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A verdade é a mesma apesar do tempo

Em palestra proferida na última quarta-feira, no evento "O Capital Intelectual como estratégia na Advocacia´´, promovido pelo escritório Selem, Bertozzi & Consultores Associados, o presidente da OAB, Cezar Britto, informou que atualmente o número de bacharéis no Brasil chega à extraordinária cifra de 600.000. Isso mesmo: seiscentos mil. E que há 2.000.000 (dois milhões) de alunos estudando para ampliar esse total.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Atualizado em 15 de abril de 2008 10:57


A verdade é a mesma apesar do tempo

Professores fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem

René Ariel Dotti*

Em palestra proferida no evento "O Capital Intelectual como estratégia na Advocacia'', promovido pelo escritório Selem, Bertozzi & Consultores Associados, o presidente da OAB, Cezar Britto, informou que atualmente o número de bacharéis no Brasil chega à extraordinária cifra de 600.000. Isso mesmo: seiscentos mil. E que há 2.000.000 (dois milhões) de alunos estudando para ampliar esse total.

O fenômeno da multiplicação geométrica de profissionais em desproporção aritmética à estável demanda do mercado deve-se, obviamente, à expansão intolerável dos cursos de Direito, apesar da resistência da Ordem dos Advogados, que analisa e emite parecer nos novos pedidos de instalação e funcionamento.

Diversas conseqüências, profundamente negativas, resultam dessa distorção que nos últimos anos vinha sendo alimentada pelos governos federais em atenção a uma desastrada política educacional: a facilitação, ao extremo, do ingresso de jovens nas instituições de ensino superior para "superar" o ócio provocado pelo desemprego, que é fruto da má política econômica.

Há dois resultados óbvios:

a) o ingresso no serviço público de bacharéis despreparados para a função;

b) a concorrência desleal entre os profissionais da advocacia.

Quanto à primeira, o Exame de Ordem e o rigor de concursos como os da Magistratura e do Ministério Público podem atenuar esse grave inconveniente. Atenuar, mas não eliminar, porque em muitas situações, a sorte que ajuda e o nepotismo que acolhe, promovem aqui e ali ignorantes letrados que fazem da autoridade do cargo a barreira para esconder a incompetência funcional.

Esse imenso grupo é resultado de uma parceria que tem se mantido ao longo dos milênios: o professor que finge ensinar e aluno que finge aprender. Para obter adesão silenciosa das turmas e se manter na docência para a qual nunca estiveram preparados, certos "mestres" adotam a receita de "passar a mão na cabeça do aluno".

Para uns e para outros, vale reproduzir as palavras de Platão (cerca de 428-347 a. C): "Quando docentes, em vez de levarem seus estudantes com mão segura ao caminho certo, se sentem atemorizados diante deles e se admiram com o desprezo que os alunos lhe devotam; quando os inexperientes ousam nivelar-se aos mais velhos e experientes, enfrentando-os com palavras e ações, enquanto os velhos se misturam à juventude no intuito de obter agrado fácil, ignorando ou mesmo participando dos seus delitos na intenção de assim parecerem nem caducos e nem autoritários; quando a juventude, desviada da rota apropriada, se sente reprimida, revoltando-se contra as obrigações mais comezinhas, já que ninguém lhe ensinou obedecer àqueles ditames sem os quais não há convivência social, impõe-se o máximo cuidado: a tirania bate às portas". (Politéa: Tradução moderna de Erwin Theodor Rosenthal).

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*Advogado do Escritório Professor René Dotti









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