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Codinomes

Se cada pessoa tivesse que atender pelo nome que cada pessoa, digo outra pessoa, resolvesse nominar, já pensou? Algo assim como recorrer a um catalogo para, entre as inumeráveis disponibilidades, escolher um nome para logo mais chamar alguma pessoa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Atualizado em 18 de maio de 2010 11:33


Codinomes

Edson Vidigal*

Se cada pessoa tivesse que atender pelo nome que cada pessoa, digo outra pessoa, resolvesse nominar, já pensou?

Algo assim como recorrer a um catálogo para, entre as inumeráveis disponibilidades, escolher um nome para logo mais chamar alguma pessoa.

Tipo assim - o fulano que num instante pode atender por José, por favor, nada a ver, no mesmo momento é chamado, ele próprio, por outra pessoa de Caxinguelê.

Mas aí vem outro alguém e objurga dizendo que Caxinguelê não é nada mais que um apelido, não é um nome. Sim, e daí?

Sua Majestade Imperial, Dom Pedro I, chamava-se Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

Se alguém falasse Serafim podia ser com ele e se por derredor não estivesse nenhum outro João Carlos ou algum outro Xavier de Paula então, com certeza, alguém estava querendo falar mesmo era com Sua Majestade Imperial.

Não perguntei ainda ao Google o porquê dessa coisa de tantos nomes, até nomes compostos e com tantos prenomes, ensejando a possibilidade de esconder o verdadeiro codinome da pessoa.

O nosso primeiro Imperador, por exemplo, nem teve tempo de se imaginar com qual desses tantos prenomes e nomes compostos iria se apresentar a certa pessoa, melhor dizer logo, à Marquesa de Santos, numa madrugada chuvosa ou num amanhecer radiante.

Desde menino, por onde andasse só lhe chamavam de Majestade e os mais íntimos, como o Chalaça, o cara que, nas emergências, lhe arrumava namorada, não perdia tempo decorando aqueles nomes todos para com algum deles, ou mesmo com todos eles, se dirigir ao amigo.

Tem tese de mestrado nas prateleiras sustentando que Pedro I gostava mesmo era quando lhe chamavam de Pedroca. Tinha a ver não só com o carinho dos mais íntimos. Também com a firmeza da rima.

Isto faz lembrar um Presidente de um time que depois de virar figura pública nacional, não podendo encarar mais só a comida caseira, pediu que o Chalaça de plantão lhe providenciasse uma iguaria diferente.

E lá se foi o homem em evocações à boa fama, em tais quesitos, do nosso primeiro Imperador, envergando o seu anonimato. Ou seja, achando que ele nem era ele, a figura pública indissociável da torcida do seu time.

Em lá chegando, crente que não seria reconhecido, antes das preliminares e dos leguleios, eis que a providenciada respeitosamente lhe pergunta - como o senhor quer que eu lhe chame, Presidente?

O homem tomou um susto, mas estava tão apressado que nem se tocou que ele também, embora nem tanto quanto o nosso primeiro Imperador, tem nome comprido e ali, naquela aflição, poderia sacar um deles, mas nunca o codinome pelo qual se tornou mais conhecido.

A pressa faz dessas coisas. Tudo que ele imaginara para ser um grande enigma se desmanchou quando num tom muito sublime sugeriu à moça - me chama de José.

O nome de Sua Majestade Dom Pedro II Imperador do Brasil, alguém de vocês aí é capaz de dizer?

Pois lá vai. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA





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