Falecimento - José Ignácio Botelho de Mesquita

23/6/2014
Arnaldo Malheiros Filho - escritório Malheiros Filho, Meggiolaro e Prado – Advogados

"Na última sexta-feira perdemos uma figura ímpar: José Ignácio Botelho de Mesquita, professor emérito do Largo de São Francisco (clique aqui). Tendo sido seu aluno, fico à vontade para dizer que, como docente, ele tinha um incrível talento para tornar fáceis as coisas complicadas e transmitir a ideia de modo atraente e saboroso. Isso sem falar no carinho que dedicava a seus pupilos, carinho que se revelava até mesmo nas admoestações, como, por exemplo, quando advertia estudantes que se fiavam na inteligência para menosprezar o estudo. Como jurista, destacava-se por um excepcional poder de concisão – que há de ser o objetivo de todos nós – mostrando que quanto mais conciso, mais denso é o texto. Vi brilhante parecer seu, de cinco páginas, matando a questão pela raiz. Duvido que o mais longo de sua carreira tivesse excedido 12. Seu clássico 'Da Ação Civil' é, com certeza, a tese de cátedra mais curtinha da história das faculdades de Direito do Brasil e é tão consistente que se transformou em raridade bibliográfica. Como pessoa, sua maior característica foi a verticalidade da coluna vertebral: jamais se curvou, por medo ou por vaidade. Preferiu ser escorraçado da Faculdade a dobrar-se à corja que então a dominava e que, não muito tempo depois, foi implorar pela sua volta. Por mais que eu esteja a estourar o espaço condigno, o que aqui digo não passa d'umas migalhas de uma vida tão rica, que tanto bem fez a tantos. A turma de 1972, a primeira de tantas a elegê-lo como paraninfo, está órfã. Mas há muitos mais órfãos dele."

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