Cotas

10/6/2014
Gisele Goursand Parente

"Não vejo motivo para maiores comemorações o fato de haver sido instituído mais um programa baseado na ideia de "dar o peixe" aos historicamente excluídos (Migalhas 3.385 - 10/6/14 - "Cotas" - clique aqui). Se, de fato, por um lado, muitos brasileiros saíram da linha de pobreza pelos incentivos de tais programas, o que é muito bom como uma medida urgente para resgatar a dignidade desta camada desfavorecida, esta medida deveria ser transitória, passando a "ensinar a pescar" logo no momento seguinte, e não instituindo a cultura da mendicância a perder de vista. Os governos têm acumulado o déficit educacional há várias décadas, pois mesmo com o aumento da oferta das instituições educacionais, a defasagem quantitativa ainda é enorme. Se a análise passar a ser qualitativa, aí então é um verdadeiro desastre. O país tem andado na marcha a ré neste aspecto. Mas ao invés de encarar o problema de frente, criar vergonha e investir parte dos bilhões arrecadados anualmente por um governo crescentemente ganancioso e perdulário, que desperdiça os esforços de seus contribuintes com a maior desfaçatez, é bem mais cômodo continuar espalhando bolsas esmolas pelo país afora. É a mais pura tradução da forma que este governo quer continuar a conduzir a nação: nivelando por baixo, como tem sido sempre, e cada vez o baixo está mais embaixo. Já está famoso o padrão Brasil em geral, para tudo o que encontramos ao nosso redor, salvo algumas exceções. Vergonha nacional. Li há poucos meses atrás um artigo do Arnaldo Jabor falando sobre a africanização de nosso país. Eu havia comentado com algumas pessoas algo semelhante, falando que estamos próximos de ficarmos parecidos com a Índia. Constatei tristemente que eu estava muito otimista, e que o Jabor foi bem mais realista. Aqui quase não encontramos o ideal de meritocracia na educação pública, nem incentivos aos que trabalham nesta área, que recebem salários vergonhosamente baixos, o que só mostra a total falta de priorização e valorização da educação. Continuaremos ainda por um grande tempo a ser um país para inglês ver."

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