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Responsabilidade Social Empresarial

Rafael Salomão Miranda Ribeiro

Muito se fala hoje sobre a importância da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) na organização e funcionamento das empresas, mas a questão principal é em que consiste exatamente a RSE e por que ela se torna cada vez mais importante?

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Atualizado em 15 de setembro de 2004 10:06

Responsabilidade Social Empresarial

A ética em benefício dos negócios


Rafael Salomão Miranda Ribeiro*

Muito se fala hoje sobre a importância da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) na organização e funcionamento das empresas, mas a questão principal é em que consiste exatamente a RSE e por que ela se torna cada vez mais importante?

Primeiramente, cabe distinguir a RSE de outros conceitos com os quais comumente é confundida. Diferentemente do que ocorre na filantropia, a RSE implica mais que uma ação isolada e não apenas utiliza recursos financeiros ou equivalentes para lidar com uma questão específica, mas permeia toda a empresa e a conduz à realização do bem comum. Essa iniciativa atende a todas as partes interessadas ("stakeholders") afetadas pela sua existência e não somente a um grupo beneficiado por uma determinada ação filantrópica. A filantropia pode ser uma ação de RSE, mas a RSE não está limitada à filantropia, nem se restringe aos programas de qualidade das empresas.

Também é comum relacionar a RSE com o Terceiro Setor, com organizações não-governamentais ou sem fins lucrativos. Entretanto, a importância e a força da RSE devem-se, primordialmente, a sua relação com as empresas que visam o lucro, com as quais lidamos cotidianamente.

Podemos dizer que a RSE tem origem na percepção de que as empresas devem procurar o bem-estar comum, cientes de que suas ações afetam a comunidade onde estão situadas, bem como seus clientes, fornecedores, acionistas, empregados, enfim, todos os stakeholders. Se a busca pelo bem-estar comum é principalmente ética, não devemos ignorar os benefícios econômicos que dela derivam.

No começo do capitalismo contemporâneo - o capitalismo de massa típico do século XX -, dava-se maior ênfase à eficiência do processo produtivo, pois o mercado era regulado, primordialmente, pelas empresas e por sua capacidade de incremento da oferta. Nessa época, as preocupações com qualidade, questões sociais, ambientais e com os consumidores eram mínimas e, em alguns casos, sequer cogitadas.

Entretanto, gradualmente, as relações nos canais de distribuição mudaram e, na maior parte dos mercados, o poder real hoje está nas mãos dos clientes. Foi em função deles que as transformações mais importantes nas cadeias de valor ocorreram nas últimas décadas. Neste sentido, testemunhamos as circunstâncias que incentivaram as empresas a investir recursos na diversificação de produtos, flexibilidade na produção e qualidade, de forma a bem atender à demanda. Com a crescente influência da opinião pública, outras preocupações entraram na pauta. Do conjunto dessas forças que atuam no mercado mundial, especialmente nos mercados mais desenvolvidos, é que surgiu, enfim, o conceito de RSE.

A Responsabilidade Social Empresarial é um agregado de políticas e práticas fundamentadas na ética, que visam ajustar as empresas adequadamente ao seu papel e responsabilidade quanto a questões sociais, ambientais, legais, consumerícias, trabalhistas e outras igualmente pertinentes, como a promoção da diversidade e oportunidades iguais no ambiente de trabalho e o combate à corrupção e ao trabalho infantil. A RSE é, em boa parte, atendimento à legislação em vigor, mas vai além disso: leva em conta benefícios a todos os steakholders, traduzindo-se em estratégias de inclusão social, qualidade ambiental, transparência nas práticas de negócios e nas relações com o governo e com a sociedade, fornecedores e clientes, entre outras.

Outro ponto a ser observado é que a RSE não está sujeita a critérios subjetivos de mensuração. Suas práticas podem ser avaliadas e classificadas, uma vez que cumprem a legislação e atendem a itens padronizados para fins de certificação. Muitas empresas recorrem hoje a procedimentos de auditoria para periodicamente averiguar itens de RSE e fomentar melhorias.

Ao pautar-se pela RSE, o setor empresarial não somente fará o bem e o que eticamente é esperado dele por conta de seus enormes recursos financeiros, tecnológicos, econômicos e políticos. As empresas também se beneficiam economicamente dessas práticas, pois estão mais integradas com seus stakeholders, o que favorece a criação de um círculo virtuoso aproveitado por todos, incluindo os acionistas. Portanto, adotar a Responsabilidade Social Empresarial não é somente fazer o que é certo, mas é também criar condições imprescindíveis para o desenvolvimento de vantagens competitivas, com benefícios estendidos a toda a cadeia produtiva. Enfim, fazer o bem e prosperar.
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* Advogado do escritório Veirano Advogados









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