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Seu corpo chegou ao chão, sua alma subiu ao céu

Ele era mais um menino alegre e bonito, desses que sempre vejo perto da minha casa. Ele era apenas mais um dos inúmeros garotos que, na ânsia de viver, tomam um caminho sem volta. Era simplesmente um jovem que se recusou a crescer e resolveu que iria ser sempre uma criança.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Atualizado às 10:12


Seu corpo chegou ao chão, sua alma subiu ao céu

Sylvia Romano*

Ele era mais um menino alegre e bonito, desses que sempre vejo perto da minha casa. Ele era apenas mais um dos inúmeros garotos que, na ânsia de viver, tomam um caminho sem volta. Era simplesmente um jovem que se recusou a crescer e resolveu que iria ser sempre uma criança. O mundo o assustou e ele se refugiou no esconderijo de algumas pequenas doses que trancaram a sua razão e lhe deram a fantasia de que tudo iria ficar bem, num lugar onde ele seria o rei. Acho que foi feliz, por breves momentos, às custas da imensa tristeza da família, dos seus amigos e de todos aqueles que o amavam. Seu mundo se tornou cheio de luzes, cores, medos e tremores. As horas, os dias e o tempo não existiam mais. O vazio foi ficando cada vez maior; a solidão, o frio, e o nada eram suas companhias constantes. E tal qual Ismália, "suas asas de anjo rufaram de par em par, seu corpo desceu ao chão, sua alma subiu ao céu".

Mas sua vida não foi em vão, pois serviu de exemplo para muitos amigos, tão próximos de embarcarem na mesma viagem na qual ele experimentou e ficou. Serviu, também, de inferno para seus pais aqui na terra, o que já lhes garantiu o céu, bem como, deu esperança e vida a um grande número de enfermos com os quais repartiu seu corpo.

 Eu não o conheci, provavelmente um dia devemos ter nos visto, pois éramos do mesmo bairro e ele até poderia ter sido meu filho. Soube da sua história, sofri e rezei por sua alma. Não poderia deixar de escrever sobre este fato, que serviu de inspiração para redigir estas palavras e que, espero, façam quem as estiver lendo refletir sobre o grande problema das drogas que vem ceifando uma juventude tão promissora, acarretando tantas desgraças e infelicidades e causando grandes prejuízos à nação. Os principais culpados por essa situação são o Estado e a Justiça, uma vez que deveriam coibir e punir com mais eficiência a grande máquina dos cartéis de drogas que parecem estar se fortalecendo dia a dia, corrompendo toda uma mocidade.

Campanhas de alerta e um combate sistemático e eficiente ao tráfico há muito já deveriam ter sido implantados. Cartilhas, como se dizia antigamente, deveriam ser criadas para os jovens e seus pais ou responsáveis, incentivando o diálogo de gerações, mostrando as conseqüências de uma curiosidade mórbida, envolvente e perigosa que, com certeza trará desgraça aos seus usuários e familiares e, ao mesmo tempo, altos lucros aos facínoras e criminosos que se dedicam ao tráfico, hoje cada vez mais próximo de todos nós.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados










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