Tiririca

1/10/2014
Antônio Celso Rodrigues

"O palhaço Tiririca, como se sabe, teve votação estrondosa nas eleições passadas em cima do slogan "pior do que está não fica", incorporando tanto o voto de protesto quanto o voto alienado, o voto dos que acreditavam com isso, bagunçar o que rejeitam nessa política que não os representa. Uma vez no Congresso, o deputado Tiririca demonstrou que realmente não piorou a nossa representação, ao contrário a melhorou até. Mesmo não fazendo nenhum discurso durante esses quatro anos, mesmo apresentando poucos projetos, o deputado compareceu a todas as sessões, votou em tudo de forma coerente, com a sua história e com as ideias do seu partido, participou ativamente de comissões e, isso é importante, não foi alvo de nenhuma acusação quer por irregularidades, quer por comportamento inadequado à função. O que não se pode dizer de uma boa parte daquela casa. Pois bem, agora candidato a reeleição ele se vê num dilema cruel. Se reivindica pra si essa boa performance vira um deputado comum e, aí, sem o "appeal" da transgressão, do protesto, correria ou risco forte de não se reeleger. Daí é obrigado a assumir nesta campanha a caricatura dele mesmo enquanto candidato deputado com mandato, voltando à velha forma com piadinhas descabidas, com gracinhas niilistas, e negando o que de melhor teve a nos oferecer: o artista enquanto ente político, independente do seu nível cultural. Mas se a gente pensar bem, principalmente observando a campanha eleitoral atual, isso não é incomum. O que se nos apresenta enquanto candidatos (com raríssimas exceções) são personagens construídos para seduzir eleitores. Ninguém é ele mesmo na busca pelo voto, todos se travestem do personagem que possam incorporar e que teria alguma adesão com os desejos do eleitor. O problema é que, se eleitos, voltam a serem eles mesmos, e daí..."

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