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Um homem fiel

Antonio Baptista Gonçalves

Um homem fiel. Não à sociedade, não aos seguidores, mas sim a sua crença e a Deus. Assim poderia ser descrito Karol Wojtyla, ou melhor João Paulo II.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Atualizado em 21 de setembro de 2005 09:30


Um homem fiel


Antonio Baptista Gonçalves*

Um homem fiel. Não à sociedade, não aos seguidores, mas sim a sua crença e a Deus. Assim poderia ser descrito Karol Wojtyla, ou melhor João Paulo II.


Para muitos foi considerado como ultra-conservador, por defender fervorosamente os ditames da sacra igreja católica e não adentrar em questões polêmicas do mundo moderno como o casamento entre os homossexuais.


A verdade é que o recém falecido papa teve o mérito de levar a palavra de Deus nos quatro cantos do planeta, e nem a debilitada saúde que o perseguiu nos últimos anos foi capaz de reduzir seu ímpeto.


Sem dúvida alguma sofreu muito com o mal de parkinson, com pneumonias, a perda da fala, o cansaço cada vez mais constante. Seu corpo cada vez mais tinha menos força, mas sua fé estava intacta, constante e pura.


Utilizou muito bem a tecnologia e os meios de comunicação. Sua fé inabalável e sua integral devoção conquistaram uma legião de novos católicos para a igreja.


Demonstrou uma reafirmação do evangelho muito importante para os católicos, num período em que a igreja católica perdia seu espaço de forma gradativa e constante, o pontífice resgatou a fé que muitos estavam relegando a segundo plano.


A palavra de Deus novamente voltou a ser ouvida e a igreja aos poucos reconquistou sua força e influencia ratificando seu espaço no mundo moderno.


Prova disso é o uso cada vez maior de adereços com imagens de santos tão comuns nos dias de hoje, modismo? Pode ser, mas o papa teve grande influência sobre a fé das pessoas nos dias de hoje, o catolicismo avançou muito com ele.


João Paulo II se mostrou um exímio articulador e comunicador para as massas e a prova disso era a enorme quantidade de fieis que o aguardavam em cada uma de suas visitas.


Nunca o falecimento de um papa teve repercussões tão acentuadas, desde os dias que antecederam sua morte até o seu enterro, Roma se tornou uma espécie de capital do mundo, com pessoas de vários países, crenças, religiões e posicionamentos políticos, unidos por aquele que sempre pregou o amor ao próximo e a crença em Deus acima de tudo.


Sua importância por muito tempo foi pormenorizada, mas em seu enterro a constatação era inevitável: o papa conseguiu romper barreiras intransponíveis.


A prova disso era a reunião de todos os grandes líderes mundiais do presente e do passado, seja amigos os inimigos, unidos para um último adeus ao pontífice.


Não à toa os gritos que ecoaram no enterro foram de santo, santo, santo.


Sua postura conservadora não pode ser confundida com sua bravura e, principalmente, com suas conquistas.


Num mundo cada vez mais globalizado, Wojtyla teve uma força impressionante para reafirmar e manter vivo os dogmas da igreja, a reforma que ele propôs aos fiéis de sua Igreja ao cruzar os umbrais do terceiro milênio foi um retorno às raízes do cristianismo.


Sua piedade pessoal e seu engajamento são indiscutíveis, mesmo com sua saúde deflagrada por doenças e males, o papa nunca esmoreceu em sua missão e assim o fez até o dia de seu falecimento.


Com a morte de João Paulo II encerra-se, sem a menor dúvida, um pontificado histórico. A força e o impacto que o seu governo imprimiu e ainda imprimirá na sociedade contemporânea é incontestável.


Foi um homem que teve uma profunda obstinação pela paz, e nem o atentado que sofreu em 1981 foi capaz de reduzir sua fibra, ao contrário demonstrou um profundo amor ao próximo, inclusive ao ir na prisão e perdoar aquele que tentou lhe tirar a vida.


A prova de que sua mensagem foi bem transmitida, foi exatamente o seu pretenso assassino ser um de seus mais devotos seguidores e oradores em seus dias mais difíceis de saúde instável.


Agora a pressão reside em seu sucessor, para muitos seu legado representará um legado demasiado pesado, para outros, seu falecimento representa a chegada de uma nova era com a possibilidade de mudanças e uma maior flexibilidade por parte da igreja.


Assuntos como o uso de camisinha para o combate à AIDS, uma maior participação das mulheres na igreja católica são apenas alguns dos pontos que podem ser abordados e revistos.


Independentemente do futuro uma coisa estará eternamente garantida: a missão de João Paulo II foi cumprida e o homem simples nos deixou uma mensagem marcante: a fé é inabalável e a crença em Deus independe de sua religião, basta acreditar.


Este foi Karol Wojtyla, um homem fiel.
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*Advogado





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