COLUNAS

  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Política, Direito & Economia NA REAL >
  4. Política e Economia NA REAL n° 239

Política e Economia NA REAL n° 239

terça-feira, 2 de abril de 2013

Atualizado em 1 de abril de 2013 09:54

É a eleição, estúpido - I

Se havia alguma dúvida de que a inflação preocupa mais do que o governo dá a entender, ela foi dissipada com a decisão oficial de não acabar mais com a isenção do IPI para os automóveis neste ano. Pelo cronograma estabelecido no fim de 2012, o IPI dos automóveis e caminhões voltaria ao normal em três etapas : janeiro, abril e meados de 2013. Só a de janeiro foi implantada. No meio do feriado da Semana Santa, com direito a entrevista exclusiva no "JN", o ministro da Fazenda, juntamente com a divulgação de uma nota oficial, anunciou que os novos reajustes estavam suspensos. O inusitado do anúncio, em hora e dia poucos propícios para o marketing presidencial - tanto que a primeira edição dos jornais de domingo nem traziam a informação - mostra que foi uma decisão de última hora.

É a eleição, estúpido - II

O mote foi outro : a inflação está fazendo mais que simples "cócegas" como Mantega e sua equipe apregoam. Além do mais, dois eventos registrados na semana forçaram o governo a dar uma satisfação : primeiro foi a entrevista da presidente Dilma, quando ela deu mais do que a entender que seu governo não sacrificará o crescimento econômico pela inflação. A reação dos agentes econômicos - não apenas do chamado mercado - não foi nada boa, e Dilma organizou um "tour de force" governamental para tentar desdizer o que havia dito, com todo o alfabeto e seu estilo incisivo e cara de quem não admite contestações. O dito ficou dito porque até o labrador herdado de José Dirceu, com o qual costuma caminhar aos domingos, sabe que é exatamente isto que Dilma pensa. O que o governo persegue em primeiro lugar é um "PIBão", nem que seja de meros 3% em 2013.

É a eleição, estúpido - III

A segunda razão foi o Relatório Trimestral de Inflação do BC divulgado nas vésperas da Paixão, convalidando praticamente a expectativa de aumento dos preços dos analistas de mercado ouvidos para o Boletim Focus, situando-o em 5,7% em 2013 e indicando que durante o governo Dilma o centro da meta formal de 4,5% não será alcançado. O governo precisava dar um rápido sinal de que vai continuar segurando a inflação, na marra, mais na base de tapas (improvisos e medidas pontuais) do que de beijos (medidas estruturais) para evitar ruídos. Outras medidas nesse teor virão, sempre atacando mais os índices que a inflação. Não será nenhuma surpresa se nos próximos dias for prorrogada também a redução do IPI dos eletrodomésticos da linha branca - fogões, geladeiras, máquinas de lavar... No entanto, a desconfiança não deve ser rompida, pois como já está evidente e ficou claro na excelente entrevista exclusiva do ex-presidente Lula ao jornal "Valor Econômico" quarta-feira passada, vale qualquer sacrifício para reeleger Dilma. Diria o ministro sem pasta, marqueteiro da presidente e do PT : "É a eleição, estúpido...".

Inflação em novo nível

Na ata da última reunião do Copom, o BC informou que estava atento ao novo movimento dos preços uma vez que os aumentos de produtos do IPCA estão cada vez mais disseminados. A dúvida do BC, então, era se um movimento sazonal ou se a inflação havia mudado de "patamar". No Boletim Trimestral da Inflação, o primeiro deste ano, o BC praticamente sanciona esta mudança de patamar, ao admitir que a inflação este ano ficará em 5,7%, mais para o teto do que para o centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Sem contar que não promete preços comportados também para 2014. Não é à toa, portanto, que imediatamente a essas revelações e em seguida à polêmica e explosiva entrevista de Dilma, surgissem os movimentos para alterações na meta inflacionária, elevando os índices hoje de 4,5% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Puxou o bloco o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos principais interlocutores de Dilma para assuntos econômicos. Os jornais desta semana certamente trarão outros artigos na mesma linha ou, no mínimo, explicando, com grandes elucubrações teóricas, que a inflação está longe de se rebelar e que um nível de preços mais elevados nesta altura não faz mal a ninguém, pois garante o dinamismo do PIB. O mesmo que Dilma disse que não disse na África do Sul. Quem esperar lerá essas preciosidades.

A inflação não é apenas alta. É uma cilada.

Voltemos a uma definição básica : inflação não é o fenômeno de aumento de preços. Trata-se do aumento constante de preços. Ou seja, uma alta de preços que se propaga no período seguinte e assim por diante. Daí o caráter inercial da inflação. Neste sentido estrito e técnico, não resta dúvida de que a inflação no Brasil é "perigosa", mesmo que relativamente baixa - reconheça-se que 6%per se não é algo intolerável. Sendo a inflação atual de caráter inercial, há de se quebrar tal inércia. Pode-se discutir muita coisa em economia, mas há largo consenso de que a melhor política num cenário como esse é aumentar a taxa de juros. Contudo, há que se considerar outra realidade : a atividade econômica no Brasil é débil e o mercado de trabalho está apertado, em pleno emprego. Isso tudo junto faz com que a política monetária do BC não seja tão fácil de ser executada. O que fazer ? Ora, a escolha é de natureza política, de escolha de prioridades. É aí que o governo como um todo se enrola. Para crescer as políticas de estímulo ao investimento deveriam estar sendo eficientes. O que se vê é que as estratégias governamentais não passam no teste fundamental do tema : confiança e competência técnica. No tema do combate à inflação a estratégia do governo oscila entre as bravatas da presidente e do ministro da Fazenda e a adoção de medidas paliativas que distorcem ainda mais o cenário, i.e. desoneração setorial. No meio disso tudo está o frágil BC, vítima da cilada do governo e na qual docemente cai.

Câmbio, como no passado

Já não são apenas meses, mas anos que se usa a taxa de câmbio para combater a inflação. Alija-se uma variável estrutural para servir as benesses conjunturais. Como no governo de FHC, o governo brinca com a taxa de câmbio com a autoridade de quem não sabe das coisas. Se soubesse veria que a desindustrialização do país é gritante : as empresas produzem com baixo conteúdo tecnológico e competem com uma taxa de câmbio desfavorável.

Argentina : até quando esperar

Inflação alta e em alta, câmbio desalinhado, medidas protecionistas por todos os lados, política fiscal inconsistente e assim vai. É a Argentina deste dias (e de sempre). O problema é que o Brasil é sócio do Mercosul e a parceira do sul está mais para algoz do que vítima nas relações bilaterais com o Brasil. A paciência de Dilma parece bem calibrada em relação a sua colega sempre enlutada. O que ocorre, contudo, é que o contencioso com a Argentina está enorme. O Itamaraty já mandou o recado para o Planalto, e este permanece mouco e mudo.

Superávit primário, o próximo passo

Não será surpresa também, depois da divulgação de que as contas públicas tiveram em fevereiro um déficit de mais de R$ 3 bi, se emergir nos próximos dias um alarido oficioso defendendo a revisão também da meta de superávit primário deste ano, estabelecida para todo o setor público - governo Federal, governos estaduais e governos municipais - em R$ 155,9 bi, cerca de 3,1%. O argumento será o de que não é possível exigir tamanho sacrifício das contas públicas para pagar juros, quando a medida de adimplência do setor estatal, a relação dívida/PIB está numa situação razoável, e o país implora por investimentos em infraestrutura para evitar um apagão geral no país. A amostra dos caminhões parados à beira dos portos dá calafrios em Brasília. Aliás, já gera prejuízos, com o cancelamento de uma grande compra de soja brasileira por uma empresa chinesa há dez dias, por atraso na entrega da mercadoria. A justificativa é plausível. Só é totalmente defensável, contudo, se o governo demonstrar capacidade de gastar mesmo em investimentos os recursos que ficarem a sua disposição. Nos últimos três anos, frise-se, ele não executou boa parte do dinheiro alocado no Orçamento para investimentos. Este ano está indo pelo mesmo caminho. Já os gastos correntes, com folha de salários, manutenção da máquina, viagens, publicidade, este são infalíveis - são plenamente executados. E crescem sempre.

Um curso de dicção para Dilma

A presidente Dilma está necessitando passar, urgentemente, por um curso de oratória com seu mentor político, o ex-presidente Lula. Ela já pegou, com o auxílio do ministro plenipotenciário da propaganda, João Santana, alguns cacoetes para encantar as plateias mais populares. Está, por assim dizer, com o verbo mais solto. Falta, porém, aprender a não dizer o que não quer dizer - como nas opiniões sobre política econômica na África do Sul que tanto barulho e confusão causaram aqui dentro. Lula não teria dito nada que tivesse de desdizer, mesmo que algumas declarações suas possam parecer estranhas ou fora de propósito. A entrevista para o "Valor", citada acima, é um modelo. Lula distribui recados, com aparente simpatia e tom de conselhos, para todos os lados - o PT, os aliados, Eduardo Campos e até para a presidente Dilma. E mais : reafirma que ele e a eleição presidencial têm tudo a ver. Que dela não se afastará jamais. Para bons discípulos, fica o recado : nada será como ele não quiser na seara oficial.

Lula, nada além das eleições

Há quem considere o métier do ex-presidente Lula o de estadista, um daqueles que se "preocupa com as próximas gerações e não com as próximas eleições", na palavra de Churchill. O ex-sindicalista, contudo, continua atuando como se o país fosse um clube social no qual para ser candidato a sua presidência tem de sentar com os diversos grupelhos para auferir apoio raso e, é claro, tempo de TV e rádio. A natureza de Lula provavelmente não mudou desde os tempos das greves do final dos anos de 1970 e início dos de 1980. O seu aggiornamento ideológico é muito propalado, mas devia ser apenas uma casquinha frente ao verdadeiro talento do ex-presidente para a sedução de "pequenos napoleões" perdidos nas fileiras de partidos políticos, do Partido Comunista do Brasil (vejam que piada !) até o PP do sempre ativo Paulo Maluf (este procurado pela Interpol). Se nos clubes sociais temos "o grupo da boccia" e a "turma da sauna", na política brasileira temos outras turmas : a da Petrobras, dos Transportes, da Pesca, das Minas e Energia, etc. - são 39 ministérios. A grana, diga-se, é do povo, mas o acordo é de Lula e dos partidos.

A hora da chantagem

Dilma já está pagando o amargo preço de ter precipitado com tanta antecipação a campanha eleitoral de 2014. A fatura maior, como era mais do que previsível, não vem da oposição oficial do PSDB, do DEM e do PPS, nem da oposição oficiosa do governador Eduardo Campos, do PSB, mas de seus próprios aliados. A temporada de "chantagem" está oficialmente instalada em Brasília, e as faturas partidárias estão ficando cada vez mais salgadas. O PDT de Carlos Lupi retomou o ministério do Trabalho, porém mantém uma "amizade colorida" com Eduardo Campos e já avisou que noivado oficial, com aliança e tudo mais, somente ano que vem. O PR não deixa por menos. O PTB também está com a fatura pronta : um ministério é o limite mínimo. Até o PSC e os evangélicos entraram na reza : se o PT e o governo não protegerem o direito humano do pastor deputado Marco Feliciano de continuar presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, eles vão orar em outra freguesia presidencial. E o PMDB... Bem, o PMDB é o PMDB.

Cuidado, perigo à vista

Com o aval entusiasmado de Lula, para quem, agora, o financiamento privado de campanha deveria ser considerado crime "inafiançável" (um aval ao Supremo no caso do mensalão ?), vai à votação na Câmara, na primeira quinzena do mês, um projeto de reforma política fatiado, com alguns pontos considerados urgentes pelos partidos. Com outros avais no Congresso, até da oposição, traz o de sempre : financiamento público de campanha e voto em lista. É este o perigo : desta vez parece que pode ir.

Chipre e Coréia do Norte

Convenhamos : o bochechudo ditador da Coréia do Norte é um perigo e tanto. Aquele fedelho de menos de 30 anos herdou um país de seu pai também ditador e fica brincando de chamar a atenção do mundo com armas atômicas. Até a China, país sempre aderente aquele país comunista, está tomando certas preocupações em relação ao adolescente que teima em fazer política externa como quem joga vídeo jogo. Chipre, detentor de um PIB equivalente ao da próspera e bela cidade de Campinas, não é causa de medo verdadeiro a ninguém. O pessoal do mercado fica chamando atenção para "o precedente aberto por Chipre" no confisco (ou na mordida ?) das contas bancárias. Uma piada e tanto. Afinal, naquele continente europeu a lista de confiscos é tão longa que não vale comentários. A questão mesmo é a turma da Rússia que ancorou seus recursos na bela ilha mediterrânea. Sabe-se disso, mas poucos realmente deixam de pautar o assunto como ele é. Quisera Deus, o bochechudo fedelho coreano fosse apenas o presidente de Chipre. Não poderia brincar com coisa séria...

Brasil, da Copa e das Olimpíadas

O RJ persiste dando provas de que o jeitinho brasileiro será, muito brevemente, convertido em jeitão. Afinal, o Rio joga o seu campeonato estadual de futebol sem estádio digno das tradições dos times fluminenses. Não fosse "apenas um detalhe" preocupa a situação da criminalidade, da mobilidade urbana, da rodoviária, do metropolitano, das vias esburacadas, da sujeira, etc. E o resto do Brasil assiste passivamente a tudo. O seu quintal não é diferente.

Radar NA REAL

25/3/13 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA estável estável/alta
Câmbio ²
- EURO 1,2856 estável baixa
- REAL 2,0128 estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 54.873,12 estável queda estável
- S&P 500 1.551,99 estável/alta estável/alta
- NASDAQ 3.235,30 estável/alta estável/alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável