Estagiário do STJ

26/10/2010
Ana Luiza Wambier

"Infelizmente casos como o do ministro Ari Pargendler são endossados por diversas autoridades em todo o país (Migalhas 2.497 - 25/10/10 - "Você sabe com quem está falando ?" - clique aqui). Parece-me que é uma característica da cultura brasileira. Recentemente realizei uma audiência no Juizado Especial Criminal em que eram noticiantes a filha e o genro do presidente do TJ cujo Estado prefiro não mencionar, mas que é tomado pelo corporativismo, e noticiado o meu cliente, um médico. Não bastasse os noticiados terem chegado com aproximadamente 50 minutos de atraso, quando eu e meu cliente já estávamos indo embora, exigiram que a audiência tivesse início, o que foi prontamente atendido pela juíza leiga. Frise-se que uma das partes, o genro do dr. presidente, não se posicionou como parte no processo, sentando-se sempre ao lado da sra. juíza, com ela conversando o tempo inteiro. Iniciado o ato, a primeira noticiante narrou sua versão dos fatos sem ser interrompida em nenhum momento, apesar de ter trazido à tona um boletim de ocorrência sigiloso obtido ilegalmente, sob abuso de poder e violação de sigilo funcional. Passada a palavra ao meu cliente, este era, a cada palavra proferida, hostilizado sobremaneira tanto pelas partes adversas quanto pelo respectivo causídico. Ao solicitar a ordem para a sra. juíza que presidia a audiência, eu era sumariamente ignorada, quando, surpreendentemente, o segundo noticiante chama meu cliente de 'vagabundo'. Isso mesmo, a audiência fora presenteada com um sonoro 'vagabundo'. Ao questionar o segundo noticiante sobre o motivo de tal impropério proferido em pleno ato solene, este aumenta o tom de voz e repete, por diversas vezes, que 'não interessava o que ele havia dito'. Ora, numa audiência, tudo o que é dito é de extremo interesse para ambas as partes. Argumentando com a juíza e leiga e, posteriormente, com a supervisora, que o noticiante havia ofendido tanto a honra de meu cliente quanto minha dignidade funcional, a resposta obtida foi a de que eu estava tentando tumultuar a audiência... Mais uma vez a cultura do 'sabe com quem está falando ?' imperou impunemente."

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