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Porandubas nº 222

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Atualizado às 08:00

Encenação

Abro a coluna, hoje, com a encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido dentre os moradores e no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'.

- Como ? - reclamaram - Você não ensaiou !

- Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala !

O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas.

- Oxente, cabra, tá machucando ! Reclamou Jesus, em voz baixa.

- É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião.

E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião :

- Vem, desgraçado ! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso !

O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando :

- É isso aí ! Fura ele, Jesus ! Fura, que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não !

FHC no ataque

Fernando Henrique mordeu a isca. Tudo que os petistas queriam era que um tucano de bico grande entrasse na briga da pré-campanha. Serra, matreiro, tomou distância. Aécio, idem, não quis entrar na briga, dizendo que não era o caso de fazer comparação entre ciclos. Todos deram sua contribuição ao progresso do país. E aí Fernando Henrique assume, por inteiro, a querela : vale a pena, diz ele, entrar na briga. Sem medo do passado. Seu artigo no Estadão do último domingo, ao lado do meu, fez furor. Na sequência, diz que falta liderança à Dilma.

Perdas para Serra

Ora, essa brigalhada é ruim para José Serra. E a razão é simples : na comparação entre as eras FHC e Lula, os dados favorecem os petistas. Não adianta querer argumentar que o Plano Real, de Itamar/FHC, foi a base que colocou a economia nos eixos. A verdade é que os braços assistencialistas do governo Lula são mais extensos. O Brasil se beneficiou das crises que afetaram o mundo na última década. Os eixos macroeconômicos foram fixados pelo governo tucano e aprofundados no atual governo. Mas o crescimento do país não se deu no ritmo desejado. O Brasil pouco cresceu.

Lula propagandista

É bem verdade que Lula é um bom propagandista. FHC é mais um schollar, um acadêmico respeitado. E Lula, ao fazer a comunicação direta com as massas, trombeteia todos os dias os feitos do governo. Repete, repete, usa linguagem simbólica, chavões, refrãos e até palavras chulas. Quanto mais ele é criticado, mais apimenta a linguagem. Ganha em matéria de comunicação. E a situação estável do país será intensamente usada como cobertor eleitoral.

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Seu Lunga entra num bar e pede uma cerveja e o dono do bar diz :

- Seu Lunga faltou energia !

Ele rebate :

- Eu vim aqui pra tomar cerveja, não pra tomar choque.

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Transferência de voto

Pois bem, o colchão econômico em que se deita o país tem sido responsável pela boa performance da ministra Dilma Rousseff. Dilma anda no tapete estendido por Lula. Sua boa intenção de voto - cerca de 30% hoje - deriva não de suas qualidades de gerente ou mãe do PAC mas dos votos transferidos por Luiz Inácio. Não há dúvida que a transferência já começou a ocorrer. Principalmente nas regiões favorecidas pelo Bolsa Família.

Serra e Dilma

Não concordo com Carlos Montenegro, do Ibope, que garante enfaticamente a derrota da candidata governista. Acho que as coisas estão indefinidas. Se política fosse lógica econômica, Dilma seria a vencedora, considerando-se a teia de programas que o governo Lula estabeleceu para todas as classes sociais. Da base da pirâmide ao topo, contabilizam-se uns 20 programas voltados para benesses e redistribuição de renda.

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Após o enterro de sua sogra, Seu Lunga encontra com um amigo que pergunta :

- Ooxeee ! E ela morreu ?

Seu Lunga :

- Não. Enterraram ela viva.

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Dilma e Serra

Se eleição privilegiasse a questão do perfil, Serra seria o grande vencedor. Exibe perfil muito mais denso que Dilma. Preparado, experiente, conhecedor do país, já foi agraciados com milhões de votos. Dilma nunca recebeu um voto sequer. Mas eleição, hoje, leva em conta outros fatores que não aqueles de antigamente. Fatores da organodemocracia, que é a democracia das organizações intermediárias da sociedade - associações, movimentos, clubes, federações etc. A política afunda-se no vazio.

Vazio político

Ora, foi o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, que usou o termo vazio. Disse que Dilma foi escolhida por conta do "vazio" do PT após o mensalão. Não havia outro candidato. Lula pinçou Dilma do bolso do colete. Um perfil técnico condizente com a democracia de cunho orgânica deste século XXI. No século XIX, tínhamos uma democracia atomizada. Cada eleitor, um átomo social, a ser conquistado por candidatos distintos com propostas para agradar aos desiguais. Hoje, o átomo cede lugar aos grupos e coletividades, que se tornam homogêneas. Já os candidatos são clones, muito parecidos.

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Seu Lunga encontra com um amigo que não via há tempos.

- Como é que você tá ?

E seu Lunga :

- Do jeito que você tá vendo.

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As eleições no Brasil

Sob essa moldura, as eleições vão ocorrer com partidos pasteurizados, siglas amorfas, eleitores desmotivados, oposições com discurso oco e indefinido, parlamento estiolado, doutrinas em franco declínio. O que sobra é um pano de fundo - economia estável, programas assistencialistas, massas relativamente satisfeitas com o governo. E uma classe C que aglutina 46% de toda a renda nacional, mais que a soma das rendas das classes A e B. Essa classe, que pulou para a área média da pirâmide no ciclo Lula, vai eleger o próximo presidente.

A não ser que ...

A não ser que os serviços do Estado nas áreas de saúde, segurança e educação sejam tão ruins que acabem amortecendo os feitos do governo Lula. E, como se sabe, segurança continua a ser um caos; a saúde é um desastre e a educação, apesar do esforço desse inteligente ministro Fernando Haddad, continua muita defasada.

Alencar em Minas

Luiz Inácio quer bancar o nome do vice-presidente da República, Zé Alencar, como candidato das oposições ao governo de MG. Trata-se de uma estratégia maquiavélica e desumana. Alencar, apesar de estar vencendo um câncer, não tem mais saúde para estar na linha de frente da política. Em MG, ele seria a convergência entre petistas e o PMDB. Fernando Pimentel e Patrus Ananias, do PT, cederiam o lugar para ele. Hélio Costa, o senador, que lidera as pesquisas, também aceitaria, até porque teria garantida mais uma volta ao senado. Mas o bom Alencar não tem saúde de ferro, gente. Tenham compaixão.

Skaf em São Paulo

Do jeito que as coisas andam pelos lados do PSB, é bem possível que Paulo Skaf, o socialista presidente da FIESP, seja o candidato do partido ao governo de SP. Há até versões de que poderia convidar o cantor comunista Netinho de Paula, atual vereador, para vice nessa chapa de esquerda. Imagino os companheiros Skaf, Netinho, Paulinho e Cirinho (Gomes, claro), de mãos dadas, fazendo passeata frente à Federação da Indústria em prol da redução da jornada de 44 para 40 horas. Nesse instante, o slogan ressoará em toda a extensão da Avenida Paulista : "deu a louca no mundo".

Dirceu ligeiro

Zé Dirceu não morreu. Ao contrário, continua mais vivo que a direção do PT. Viaja para muitos lados. Dizem que no CE teria pedido a Cid, governador irmão de Ciro, que insistisse com este para sair do páreo federal. Se Ciro não sair, o PT teria um candidato ao governo cearense deixando de apoiar Cid. O deputado mandou Zé Dirceu pentear macaco.

Privatização das telecomunicações

Ontem, no Parlamento, o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen, destacou alguns feitos da era FHC, entre os quais a privatização das telecomunicações, a partir da desestatização da Telebrás e de suas empresas estaduais de telefonia. Trecho : "o Brasil deu um salto, tornando-se um dos países mais desenvolvidos e atraentes do setor em todo o mundo. Mais importante que a inserção do país na era da alta tecnologia, a privatização do setor promoveu o maior programa de inclusão social e de acesso a renda jamais visto no país - maior mesmo que o Bolsa Família : em dezembro de 2009, a ANATEL registrava 173 milhões, 959 mil e 368 acessos do serviço móvel pessoal, o celular, pós e pré-pago".

Meirelles, o escriba

Michel Temer, reeleito entusiasticamente presidente do PMDB, está tranquilo. Sem açodamento. Não quer colocar pimenta nos pratos que lhe oferecem. Acaba de pedir a Meirelles que escreva as diretrizes econômicas do PMDB, e que serão entregues ao PT, para efeito de formação de uma aliança programática. Michel garantiu a este consultor que o PMDB fará questão de encaminhar o seu escopo ao PT. Sua ideia é a de formar um presidencialismo de coalizão, conceito que mais se aproxima do parlamentarismo.

Aníbal no Senado

São Paulo abre imenso espaço para o Senado. Se Mercadante topar ser o nome do PT para disputar o governo paulista, as possibilidades se escancaram para o tucanato. José Aníbal é um dos nomes mais qualificados para ocupar este espaço. Candidato no passado ao Senado, obteve cerca de 5 milhões de votos. Trata-se de um perfil bem palatável ao eleitorado.

Alckmin quase na arena

Não há como afastá-lo da arena. Geraldo Alckmin, com cerca de 50% das intenções de voto, é o mais provável candidato ao governo paulista. Alguns acham que Alckmin é bom de largada e ruim de chegada. Mas não existe campanha igual. Pode ser que, desta feita, ele consiga chegar bem na dianteira. O candidato de José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, tem um bom perfil. Quadro preparado, bom articulador, matreiro. Mas continua no esconderijo. É pouco conhecido. E nesta campanha conhecimento é vital. Tempo de campanha eleitoral é insuficiente.

Copa do Mundo e Lula

Há um fenômeno a ocorrer nos próximos meses que terá algum impacto no clima social : a copa do Mundo. Se o Brasil for campeão, o estado de ânimo se elevará. A alegria será contagiante. Os poros sociais se encherão de oxigênio. Candidatos governistas são mais beneficiados por este clima catártico. A recíproca é verdadeira.

Conselho a FHC

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao presidente Lula. Hoje, volta sua atenção ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso :

1. Presidente, acautele-se, cuidado para não entrar em briga errada. Fale apenas o necessário.

2. O PT quer encurralar o PSDB ao tentar fazer uma campanha plebiscitária. Procure não engolir o anzol.

3. O importante é estabelecer para o candidato da oposição - Serra ou Aécio - um discurso denso, crível e capaz de sensibilizar as massas.

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