Crise

24/8/2005
Adauto Suannes

"Deu no Migalhas (1.230 - 12/8/05) - "Sua eleição valeu. Valeu por nos trazer a esta realidade democrática capaz de romper a cultura da hipocrisia e da corrupção instaladas no sistema político há tanto tempo." 

Caros migalheiros. Quando resolvi ser magistrado, minha filha mais velha questionou-me: "Mas você acredita na Justiça?" Sem ter muito o que dizer, saí com algo como "quem sabe eu contribua para haver menos injustiça?" Ela estudou na PUC e foi petista de sair às ruas distribuindo propaganda e recebendo ofensas. Imagino como sua geração esteja a sentir-se hoje! Fui, como tantos de minha juventude, socialista, sem jamais haver acreditado no credo comunista. Era mais Jacques Maritain, Alceu Amoroso Lima e Leonardo Boff  do que Karl Marx. Estive em Cuba nos anos 90 e passei um ano na Noruega. Lá como cá o resultado do socialismo é o mesmo: conformismo do mais alto grau. Burocracia que entrava qualquer atividade minimamente séria. É mais importante o funcionário gozar férias do que a empresa atender a um pedido de última hora. Um país onde o salário mínimo oficial chega a algo como R$ 5.000,00 (cinco mi reais), como cá, produz no homem comum o mesmo que o salário quase nenhum de lá: falta de estímulo para progredir. As faculdades norueguesas quase não têm alunos, pois não há qualquer vantagem em ter curso superior. E os alunos estrangeiros, mais preparados, são boicotados pelos poucos noruegueses que as freqüentam. Mas estou certo de que, se um escândalo das proporções daquele que varre o Brasil (e é noticiado na Europa com compreensível sadismo) ocorresse por aqui, o mínimo que ocorreria é o ocupante do cargo público renunciar. A situação do presidente Luiz Inácio é extremamente difícil: ou sabia e não impediu que isso tudo ocorresse; ou não sabia e deve pagar pela desídia com que vem administrando a coisa pública. Culpa in vigilando também é culpa! Aliás, qual o gerente de uma empresa de grande porte que reúne seus auxiliares com a infreqüência com que o presidente da República Brasileira o faz? Ou seja, cada ministro é senhor de uma capitania não-hereditária, que administra como bem lhe aprouver. Quer dar show na Europa e continuar a receber os proventos de ministro? Quer fazer negociatas com dinheiro de propaganda? Quer utilizar pro domo sua o dinheiro enviado por organizações internacionais a fundo perdido? Nada disso é com ele. É como se o país tivesse vários presidentes, cada um demissível à medida em que a imprensa descobre suas mazelas. O importante não é ser honesto; é não deixar que descubram a desonestidade. Caiu a República Socialista Soviética, caiu o muro de Berlim e caiu o Partido dos Trabalhadores. Que resta ao Exmo. Sr. Presidente da República? Imitar Getúlio Vargas? Imitar Jânio Quadros? Imitar Fernando Collor de Mello? Ou ser original? Difícil ser original quando as premissas são as mesmas. Volto para o Brasil, contra minha vontade, para unir-me àqueles que, à maneira de nosso queridíssimo mestre Goffredo, pretendem sair à rua e marchar até Brasília, se preciso for. Contem comigo mais uma vez. Sou"

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