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Porandubas nº 338

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Atualizado às 08:00

Abro a Coluna com o registro da morte do Jornal da Tarde. Luciano Ornelas, que vivenciou o ciclo glorioso do JT, selecionou dois trechos de uma brilhante síntese feita pelo arguto e (sempre bem humorado) Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa. Peço licença, Carlinhos

"Éramos todos jovens, muitos de nós brilhantes, a maioria absoluta de indiscutível competência. Errávamos muito, também; mas errávamos por excesso de ambição, por buscar objetivos muitas vezes inatingíveis, raramente por ignorância. Dali surgiram as sementes de várias equipes de altíssima qualidade : Realidade, Veja, Rede Globo, Rede Bandeirantes, Repórter Esso (na fase TV Record), Visão, Playboy.

Mino Carta era o diretor, Murilo Felisberto o coração e a alma. Ruy Mesquita, o patrão, sentava-se à mesa de pauta para discutir o jornal do dia (e foi lá na Redação que treinou seus filhos nas artes da comunicação). Ewaldo Dantas Ferreira, um dos maiores repórteres do país, trazia matérias exclusivas, da maior importância. Em cada área da redação, buscava-se o melhor - e o jornal conseguiu a façanha de ganhar o Prêmio Esso com a manchete de sua primeira edição, Pelé casa no Carnaval.

Era a cara do nosso Jornal da Tarde, a maior revolução da imprensa brasileira desde a reforma do Jornal do Brasil : um grande furo de reportagem, um texto magnífico, a notável diagramação, e um erro na foto - em vez de Rose, a noiva de Pelé, quem estava com o Crioulo na foto era a cunhada, a irmã de Rose. Não fazia mal : o jornal era tão bom que esses erros passavam batidos...

A resposta do público sempre foi positiva. O JT começou a circular, em 4 de janeiro de 1966, com doze mil exemplares; virou o ano com 40 mil. Um jornal jovem, chique, moderno, antenado..."

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"Em certo momento, houve uma opção desastrosa : o moderníssimo jornal da metrópole contemporânea, o irmão mais leve e solto do poderoso O Estado de S.Paulo, foi transformado numa versão popular, baratinha, do jornal mais antigo. O lindo logotipo foi trocado por outro, supostamente mais popular (e com muito menos significado). O Jornal da Tarde, famoso por surpreender seus leitores, passou a ser mais previsível e chato que debate de candidato.

Percival de Souza, símbolo do JT, renovador da reportagem policial, ficou encostado - e os grandes furos que ainda trouxe, como a localização do Cabo Anselmo e a entrevista com ele, ainda um dos mais misteriosos participantes dos acontecimentos de 1964, foram ignorados.

As belas imagens ficaram no passado. O acabamento, descuidado, deixou de ser preocupação. E a cidade moderna, movimentada, alegre, sintonizada com o que havia de novo no mundo, perdeu seu jornal de referência.

Um jornal morre vinte anos antes de fechar as portas. O Jornal da Tarde, que já está morto faz tempo, deve fechar até o Dia de Finados.

Um toque de mau-gosto que explica por que o bom gosto do JT perdeu a batalha."

O jornalismo literário

Idos de março de 1968. Ingressava na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Aos 23 anos, iniciava minha vida no magistério. Assisti, maravilhado, o espetáculo do jornalismo literário produzido por um grupo de jovens jornalistas sob a batuta de Mino Carta e, depois, de Murilo Felisberto. Alguns deles, entre os quais Marcos Faerman e Percival de Souza, atendiam ao meu convite para falar sobre "aquelas reportagens de alto interesse humano, plenas de arabescos literários", inspiradas no new journalism norte-americano, criado por Gay Talese. Marcão era uma metralhadora : atirava palavras a torto e a direto, prendendo a atenção da alunada pelo brilho, inteligência, criatividade e provocação. Percival, um mestre da paciência e da arte de contar boas histórias policiais. A experiência do JT era tão fascinante que uma das edições do nosso Jornal-Laboratório a ele foi dedicada. O mestre Murilo nos deu uma grande e densa entrevista. Hoje, com tristeza, registro o desaparecimento de um ícone do jornalismo brasileiro. Uma pontinha do velho JT continua fincada ao nosso lado, na GT. Trazida por Luciano Ornelas, que viveu aqueles gloriosos tempos.

Recado das urnas I

Desta feita, as urnas transmitiram alguns recados bem claros. Vejamos alguns deles : 1. Chegou a hora da renovação. Na maioria das cidades médias, neste segundo turno, os perfis identificados com a renovação levaram a melhor. Espraia-se o sentimento de que a velha política está esgotada; 2. A micropolítica é quem efetivamente induz a decisão do eleitor. Ou seja, as respostas das comunidades às suas demandas nas esferas da saúde, educação, transportes, segurança, habitação, entre outras. Temas gerais, mesmo importantes como a questão da corrupção (mensalão), não afetam o voto. Os eleitores conseguem distinguir as temáticas. O mensalão, por exemplo, foca o PT, mas o eleitor tende a distribuir a corrupção na política a atores plurais. Há uma pulverização das cargas negativas por todos os partidos. Mensalão do PT, mensalão do DEM (ex-governador José Roberto Arruda), mensalão do PSDB (políticos de Minas Gerais).

Recado das urnas II

Não significa concluir que os temas sobre ética e moral não tenham importância. Têm, sim. Mas dentro do seu devido compartimento. Poderão, por exemplo, funcionar como aríete de pressão sobre o Congresso e como balizamento de uma reforma política. 3. Aliás, os resultados do pleito mostram que o copo está transbordando de água já muito usada. E que ficou suja. Por isso, uma reforma política se faz absolutamente necessária, particularmente nas frentes de financiamento de campanhas, coligações proporcionais e mesmo sobre o sistema de voto; 4. Os partidos carecem de programas mais consistentes, densos, coerentes e que abriguem as reais demandas da comunidade nacional; 5. As oposições definham. Apesar da vitória do PSDB em importantes cidades, o fato é que teve um desempenho eleitoral mais fraco que em 2008. E o DEM só adquire sobrevida graças à vitória de ACM Neto em Salvador.

Recado das urnas III

As urnas também deram recados no plano das campanhas eleitorais. 6. Não se viu, por exemplo, grande concentração de pessoas. As massas se dispersaram. O maior comício de campanha reuniu cerca de 15 a 20 mil pessoas no máximo. As grandes mobilizações deram lugar aos movimentos sociais, às categorias profissionais e aos setores organizados. 7. As campanhas negativas, de ataque e desconstrução de adversários, também não tiveram sucesso. Veja-se o caso de São Paulo, onde Serra perdeu muito tempo (patinando) com o ataque ao Kit-Gay dos tempos do Ministério da Educação, ocupado pelo prefeito eleito Fernando Haddad, e ao mensalão. Esses dois temas não afetaram a campanha petista. 8. Os modelos de marketing também mereceram recados. Estão saturados. Os debates temáticos entre candidatos, ao estilo norteamericano do confronto de ideias, são mais aceitos que os espaços laudatórios dos programas eleitorais.

Lula na cabeça da lista

Pela intuição, Lula permanece na lista de vitoriosos. Puxou do bolso do colete o nome de Fernando Haddad. Um gol de placa. Pinçou Marcio Pochmann para Campinas. Não fez feio. Lista aposta na estratégia de oxigenação de quadros. Percebeu que o eleitor está saturado da velha guarda.O PT começa a injetar sangue novo em suas veias. Principalmente nesse ciclo pós-mensalão. Lula deve continuar o exercício de fixação de novas estacas nos currais petistas.

Tucanos de bico novo ?

Fernando Henrique, tucano de muitas plumas, prega a oxigenação do PSDB. Trata-se de um conselho sábio. Se não houver renovação das aves tucanas, o partido morrerá de inanição. Encolheu em votos em relação ao que obteve em 2008.

Arthur, vitória emblemática

A vitória tucana mais emblemática foi a de Arthur Virgílio, em Manaus. Lula e Dilma foram à capital amazônica para fazer campanha pela senadora Vanessa, do PC do B. Perderam. Arthur, como se recorda, foi líder tucano no Senado, onde azucrinou com o governo Lula. O ex-presidente nunca negou que um de seus alvos prediletos era (e é) Arthur Virgílio.

Neto em Salvador

ACM Neto, por sua vez, dá sobrevida ao DEM com sua vitória, atribuída, entre outros fatores, às más avaliações do prefeito e do governador. Na Bahia, Geddel Vieira Lima, do PMDB, deu apoio a Neto e o candidato do partido, Mário Kerzets, ficou com Pelegrino, do PT. Neto vai deixar de ser um Democrata ferrenho da oposição. O mandato na prefeitura carece de boa articulação com o governo Federal.

PT mais fraco no NE

O PT torna-se mais fraco no Nordeste. Chama atenção o fato de que a região é a mais coberta pelo programa Bolsa-Família. Mas o poder petista ali se reflui. A causa : o eleitor mais consciente e crítico. Examina as administrações. Consegue separar os governos Federal, estadual e municipal. Atribui boa avaliação ao governo Dilma e a alguns governadores, mas essa posição favorável não é levada ao âmbito municipal. Há exceções, claro.

PSOL em Macapá

Exemplos de racionalidade a comprovar escolhas mais apuradas : os prefeitos de Macapá, do PSOL, e de São Luiz do Maranhão, do PTC, respectivamente Clécio Luis e Edivaldo Holanda Junior. Dois partidos pequenos que tomam posse de redutos até então ocupados por caciques.

Os dois lados de Campos

Eduardo Campos olha para dois lados : o do Brasil sob uma economia equilibrada, inflação controlada, harmônico, e o do Brasil com uma economia desarrumada. Dentro do primeiro, continua a fazer parte da base aliada do governo Dilma. Dentro do segundo, pode sair com sua candidatura à presidência da República.

Pistas praticamente molhadas

Em um telejornal de sábado, ao final da tarde, imagens mostrando a avenida Paulista encharcada, o apresentador informa :

- Caiu um tempestade agora há pouco na cidade. As pistas da avenida Paulista estão praticamente molhadas.

Difícil entender o "praticamente" do telejornalista.

Conselho aos vereadores eleitos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos prefeitos eleitos. Hoje a atenção se volta aos vereadores eleitos :

1. É hora de renovação política. Quadros, programas, ações, atitudes. Nessa direção, procurem balizar sua missão. Cumprir compromissos assumidos, acompanhar e fiscalizar a administração municipal.

2. Procurem realizar uma atuação voltada para as questões prioritárias da comunidade municipal, evitando posicionamentos que levem em conta apenas as visões político-partidárias.

3. De três em três meses, tentem mapear situações das localidades - bairros, distritos, regiões - das quais receberam sua votação. A proximidade entre vereador e eleitores gerará compensações futuras. O eleitor reconhece, aprova e retribui aos vereadores que trabalham por suas causas.

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