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Obama e Nat King Cole

Há algum tempo presenciei uma teima entre amigos. Um dizia que Nat King Cole era norte-americano, outro refutava afirmando que se tratava de um músico hispano-americano, talvez porto-riquenho.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Atualizado em 28 de janeiro de 2009 10:44


Obama e Nat King Cole

Sérgio Roxo da Fonseca*

Há algum tempo presenciei uma teima entre amigos. Um dizia que Nat King Cole era norte-americano, outro refutava afirmando que se tratava de um músico hispano-americano, talvez porto-riquenho.

Gosto de resolver controvérsias e sempre tive uma insuperável admiração por Nat King Cole que considerava ser o mais perfeito cantor norte-americano, bem melhor do que Sinatra.

Com certeza Nat King Cole nasceu nos Estados Unidos. No Estado de Alabama. Não se sabe, contudo, a data porque naquela época na sua região era proibido o registro de nascimento das crianças negras. Aprendeu a cantar e a tocar piano na igreja que frequentava. Afirmam que tinha "ouvido absoluto", uma raridade, mas que, mesmo assim, não merecia ter o nascimento registrado porque nascido de mãe e pai negros.

Viu-se obrigado a cantar ou para brancos ou para pretos, nunca para plateia mista. Nada de misturar raças, nem mesmo para ouvir músicas. Seu contemporâneo, Sammy Davis Jr. narrava que depois dos espetáculos, os músicos negros eram obrigados a sair por uma porta diferente da usada pelos músicos brancos. Não faz muito tempo isso. Estávamos na segunda metade do século XX.

Pior eram os estudantes negros que não podiam frequentar escolas destinadas a colegas brancos, nem mesmo estavam autorizados a usar o mesmo ônibus. Uma sociedade tão cruel foi abalada pela pregação anti-racista do reverendo Martin Luther King. Muitos brancos e negros norte-americanos acorreram a sua pregação e boa parte do racismo foi derrotada. Mas a luta teve um preço de sangue. Assassinaram o Reverendo Martin Luther King. Entre outros. Afirma-se que até hoje a Justiça daquele país dispensa aos negros tratamento mais severo do que o aplicado aos brancos.

Muita coisa mudou no final do século XX. O estudante Obama, filho de mulçumano, conseguiu matrícula na Universidade de Harvard, um dos centros mais autorizados dos EEUU. Obama teve uma atuação notável como estudante, ressaltando-se entre seus contemporâneos.

Eleito presidente dos EUA. Afirma-se que o aprofundamento dos ideais democráticos não cessa aí. A considerar, no entanto, que a assunção de um negro na presidência dos EUA, 50 anos após iniciar as carreiras de Martin Luther King, de Nat King Cole e de Sammy Davis Jr., por si só, representa um enorme avanço. Que não se transforme em retrocesso, amém. A pressão que deverá sofrer Obama será indescritível. Talvez seja autorizado a modificar alguma coisa para que tudo possa permanecer inalterável, conforme a profecia de Lampedusa.

Dentro de tal quadro, é possível afirmar que a eleição de Obama, a sua posse e a concreção de seus primeiros atos já contribuíram de maneira decisiva para o aperfeiçoamento das relações humanas nos EUA. E certamente também no mundo.

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*Advogado, Procurador de Justiça aposentado do Ministério Público de São Paulo, professor da Faculdade de Direito COC





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