemos até agora sobre a crise europeia mostra que os governos europeus ainda não se capacitaram, inclusive do ponto de vista político, para enfrentar o desemprego, a crise bancária e de crédito e a falta de investimento público e privado. Obama do outro lado do Atlântico tenta e não consegue. Os europeus, liderados por Angela Merkel e Sarkozy, não conseguem tentar. Neste contexto, a Grécia sofre pressões desumanas e os espanhois, italianos, portugueses, franceses, etc. fingem que têm capacidade de crédito. Triste sina do Velho Continente.

Cenário do mercado II

Se a coisa continuar do jeito que está, as possibilidades de um colapso financeiro como o de 2008 é elevadíssima. Se os governos europeus agirem com força, decisão e porte, o colapso se torna apenas uma crise, embora profunda. Este é o tamanho da aposta de quem está a correr riscos no mercado financeiro e de capital mundo afora. A volatilidade está elevada, mas os volumes de ativos negociados estão baixos na maioria dos segmentos de mercado. Sinal ruim. A preferência dos investidores ainda será de cautela. Depois pode ser de desespero ou alguma euforia momentânea, até que a crise começar a amainar.

Qual o tamanho do "resgate europeu" ?

Nouriel Roubini era um economista, até cinco anos atrás, considerado "pária" e "catastrofista" por seus pares e o tal do mercado. Quando veio a crise de 2008 virou uma espécie de "oráculo". Atualmente, afirma que a Europa precisa de US$ 2,7 trilhões para solucionar a crise de crédito por que passa. Não causa surpresa. Estudos internos do FMI e Banco Mundial mostram que a necessidade é essa mesma. A "caixa de surpresas" de Roubini não surpreende mais...

Ainda sobre a estratégia econômica de Dilma

Reduzir a taxa de juros não é apenas um desejo deste governo. É uma meta nacional. Já comentamos nesta coluna que a crise pode ser uma excelente oportunidade para que esta redução ocorra com maior adesão dos agentes econômicos. Todavia, o que temos agora é inflação para cima e real para baixo (mais inflação). Por que o governo se adiantou aos efeitos da crise ? Difícil compreender. Também é difícil imaginar quais os "dados" que o BC e a Fazenda têm e que o "mercado" desconhece. Ora, a leitura do "relatório de inflação", divulgado na semana passada pelo BC, neste ponto particular, não deixa segurança para ninguém. Pouco explica para que as expectativas dos agentes se alinhem com as do BC.

Wall Street sob protestos

Não é nada desprezível que os movimentos sociais dos EUA, no passado hiperativos, estejam novamente se mobilizando para protestar contra os bancos e as estruturas financeiras do país. Neste fim de semana passado, mais de 700 foram presos durante a tentativa de ocupação de Wall Street. De fato, a punição dos diretores das instituições financeiras que agiram irresponsavelmente antes da crise de 2008 foi bastante modesta frente aos estragos provocados às famílias de trabalhadores do país. Neste momento prévio à campanha presidencial do ano que vem, o retorno do ativismo antibancos nos EUA é um mau sinal para Obama. É ele, um democrata, que é mais lembrado como "fraco" no combate aos desvios de Wall Street. Os republicanos, quem diria!, hoje defendem a economia real...

Radar NA REAL

30/9/11   TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA queda estável
- Pós-Fixados NA queda estável
Câmbio ²
- EURO 1,3269 estável alta
- REAL 1,8882 baixa estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 52.324,44 baixa baixa
- S&P 500 1.131,42 baixa baixa
- NASDAQ 2.415,40 baixa baixa

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Constituinte, uma ideia infeliz

Diante das dificuldades que está encontrando para aprovar um remendo de reforma política a seu gosto e a gosto do PT, o ex-presidente Lula sugeriu a criação de uma Constituinte exclusiva, paralela ao Congresso, para discutir e votar o assunto. Nesta esteira, o prefeito Kassab, dono da mais nova legenda partidária brasileira, propôs uma Constituinte ainda mais ampla, para todas as reformas mais urgentes - a política, a previdenciária, a tributária... A proposta implica em ampla discussão jurídica e política, sobre questões como legalidade, legitimidade, oportunidade e mais tais. Mesmo sem esses obstáculos, é o que se pode chamar de uma sugestão inoportuna, ou popularmente, uma "ideia de jerico".

"Constituinte" : o que esperar ?

Como esperar de uma "Constituinte" (assim entre aspas), eleita sob a legislação eleitoral e partidária viciada como a nossa, possa gerar uma reforma política sem vícios ? A "Constituinte" desse modo só vai servir aos interesses políticos já constituídos, perpetuando nos partidos e no Congresso o que já está provado e não serve aos eleitores e ao país. Basta ver os ensaios de reforma que andam na boca dos políticos. As propostas, de um modo geral, só pioram o que já é ruim.

Pobre oposição

Depois de fazer uma pesquisa para descobrir o óbvio - que o partido está sem rumo e sem propostas - o PSDB reuniu seus governadores e resolveu cobrar do governo a apresentação de uma agenda para o debate. A boa oposição tem sua própria agenda e procura forçar o governo a debatê-la. O resto, como diz o humorista Millôr Fernandes a respeito da imprensa "chapa branca", é armazém de secos e molhados. Os tucanos estão inventando a oposição "chapa branca" ou "oposição consentida". Dilma agradece.

Caminhos para a derrota

Sem proposições, sem um discurso para a sociedade e brigando mais que cachorro e gato por conta de suas vaidades, a oposição caminha, com celeridade, para a irrelevância. A última desavença entre serristas e alckimistas em SP é o mais puro sinal da perda de consciência das oposições brasileiras quanto ao seu papel. Tanto no situacionismo quanto no oposicionismo o único valor que realmente conta é o eleitoral.

Um partido incômodo

Não foi só enfraquecer a oposição o serviço prestado pelo recém-nascido PSD, do prefeito Kassab à presidente Dilma. É também uma grande dádiva para a presidente ter à disposição uma legenda fresquinha e disposta a colaborar para servir de anteparo aos sempre insaciáveis aliados PMDB, PP, PDT, PR e até a um PSB cheio de graça desde que o governo Eduardo Campos deu uma demonstração de prestígio elegendo a mãe, Ana Arraes, para o TCU. Os aliados já estão incomodados com o novo parceiro. Até o PT.

Janela de infidelidade - Um

Todos os governistas, em maior ou menor grau, ajudaram os formadores do PSD a botar o partido de pé. Mas agora perceberam que a legenda de Kassab está não apenas tirando gente da oposição, mas também deles. E que vai disputar com eles praticamente os mesmos votos em 2012. Os votos da oposição dificilmente vão para a nova legenda. Os arranjos partidários de cúpula são uma coisa, a vontade do eleitor é outra.

Janela de infidelidade - Dois

Já se começa a falar discretamente nas legendas governistas da abertura de uma janela de infidelidade, um período no qual os políticos poderão trocar de partido sem perder o mandato. Já era uma ideia antiga, mas foi reforçada agora com o surgimento do PSD. Hoje o partido de Kassab tem o monopólio da infidelidade, o que faz os parceiros temerem perder quadros, sem condições de repô-los.

Uma vaguinha

Já há rumores de que o prefeito Kassab se fará merecedor de um ministério na reforma que Dilma fará no início do ano. Sem mandato, o prefeito paulistano precisará de um espaço para sustentar seus projetos políticos.

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