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O discreto homem do chapéu

Não sei se vocês viram na televisão três macacos, de cinco anos de idade, ganhando de doze rapazes, estudantes universitários, nuns testes de memorização. Os macacos provaram que, não apenas são também inteligentes, mas que em relação a nós, homus erectus, são muito mais rápidos de memória.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Atualizado em 17 de dezembro de 2007 13:56


O discreto homem do chapéu

Edson Vidigal*

Não sei se vocês viram na televisão três macacos, de cinco anos de idade, ganhando de doze rapazes, estudantes universitários, nuns testes de memorização.

Os macacos provaram que, não apenas são também inteligentes, mas que em relação a nós, homus erectus, são muito mais rápidos de memória.

As coisas começam a ficar mais nítidas, talvez mais perigosas, quem sabe, para o nosso lado. Agora não é mais a ficção cientifica com aqueles enredos de planetas de macacos e seus sistemas de governo, muita gente por aqui já achando até bonitinha aquela macaca mandona do seriado da televisão.

Aliás, sempre que os macacos ostentam prosperidade as coisas não ficam boas para nós, por essas bandas.

Uma vez, quando aquela série estava para começar, eu escrevi um artigo apenas descrevendo o perfil de cada macaco no planeta, mas cometi a inocente imprudência de fazer uma chamada com uma foto do macaco chefe na primeira página.

Aquela canção da Maysa pareceu tocar a mil rotações por minuto nos meus ouvidos - meu mundo caiu. Da carreira que me deram, fui parar em Brasília. Só agora pude voltar independente, definitivamente, trinta anos depois.

Naquele tempo, jornalista apanhava, era obrigado a engolir o jornal, imagina se já existisse internet e esses imirantes, imigrantes de guerras particulares, desertores da verdade, o que a intolerância não já teria feito?

A inteligência dos macacos, das macacas em particular, sempre me encantou. Menino, na volta da escola parava na feira para ver as artes dos propagandistas.

Tinha o homem da cobra, que fazia um suspense danado. Vendia suas piula contra, em trouxinhas de papel celofane, quem sabe até se não era diamba, erva de muitos quintais, que nem dava encrenca naquele tempo.

E tinha o homem da macaca. Não era uma macaca avantajada, alguma espécie que merecesse assédio dos olheiros da revista Playboy. Macacas que se dão respeito não tatuam em ponto nenhum o seu latifúndio. Mas era boa de dança, dançava tudo, até toada de boi.

A roda de curiosos se fechava, um homem começava a tocar um pandeiro e lá vinha ela toda formosa, não recordo seu nome, fogosa num vestido de chita, o pandeiro marcando compasso, a macaca dançando, o encantamento era tanto que quase nem dava para perceber seus limites de atuação, a autonomia da sua ilha, a metragem do seu confinamento existencial.

Outro homem, muito discreto, é quem monitorava a macaca, usando uma corda fina como se fosse um cabresto. Conforme o movimento que fazia com a corda, o do pandeiro mudava o ritmo e ela correspondia com um tipo de dança.

Depois das danças, a macaca dava um show de submissão e disciplina. O discreto homem do cabresto agora lhe entregava um chapéu. E ela, segurando-o com as duas mãos, passava-o de um a um, arrecadando. Depois entregava o chapéu com o dinheiro ao discreto homem, o seu monitor. Que tal, tia Hebe?

Bem, depois dos testes entre os três macacos crianças e os doze universitários, vamos ao que disse o cientista japonês, Tetsuro Matsuzawa, um dos responsáveis pela pesquisa. "Com isso demonstramos que os chipanzés têm uma incrível capacidade de memorização para ordem numérica, melhor que a de humanos adultos testados com os mesmos aparelhos e os mesmos procedimentos".

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA





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