Artigo - Paulo de Souza: a dignidade do profissional 12/1/2010 Cleanto Farina Weidlich – migalheiro, Carazinho/RS "Homenagem à Paulo de Souza:, no dá pra ficar parado, ...lendo a homenagem prestada pelo colega Pitombo, recordei um velho escriba, ...que exigia requerimento - fundamentado - dos filhos, por escrito, para os ingressos de matiné, e mais tarde escrevia cartas aos netos, postando-as nos correios, ...e se não viesse a resposta, cortava a mesada aos incautos (Migalhas 2.304 - 12/1/10 - ""Paulo de Souza : a dignidade do profissional"" - clique aqui). Não podia ter eleito melhor escolta, o Borges, só tinha um pequeno defeito, ser patrício do Maradona, ...e é dele próprio que lembro uma passagem, ...conhecida como seu último texto, que aproveitando a carona, dedico ao meu amigo Francimar Torres Maia,... Uma oração Jorge Luis Borges Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados. Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo. Caro colega Dr. Pitombo, ...existem situações na vida, que nos cegam, quando nos deparamos com pessoas dessa envergadura moral, paciência, disciplina e nos servem como exemplos, ... não tenho ciúmes do afeto que dedicou ao seu amigo, pois, tenho o meu Francimar, ...que aos poucos, ...assim em doses homeopáticas, está me ensinando a ver. Cordiais saudações!" Envie sua Migalha