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Porandubas nº 50

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Atualizado às 08:28

 

NOVAS MOTIVAÇÕES DO EMPRESARIADO

Que os negócios sejam o leit-motiv do mundo empresarial, não há dúvida. Mas o empresariado brasileiro começa a entrar fundo em searas como responsabilidade social, compromisso com o civismo, reformas fundamentais para a consolidação da democracia brasileira. Foi isso que vi de perto em Comandatuba, na Bahia, durante três dias da semana passada em que mais de 300 empresários procuraram passar o Brasil a limpo. Ao final, sobrou a impressão de que são apenas analistas e consultores políticos que acompanham de perto a cena brasileira.

A BUROCRACIA

O ministro Luiz Furlan, do Desenvolvimento, muito aplaudido, expressou números de grandeza. Transmitiu a idéia de um Brasil-Potência. Chega mesmo a acreditar na projeção de liderança do Brasil, ao lado da Rússia, Índia e China. Carecerá, claro, de reformas fundamentais. Como a reforma política. Criticou, e muito, a burocracia. Mas temos uma boa colocação no ranking de programas do futuro, a partir de eixos tecnológicos. Viu-se, ali, um ministro emocionado. Uma espécie de ilha de excelência do arquipélago de águas revoltas como se parece o governo Lula.

POLÍTICOS CONSCIENTES

Uma dezena de políticos - parcela de uma boa nata - também se fez presente. Alguns seriamente preocupados com o amanhã. E sem deixar de criticar fortemente o ambiente de solidário corporativismo, regado à pizza, da Câmara dos Deputados.

REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO

Uma unanimidade: Viviane Senna, mulher de coragem, empunhando uma causa que gera emoção e comoção. Tira crianças do inferno do analfabetismo e das margens criminosas para o paraíso da esperança. Lidera um programa de educação básica que impacta pelos resultados: custos baixíssimos, resultados surpreendentes, crianças felizes, aplicação rigorosa de recursos, controles externos, parceria privada e muita discrição. Uma revolução silenciosa. Não foi sem propósito que ouvi seu nome indicado para ingressar numa chapa presidencial como vice. Um impacto no universo do gênero feminino. Um troféu da Seriedade a Serviço do Brasil!

LULA E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA

Expus, nesse Fórum Empresarial, algumas hipóteses que poderão garantir a reeleição de Lula: usar o poder do carisma como anti-aderente e desgrudar-se da crise; continuar a ser percebido como um "igual", um homem do povo; demonstrar que fez um governo melhor que o de FHC; recuperar apoio de parte das classes médias, que dele se desgarraram; segurar, até 1o de outubro, a grande maioria do voto nordestino (28% dos votos do País. Lula tem, hoje, 70% desses votos); furar o Triângulo das Bermudas (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que têm 42% dos votos), cuja tendência é a de dar forte impulso a Geraldo Alckmin; pegar os apoios da maior parte dos candidatos a governador nos 27 entes federativos; alavancar os programas sociais e mantê-los como anzol de pesca do voto; demonstrar que o candidato oposicionista não conhece tão bem o Brasil como ele, Lula; pegar o apoio do PMDB. Lula é o favorito. Sabe falar para as massas e usar símbolos nacionais.

ALCKMIN E AS HIPÓTESES DE VITÓRIA

Geraldo Alckmin tem chances ancoradas nas seguintes hipóteses: identificação com o Novo, deixando Lula na retranca da banda velha; mostrar que a gestão em São Paulo foi exemplar, enquanto a gestão do PT foi catastrófica; fazer da ética uma batalha mais importante que a batalha da economia; garantir maioria expressiva no Triângulo das Bermudas, onde está o voto mais racional; segurar as classes médias, que se desgarraram de Lula, até o final da campanha; esperar que a indignação das classes médias com a lama da crise chegue até as margens sociais (efeito da pedra jogada no meio da lagoa); esperar que parte do voto nordestino vá na sua direção por conta da influência dos caciques e chefes locais, ou seja, pela influência das campanhas estaduais, mais favoráveis às oposições; esperar que o PMDB tenha candidato e que este, Garotinho ou outro, obtenha entre 15% a 20%, fazendo a campanha entrar no segundo turno; ter uma comunicação e uma organização de campanha eficientes; e esperar que o Produto Nacional Bruto da Infelicidade - mistura das insatisfações, desemprego, serviços sociais precários, violência, etc. - seja alto por ocasião da eleição. Aí Lula perderia.

RIGOTTO AMARGURADO

Germano Rigotto, governador do RS, continua amargurado. Foi o que se viu em Comandatuba. Não saiu de sua cabeça a idéia de que é o melhor quadro do PMDB à presidência. Perdeu a chance. E ganhou amargura.

TEMER E A CANDIDATURA PRÓPRIA

O presidente do PMDB, Michel Temer, é um obstinado defensor da candidatura própria do partido à presidência da República. Tem motivos para isso, a partir da crença de que o PMDB tem de estar no espaço central, não nas margens.

FURLAN ESTRESSADO

Por duas vezes, a emoção lacrimada flagrou o ministro Luiz Furlan no Fórum Empresarial de Comandatuba. A primeira, por ocasião da entrega do Prêmio Personalidade Empresarial Feminina, entregue a Viviane Senna. A segunda vez foi por ocasião de uma pergunta do deputado Michel Temer. O presidente do PMDB queria saber se a expansão do programa Bolsa Família de 8 milhões para 12 milhões denotava crescimento do País. Em sua lógica, quando se aumenta o programa para os pobres é porque os pobres estão aumentando. Furlan, estressado, parece ter entendido a pergunta como provocação pessoal. E respondeu quase raivoso. Quem conhece a ponderação que faz parte da índole de Temer concluiu que Furlan exibe um estado emocional para lá de estressado.

MONTENEGRO APOSTA EM LULA

O presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro, exibindo a tendência das pesquisas, apostou vivamente na vitória de Lula. Fiz o contraponto. Procurei mostrar que FHC, em 1994, saiu atrás e ganhou as eleições. Lembrei que Collor, em janeiro de 1989, era um desconhecido. Em junho, depois de três programas de TV, estava na frente das pesquisas. Diz-se que FHC ganhou em 1994 por causa do Plano Real. Portanto, o ano foi atípico. Faço um adendo: 2006 exibe o Plano Real do Mensalão. Da mesma forma, temos um ano atípico. Portanto, não se pode e nem se deve garantir nada em matéria de eleição. Como mineração, o resultado só se vê depois da apuração.

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