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Sustentável defesa do ser: processos de mediação com o futuro

Marta Foltz Cavalcanti Barroso

A questão maior não é "o que nós queremos ser" mas "quem nós queremos ser", enquanto indivíduos, enquanto nação.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Atualizado em 10 de junho de 2019 15:27

Somos chamados a definir: quanto de passado haverá em nosso futuro?

Ao não darmos certas respostas, estaremos fadados a repetir certas perguntas.

A paz social não pode ser uma mera ausência de violência obtida pela imposição de uma parte sobre as outras.

Tampouco é a ausência de conflito....

O conflito não pode ser ignorado ou dissimulado: deve ser aceito.

Mas, se ficarmos encurralados nele, perdemos a perspectiva, os horizontes reduzem-se e a própria percepção da realidade fica fragmentada.

Quando paramos na conjuntura conflitual, perdemos o sentido da unidade profunda da realidade.

Só haverá futuro, em termos de sociedade, se houver uma repactuação ética do que entendemos como desenvolvimento.

A escolha que sou...

A escolha que somos...

Destaco uma passagem envolvendo um antropólogo que estava estudando os hábitos e costumes de uma tribo africana vivia cercado por crianças na maioria dos dias e decidiu fazer um jogo com elas. Comprou doces da cidade mais próxima e colocou tudo em uma cesta decorada no pé de uma árvore.

Depois ele chamou as crianças e sugeriu o jogo que ocorreria assim: quando o antropólogo dissesse "já", as crianças deveriam correr para a árvore e o primeiro a chegar lá pode ter todos os doces.

As crianças se alinharam à espera do sinal. Quando o antropólogo disse "já", todas as crianças pegaram umas às outras pela mão e correram em conjunto para a árvore.

Todas chegaram ao mesmo tempo, dividiram os doces, sentaram-se e começaram a mastigar felizes.

O antropólogo foi até as crianças e perguntou por que eles correram juntos quando qualquer uma delas poderia ter tido os doces só para eles.

As crianças responderam:

UBUNTU. Como pode qualquer um de nós ficaria feliz se todos os outros ficariam tristes?

UBUNTU é uma filosofia das tribos africanas que pode ser resumido como

"Eu sou o que sou por causa de quem todos nós somos."

E esse desenvolvimento tem que estar relacionado com a melhoria da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos.

Falemos do que parece estar "hidden in the light": há tantas coisas na luz que você não nota mais.

Pouco ou nada conseguiremos, se permanecemos ausentes de nós.

Não podemos perder o foco de sermos  socialmente eficientes.

Portanto, a utilidade da riqueza está nas coisas que ela nos permite fazer, ou seja, as liberdades substantivas que ela nos ajuda a obter

Mas também não podemos olvidar que a política não pode se liberar da economia, a economia não pode se liberar da política.

Assim, claro está que o conceito de ética na economia não é ... exclusivamente... técnico, mas essencialmente político.

Busquemos, nestas bases, compreender a relação entre indivíduos e instituições é desvendar os mistérios no desenvolvimento das sociedades.       

Fundamental para a consolidação do desenvolvimento são as instituições, ou seja, as regras formais e informais do jogo de funcionamento da sociedade, uma vez que a evolução das regras predeterminam e condicionam o desenvolvimento sócio-econômico e político de uma sociedade.

Assim devemos ficar atentos para a afoiteza dos tempos ultramodernos que, por vezes, inverte a cadeia causal no processo de conhecimento colocando o efeito antes da causa, apontando soluções ou remédios, mesmo antes da análise. Eis o grande risco, o risco de o efeito ser dominante sobre a causa...da cura inventar a doença...

E que não se trata de ser otimista ou ser pessimista, pois ambos são fatalistas.

Reservo-me o direito de ser realista.

Se faltam recursos, compromete-se o êxito dos projetos voltados ao Estado de bem-estar social, o que, em ambiente de baixa densidade ideológica e tênue consciência cidadã, se desatendidas as necessidades e expectativas imediatas, abre-se caminhos  promessas de milagreiros populistas, comprometendo-se o êxito da própria democracia.

Claro está que há dois grandes inimigos da DEMOCRACIA: ignorância e miséria    

Falamos de estabelecer uma efetiva comunidade política calcada no realçar das convergências portadoras de futuro e não nas divergências que fazem do passado, um único tempo.

O nosso futuro será realidade na exata proporção da nossa resiliência na efetivação dos nossos propósitos.

E resiliência está diretamente relacionada às nossas causas.

"As nossas causas 'valem' mais que a nossa vida, porque são elas as que à vida dão sentido"

E lhes digo, com segurança: quem é da causa, se reconhece...

Ouso vaticinar: "quem é da causa se reconhece, mesmo que tenha posições divergentes"

Deixemos em algum lugar do passado, os "arautos da discórdia" pois é de futuro que estamos a falar e construir

Afinal, bem sabemos porquê e por quem lutamos.

É o que impregna de sentido as nossas ações.

Desta forma, a questão maior não é "o que nós queremos ser" mas "quem nós queremos ser", enquanto indivíduos, enquanto nação.

Enfim, a sustentável defesa do ser...porque somos...

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*Marta Foltz Cavalcanti Barroso é sócia do escritório Barroso, Palhares & Siqueira Advocacia.

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