Governo Lula

15/2/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Hoje me lembrei de uma aula de Latim, no Colégio de São Bento. É, aprendíamos Latim antigamente. Não propriamente uma aula da minha classe, mas da de meu irmão, que também estudava no mesmo colégio e me contou o ocorrido. Ao ler, por ordem do professor, uma certa passagem, sobre Cícero, aquela que se inicia com 'Quousque tandem, Catilina, abutre patientia nostra', pronunciou 'quousque' como 'quósque', ouvindo do professor a reprimenda: quoúsque. Como é sabido, essa frase foi um desabafo de Cícero, em 63 a.C., que se mostrava exasperado com a desfaçatez de Catilina em comparecer ao Senado de Roma, depois de se ter descoberto que havia conspirado contra a República. A lembrança ocorreu ao ler a notícia de que o Senador Jefferson Péres deixou de ser oposição e que passará a ter um comportamento de ‘apoio crítico’ ao governo Lula. O Senador, após a reunião com o presidente, na qual comunicou sua nova disposição, foi cumprimentado por Lula, que apertou sua mão em retribuição. Daí, lembrei-me do discurso do Senador, ao Senado, em 30/8/2006, que está até no Youtube, na íntegra (clique aqui) para que ninguém esqueça. Naquela oportunidade, o Senador Péres manifestou seu desencanto com a vida pública e a política no país, afirmou que o presidente Lula foi conivente com os escândalos que fizeram parte de 2006, afirmando os desvios éticos do Planalto, sempre agindo em interesse próprio. Lembrou o manifesto dos artistas, com desânimo, principalmente quanto à afirmação de ser condizentes intelectuais que consideram que ‘política é isso mesmo. É meter a mão na merda’. Afirmou que Lula não deveria ser reeleito, mas destituído. Criticou o baixo nível intelectual e moral do Congresso Nacional, que qualificou de medíocre, e anunciou que, ao término de seu mandato, em 2010, estaria encerrando sua vida pública. O Senador, uma das vozes mais críticas ao governo Lula, agora elogia, promete seu apoio e cumprimenta o governante que, segundo ele mesmo, foi eleito na mais decepcionante eleição que já viu. Daí, lembrei-me, também, de 15/3/44 a.C., quando Julio César entrava no Senado de Roma para receber 23 punhaladas de seus pares, dirigindo suas derradeiras palavras a Brutus, seu único filho adotivo: 'Tu quoque, Brutus, filli mei'! Senti-me, como César, apunhalado pela reunião Lula/Péres. Mais uma voz que se cala. E isso porque seu partido, o PDT fez negócio com o Planalto, e decidiu que não mais está na oposição. Então, a pergunta que não quer calar: 'Tu quoque, Jefferson Péres'."

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