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O Rei e a Rainha

Ora, quem sob a visibilidade geral inerente ao poder, rei ou rainha, presidente ou presidenta de qualquer coisa, não tem que se mostrar como símbolo do bom exemplo?

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Atualizado às 15:58

O rei Momo, na origem, isto é, na mitologia grega, foi uma mulher que depois foi até deusa e juíza à qual se atribuía poderes de só fazer o bem.

Conhecida também como Reclamação, filha de pai desconhecido, Momo personificava a noite.

Contam os etimólogos que os romanos escolhiam três dias a cada ano para uma grande festança tendo como lema o seja você quem for, seja o que Deus quiser. Em torno de uma enorme vala faziam churrascos, vindo dessa vala da carne chamada carnivália a palavra carnaval.

Para o governo do carnaval os romanos elegeram rei a deusa Momo dos gregos. Não era bem um rei homem, mas originariamente uma mulher que com o passar do tempo se assumiu e alcançou.

A condição de elegibilidade para rei Momo era ser militante, defensor do império de César, dono de insuspeitável alegria, irradiante simpatia e, ademais, muito bonito. O que para estas paragens não chega a ser o caso.

Uma reforma eleitoral feita às pressas, no maior casuísmo, tornou inelegível quem não pesasse no mínimo 120 quilos, exigindo-se a vistosa obesidade também para as candidatas a rainha Momo.

Tudo isso ideia da bancada do agronegócio e de um pessoal da OAB do Maranhão sob a justificativa de que o sobrepeso simboliza a fartura, o dólar em queda, a inflação controlada, o real valorizado, os salários com poder de compra, enfim, o crescimento da produção, inclusive a industrial.

Mas como isso tudo foi sumindo do cenário e constatando-se que metade da população do País está obesa, o que só aumenta as despesas do governo e dos planos de saúde, a primeira condição de elegibilidade para os tronos de rei e de rainha do carnaval foi revogada.

Agora só terão vez os magros, na proporção de altura e peso.

Ora, quem sob a visibilidade geral inerente ao poder, rei ou rainha, presidente ou presidenta de qualquer coisa, não tem que se mostrar como símbolo do bom exemplo?

Quando algum ungido para alguma altura diz que não gosta de ler livros e que seu primeiro diploma na vida foi aquele que lhe permitiu ascender a curaca, isso então não é apologia contra a instrução e a educação? Qual a criança que depois disso vai querer ir para a escola?

Vale também para o rei Momo e rainha Momo, enquadráveis na lei ficha suja da obesidade, caso não se apresentem magros e sarados. Casal de monarcas obesos é o mesmo que dizer às crianças - bebam mais refrigerantes, comam mais batata frita, comam mais sanduiches de lanchonetes carregados de maionese.

Em Palmátria, a capital de um país descoberto pelo poeta Tribuzi no último século, houve há pouco uma grande confusão na escolha do novo rei e da nova rainha Momo.

Quando tudo parecia seguir nos conformes dos previamente combinados, como sói acontecer igualmente no Maranhão, sabendo-se antemão nos bastidores quem seria a rainha Momo eleita, eis que desponta uma morena que parecia saída de uma tela do Di Cavalcanti.

Alta, esguia, dedos de pianista, sorriso cativante, daqueles de encarcerar doleiro e até diretor da Petrobrás, dir-se-ia que era a reencarnação da modelo do gênio pintor, a Marina Montini.

Ah o júri não gostou. Seria a revogação do que havia sido negociado antes. Esgotados todos os argumentos, um inflamado jurado saiu com mais este:

- Esta candidata é muito alta, gente. E mulher alta cansa.

- Quem falou que mulher alta cansa? Quis saber outro jurado.

- Ora, o Sarney...

Ninguém achou graça. Mas o Sarney que acompanhava tudo pela televisão, qual o dono da tabacaria, sorriu.

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*Edson Vidigal é advogado, foi presidente do STJ e do Conselho da Justiça Federal.

 

 

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