Migalhas

"Aplaudido redator-chefe: inspiradora a frase-mór que encima (em néon 3D) o boletim desta terça-feira (Migalhas 2.324 - 9/2/10 - clique aqui). Além de evidentemente inspirado Bernard Shaw deveria estar, igualmente, desgostoso com algo ou alguém no seu entorno ao lascar a frase: 'uma prisão, quem mais vive aflito é o diretor'. Parafraseando-o, de certa forma, também se pode contemporânea e paulistaneamente afirmar que 'No Projeto Centro Legal de São Paulo os legais vivem cada vez mais aflitos'. É que a Associação Viva o Centro apoiada pela Associação Comercial de São Paulo, Prefeitura e o Executivo Estadual promovem há sete meses o projeto intitulado Centro Legal visando, em tese, restituir o chamado centro antigo da cidade, assim entendidas as ruas lindeiras à Estação da Luz, aos seus usuários de direito, quais sejam os poucos moradores, os muito comerciantes e os trabalhadores apressados com destino às estações de trem ou do metrô. Tal 'devolução' implica entre outras providências, erradicar a chamada 'cracolândia' anteriormente localizada nas imediações da Rua do Triunfo e Rua Gal. Couto de Magalhães. Pois não é que 210 dias depois de iniciado o referido projeto o empreendimento informal de distribuição de substâncias estupefacientes ampliou sua área de atuação atingindo dez ruas dos bairros da Luz e Santa Ifigênia? E, mais interessante, os coordenadores do, até agora, malfadado projeto, declararam à imprensa que 'é melhor assim, pois fica mais fácil dos agentes sociais identificarem o problema'. Daí a analogia à frase de Shaw, pois os que ali ainda estão instalados legalmente, leia-se, comerciantes de eletro-eletrônicos (a região detém o maior centro lojista do ramo no Brasil) sofrem grandes atribulações oriundas do fomento à prática da utilização diuturna do crack. Fica no ar uma dúvida cruel: querem mesmo erradicar a cracolândia ou o ânimo dos comerciantes visando seu êxodo e futura especulação imobiliária neste que, logisticamente, é um trecho nobre da cidade?"