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Marketing jurídico em tempos de coronavírus

Valdo Reis

O mundo corporativo não foi poupado. E todos os que delem fazem parte vivenciam um novo modus operandi: uma brusca mudança de hábitos, com a adoção de um novo modo de trabalhar e viver socialmente.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Atualizado às 11:09

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Momentos como este que estamos vivendo deixam marcas profundas na sociedade. Em pleno século XXI, trata-se da pior crise que o planeta já experimentou, comparada somente à gripe espanhola de 1918.

A pandemia de covid-19 revelou-se uma ameaça real e radical, da noite para o dia, e o mundo não contava com os efeitos devastadores do coronavírus, seja na saúde, na economia, na política, na educação, atingindo em cheio o dia a dia das pessoas, seus hábitos mais primordiais, seu ir e vir e especialmente sua forma de se relacionar com seus semelhantes.

Sim. As sociedades vivenciam profundas mudanças, com inúmeras e importantes consequências, entre elas grandes transformações digitais, provocando uma verdadeira revolução nas relações sociais, de uma forma sem precedentes na história.

O mundo corporativo não foi poupado. E todos os que delem fazem parte vivenciam um novo modus operandi: uma brusca mudança de hábitos, com a adoção de um novo modo de trabalhar e viver socialmente.

Incrível a capacidade do ser humano de se reinventar... e descobrir formas alternativas para dar continuidade aos seus projetos e objetivos.

É bom? É positivo? Saberemos com o passar dos tempos.

Na prática, aqui no Fragata e Antunes, mostramos que fomos capazes de nos adaptar, rapidamente, aos novos tempos: 400 pessoas em home office operando normalmente, reuniões com 150 pessoas ao mesmo tempo (quando imaginamos ser isto possível?), audiências virtuais e sustentações orais virtuais, hoje uma realidade possível. Pois é, um grande aprendizado. E por uma ironia do destino, graças à pandemia!!

Descobriu-se o pote de ouro para vários negócios, descobriu-se o grande "barato" de se viver uma vida digital.

Mas e o convívio social, como fica? E o trabalho externo? Voltará ao normal quando tudo isto passar? As reuniões de negócios? A conquista de novos clientes e o relacionamento com aqueles que já são nossos? Como serão?

Com a necessidade do isolamento social, o trabalho remoto passou a ser uma exigência, uma importante e significativa inovação. O Marketing Jurídico também terá que se adaptar a essa nova realidade.

Parece que, "antevendo" este momento pandêmico, o novo Código de Ética e Disciplina da OAB, que entrou em vigor em 2016 (o primeiro data de 1934, o segundo de 1995 e ficou em vigor até 2016), avançou na questão virtual, permitindo a divulgação dos escritórios por meio eletrônico, em redes sociais, mas preservando os mesmos princípios de moderação e sobriedade, adotados desde os primórdios da criação da Ordem dos Advogados, em 1930, segundo os quais a advocacia só pode ser exercida com base em rigorosos padrões éticos, sem jamais se igualar à prática mercantilista. Este também é o escopo deste novo Código.

O método, que antes era apenas uma tendência, hoje é a principal saída para evitar o contato físico que pode propagar o vírus. A efetivação de ações de marketing continua sendo necessária e estratégica para que os escritórios de advocacia continuem crescendo, ou seja, é preciso investir recursos extras em ferramentas que auxiliem a estratégia digital.

A internet hoje não é fator coadjuvante neste processo pandêmico: é sim protagonista, altamente necessária e eficaz como meio de divulgação. O principal instrumento para que os escritórios mantenham sua visibilidade é a detenção de redes sociais preparadas para a acessibilidade como o Linkedin, o Instagram, o Facebook, o WhatsApp, ou o próprio site do escritório. Tal divulgação em redes sociais, conhecida como Marketing de conteúdo, é o canal indispensável para que o profissional possa divulgar vídeos, artigos, pareceres, opiniões sobre cada assunto específico de cada uma das áreas do Direito.

Desta forma, desponta o Marketing Jurídico Digital. E as soluções de tecnologia entram no processo como grandes aliadas.

Com elevado poder de segmentação, quando feito profissionalmente, o Marketing Jurídico Digital é a melhor estratégia para quem quer continuar em sua escalada de crescimento.

Difícil se adaptar às mudanças sem o contato pessoal, aquele que o Marketing Jurídico ensinou e valorizou até hoje; evidente que é. Mas pesquisas revelam exemplos no mundo, como o da Estônia, um pequeno país no Mar Báltico, onde a vida virtual é uma realidade há muitos anos, onde a totalidade dos serviços é oferecida de forma virtual, onde até o voto pode ser virtual. O know-how digital permitiu à população da Estônia conviver com este surto epidêmico com menos traumas comparado ao resto do mundo, porque muitos dos processos e atividades diárias dos seus habitantes continuaram acontecendo normalmente.

A tendência mundial é que a partir da pandemia, a automação dos processos seja amplamente utilizada, em todos os setores da economia, como na Estônia.

Vivemos em novos tempos onde a realidade nos permite acompanhar audiências virtuais, sustentações orais virtuais, reuniões virtuais, sessões dos Tribunais Superiores, Tribunais Regionais Estaduais, Tribunais de Justiça Estaduais, Tribunais de Contas... Enfim, todos os órgãos de governo hoje são virtuais!! E aí surge a questão: Por que a conquista de novos negócios não pode ser também virtual?

E a resposta: Pode. A depender da forma como esta conquista será trabalhada. A nosso ver, a abordagem profissional continuará norteando o contato, com base nos princípios da ética, responsabilidade e principalmente inteligência, porque o Código de Ética da OAB sempre será o balizador de nossas atitudes, e é dever do advogado praticar a publicidade de forma limpa e discreta no intuito de preservar a dignidade e o prestigio da profissão. Marketing e tecnologia deverão estar mais integrados do que nunca, e é através deste branding, ou seja, deste conjunto de estratégias a serem aplicadas, aliado a um bom conteúdo, que vamos influenciar os nossos consumidores a adquirir nossos serviços.

A despeito de toda a explanação acima em prol do Marketing Jurídico Digital, que se revela efetivamente como uma tendência em tempos de crise, vale ressaltar: NADA, absolutamente nada é igual ao contato presencial, ao calor humano. Não há tecnologia que o substitua, sendo impossível negar o valor de uma negociação direta e de uma conversa "olho no olho", o aperto de mão, o cafezinho na sala de reunião, a interação tão peculiar que um relacionamento pessoal exige nestes momentos de conquista, ou seja, o poder da linguagem corporal. Creio que nestes momentos a confiança flua com mais intensidade e veracidade.

Presencialmente, as pessoas conseguem discutir assuntos com mais tranquilidade, expõem seus pontos de vista de forma mais assertiva, produzem a inexplicável química de tangenciar uma negociação, transformando o intangível em tangível, e no final, a consequência é uma maior empatia entre os integrantes.

O diferencial competitivo de uma reunião presencial, prática inerente ao ambiente corporativo, está nas pessoas, especialmente naquela que tem algo a oferecer, e não pode ser copiado por nenhum concorrente porque ele é puramente pessoal.

A tecnologia, se usada com sabedoria e visão de futuro, será uma grande aliada na volta ao ambiente normal de trabalho. Tudo será diferente após a pandemia. A maior presença da tecnologia nas relações sociais criará uma sociedade cada vez mais evoluída, e teremos um mundo novo no nosso caminho.

É incontestável que vamos aprender a "pensar" de maneira mais digital. Contudo, existem coisas que tecnologia nenhuma substitui ou substituirá; justamente aquilo de que muita gente está sentindo falta: do simples contato, do afeto, do cheiro, das sensações, de um sorriso... em suma, de GENTE. Ferramentas auxiliam no processo, mas não agregam requisitos essenciais na hora da venda, coisa que somente um bom vendedor sabe fazer: vender, e isso a tecnologia não faz.

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*Valdo Reis é Relações Institucionais no Fragata e Antunes Advogados.

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