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Porandubas nº 639

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Atualizado às 08:02

Abro a coluna com um "causo" de Goiás.

Não mudou nada

Miguel Rodrigues, velho e sábio político de Goiás, foi visitar uma escola primária. Ali, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil:

- No começo do Brasil colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados.

O coronel Miguel suspirou:

- Então não mudou nada.

Gilmar no drible

O ministro Gilmar Mendes tentou driblar as perguntas duras da boa bancada que o entrevistou no Roda Viva. Como se esperava, não teve papas na língua para atacar procuradores da Lava Jato, sobrando para o juiz Sérgio Moro. A operação, segundo ele, tem mais publicistas que juízes. Em certos momentos, parecia se esgrimir para fugir de contradições. Mas não chegou a se exaltar. E não perdoou o braço da imprensa como apoio aos exageros da Lava Jato. Na batalha verbal, não houve morto. Mas algumas feridas se abriram. Chamou a atenção deste consultor uma sacada rápida em direção ao jornalista Josias de Souza, ao comentar sobre um caso "que estava com seu amigo Barroso". Estocada de leve em ambos?

O Brasil das lealdades

Estes últimos dias têm sido dedicados por alguns protagonistas da cena institucional às lealdades. Pelo menos no campo da expressão. Veja-se a tentativa do ministro Sérgio Moro de mostrar sua lealdade ao presidente Jair Bolsonaro. Em amplas entrevistas e, ainda, nas redes sociais, faz questão de dizer que não será candidato à presidência da República em 2022. Que seu candidato é o chefe Bolsonaro. E que, em sua visão, não está no meio do laranjal que compromete a figura do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. A informação é da Folha de S.Paulo, jornal que, segundo o capitão presidente, "desceu às profundezas do esgoto".

PF apura

O ministro Sérgio Moro parece comprimido entre a cruz e a caldeirinha. Pois a própria Polícia Federal sinaliza uso de Caixa 2 nas campanhas do ministro e do próprio presidente. Candidatas laranja teriam sido utilizadas para esse fim. Moro nega irregularidades. O que é estranho, pois a PF continua a apurar. E como o comandante geral da PF, ele mesmo, Moro, antecipa-se para dizer que não há irregularidades? Aliás, o inquérito não é sigiloso, exigindo que ninguém se pronuncie? Tempos de lealdade ou tempos de inverdade? Tempos de agrado ao chefe ou tempos de hipocrisia?

Bolsonaro em casório

Também nesses últimos tempos, o presidente Bolsonaro tem demonstrado particular interesse com o tema do casamento. Só para lembrar: em relação ao novo procurador-Geral, Augusto Aras, confessou que foi "um amor à primeira vista". Sua escolha como PGR selou o casamento. Com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente também garante que eles estão quase indo para a cerimônia. Ipsis verbis: "Eu estou quase me casando com o Rodrigo Maia".

E com Alcolumbre

Já em relação ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a expressão, mesmo com jeito de gafe, em evento de comemoração dos 200 dias de Governo, foi na mesma direção: "Apesar da gravata cor de rosa, eu gosto dele. É meu amigo". A ministra da Agricultura ainda tentou consertar a estocada machista: "Obrigada, Davi, pela gravata em minha homenagem".

Força ao Guedes

Em sua entrevista ao Estadão, o presidente volta a fazer loas ao seu "posto Ipiranga", Paulo Guedes, em quem confia e delega força total. E a quem enche de observações que colhe nas redes sociais, não mais nas ruas, por motivos de segurança, segundo se intui. Revela que é um insone. Nas madrugadas, sai da cama com cuidado para não acordar a esposa, vai para um computador e começa a ver o que se passa ou o que a população sente. Imprime um montão de coisas, que encaminha aos ministros, sendo a maior quantidade destinada a Paulo Guedes. Não deixa de ser interessante a revelação de que ele, Bolsonaro, toma o pulso do povo.

A demissão de Cintra

Marcos Cintra, professor e economista, entusiasta da CPMF, mesmo com outro nome, teria sido demitido pelo seu chefe Paulo Guedes e não pelo presidente. Ora, está na cara que Bolsonaro, ao detestar as famigeradas quatro letrinhas, influiu na conduta de seu ministro da Fazenda. Mesmo que, como se sabe, demonstrara simpatia com a ideia de um diminuto tributo que iria expandir em muito a receita. Guedes preferiu se vacinar. E usar a caneta na direção do competente professor Cintra.

Um conselho de Sun Tzu

Lembremos deste conselho de Sun Tzu:

"Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas".

Huck liberado

A mulher Angélica concedeu o salvo-conduto e liberou o apresentador Luciano Huck para entrar na arena presidencial de 2022. Disse ela em entrevista à revista Marie Claire que o marido recebeu "uma espécie de chamado" para a presidência da República. E complementa: "No Brasil, em vez de a política ser algo do qual as pessoas se orgulham, dá medo. Mesmo sem ser candidato, Luciano já apanha de todos os lados. Estamos acostumados com fake news, mas de um jeito menos sujo. Por outro lado vejo isso, digamos, como um 'chamado', que ele não buscou. É uma coisa tão especial que, se ele decidisse se candidatar, o apoiaria".

Com tiros do presidente

Só pelo fato de sinalizar uma possível candidatura, o apresentador da TV Globo já começou a ser alvo do tiroteio do capitão. Ele garantiu que o povo não vai votar em "pau mandado da Globo". E voltou a mencionar o empréstimo feito pelo apresentador com o BNDES para a compra de um jatinho. Esse mesmo aviso foi feito em relação ao empréstimo também tomado junto ao BNDES pelo governador de São Paulo, João Doria. Dinheiro que comprou um jato.

A grande Fernanda

"Nenhum sistema vai nos calar". Voz da nossa maior dama do Teatro, Fernanda Montenegro em São Paulo. Atriz protestou contra a censura e a corrupção no lançamento de seu livro de memórias no Theatro Municipal.

Racha na sociedade

Mais uma sinalização do profundo racha social: a eleição realizada domingo passado para os Conselhos Tutelares. O "efeito Bolsonaro" impregnou a eleição. Mesmo sem divulgação na mídia tradicional, a eleição ganhou visibilidade nas redes sociais. Os credos evangélicos se mobilizaram para focar seus candidatos sob a sombra do conservadorismo. Os progressistas também foram às urnas em número menor.

Racha II

Mas em SP, a esquerda já garantiu metade dos votos segundo a Folha. Os Conselhos Tutelares são responsáveis por zelar pelos direitos das crianças e dos adolescentes. Os conselheiros terão mandato de quatro anos. Só no RJ, a eleição teve mais de 300 denúncias. Em algumas cidades, como Curitiba, a eleição foi cancelada por problemas com urnas e irregularidades, como compra de votos.

Vem reforma aí

A ideia está amadurecendo na cabeça do presidente e em seu entorno. Urge fazer a reforma ministerial. A essa altura, já se sabe quem é capaz de mostrar resultados e quem está abaixo das expectativas. As alas conversam a portas fechadas. Uma queda de braços entre olavistas/conservadores e grupos mais moderados. Espera-se que antes do fim do ano algumas peças da máquina sejam trocadas. A conferir.

Moldura ministerial I

Que avaliação pode-se fazer do conjunto ministerial? Eis uma rápida avaliação de sua performance, a partir de uma leitura midiática:

1) Economia - Paulo Guedes

Criou muitas expectativas. Até o momento, o superministro não mostrou grandes resultados. A reforma da Previdência, um pouco desidratada, tem sido sua bandeira mais elevada. Com méritos do Secretário Rogério Marinho.

2) Casa Civil - Onyx Lorenzoni

O deputado perdeu parcela do poder, com a retirada de suas mãos da articulação política. Era um poderoso ministro no início.

Moldura ministerial II

3) Justiça e Segurança Pública - Sérgio Moro

É o ministro mais admirado do governo. Mas sua imagem já não consegue ser totalmente limpa. As conversas com os procuradores da operação Lava Jato borram sua imagem.

4) Gabinete de Segurança Institucional - Augusto Heleno

Para o presidente, é o "posto Ipiranga" das Forças Armadas. Mas não tem o poder que tinha ao tomar posse. Ultimamente, deu um sumiço da imprensa. E dá estocadas em jornalistas.

Moldura ministerial III

5) Defesa - Fernando Azevedo e Silva

Atuação profissional. Tem conseguido se sobressair. Melhor do que se esperava.

6) Secretaria-Geral da Presidência -Jorge Oliveira

O advogado e major da reserva da PM do Distrito Federal faz serviços burocráticos.

Moldura ministerial IV

7) Relações Exteriores - Ernesto Araújo

O chanceler, conservador e afinado com a linha dura, é um marco de polêmica dentro do governo.

8) Saúde - Luiz Henrique Mandetta

O médico ortopedista Luiz Henrique Mandetta (DEM) não tem ação de evidência ou que mereça destaque.

9) Secretaria de Governo - General Luiz Eduardo Ramos

Diz-se que é o maior amigo do presidente. Ganhou a articulação política. Mas ainda não tem mostrado grandes resultados.

Moldura ministerial V

10) Ciência e Tecnologia - Marcos Pontes

Tenente-coronel da Aeronáutica e primeiro astronauta brasileiro, esperava-se dele atuação mais forte. Os setores da ciência não o vêem com bons olhos.

11) Agricultura - Tereza Cristina

Deputada Federal (DEM) e produtora rural, tem sido boa surpresa. Elogiada pela bancada ruralista, despachada e atuante.

12) Controladoria Geral da União - Wagner Rosário

Técnico de carreira, Wagner Rosário tem atuação discreta.

Moldura ministerial VI

13) Educação - Abraham Weintraub

Adepto de Olavo de Carvalho, um dos ideólogos do bolsonarismo, o ministro da Educação tem figurado no mapa da polêmica. Questionado, mas prestigiado pelo presidente.

14) Infraestrutura - Tarcísio Gomes de Freitas

Um dos melhores ministros, senão o melhor. Densa ficha técnica. Respeitado.

15) Cidadania e Ação Social - Osmar Terra

O deputado tem atuação forte, mas recebe muitas críticas de setores artísticos.

Moldura ministerial VII

16) Turismo - Marcelo Álvaro Antônio

Imagem comprometida pelo laranjal da campanha de 2018 em MG. Segura-se no Ministério, mas está capenga.

17) Minas e Energia - Bento Costa Lima Leite

Atuação discreta. Interrogação sobre a privatização da Eletrobrás. Ministro quer aprovar projeto de privatização da Eletrobrás ainda este ano.

18) Desenvolvimento Regional - Gustavo Canuto

Sem ênfases. Regiões queixosas de abandono. Muitas demandas. Faltam recursos.

Moldura ministerial VIII

19) Mulher, Família e Direitos Humanos - Damares Alves

Uma das principais figuras da bancada evangélica, não tinha boa fama no início do governo. Hoje apresenta-se com perfil forte e destemido. Sem papas na língua. Questionada por setores, mas respeitada por credos e conservadores.

20) Meio Ambiente - Ricardo Salles

Atuação polêmica na esteira das queimadas na Amazônia. Alvo de críticas de dentro e fora do país.

21) AGU - André Luiz de Almeida Mendonça

Atuação discreta.

22) Banco Central - Roberto Campos Neto

Prestigiado no mercado. Atuação profissional. Funcionários protestam modelo de venda de ações do Banco do Brasil com a intermediação do BNDES, na posição de agente de privatização.

Moldura ministerial IX

23) Secretaria de Desestatização - José Salim Mattar

O Secretário Especial de Desestatização promete reduzir o tamanho do Estado-Empresário, que tem fatias em 637 companhias entre controladas pela União, subsidiárias, coligadas e participações. Muita promessa, pouca ação.