São Paulo 8/1/2008 Alessandra Corrêa Santos "A cidade de São Paulo no mês de janeiro é um presente para os paulistanos. Tranqüilidade. Nessa época costumo trocar o metrô pelo ônibus para curtir o 'maraaaasmo'. Saio de casa mais tarde e chego mais cedo ao trabalho, além de ir confortavelmente sentada durante todo o trajeto, ou seja, sem ninguém quase caindo no meu colo... Troco também o 'bar e lanches' onde tomo o café da manhã, que fica na rua onde trabalho, por outro na esquina da rua do Arouche com a Praça da República, onde os sucos são servidos em jarras e os salgados são bem recheados. É bom esclarecer que 'bar e lanches' é a denominação que os comerciantes adotaram para um tipo específico de lanchonete do centro da cidade. O acabamento interno da loja é de azulejos menores que o padrão e maiores que pastilhas, há frutas penduradas por toda parte e nas 'vitrines' há salgados de todos os tipos, desde coxinha até 'croissant' - que os franceses não saibam disso! Os atendentes estão sempre uniformizados com jalecos ou aventais (o nome que prefiram) e um chapeuzinho que faz lembrar o que meu pai, que era militar do corpo de bombeiros, chamava de bibico, nem sei se ainda existe. O mais interessante é que 99,9% desses trabalhadores são nordestinos. Não sei se os 'bares e lanches' existem por causa dos nordestinos, ou se os nordestinos existem por causa dos 'bares e lanches'. Digo isso porque não há ninguém mais apropriado para fazer o trabalho de atendente nesse tipo de comércio do que um nordestino. São alegres, capazes de sorrir e brincar nas primeiras horas da manhã pra um bando de paulistanos carrancudos e estressados que buscam o desjejum. Despachados, gritam pela lanchonete os pedidos e como se adaptam a tudo, exceção feita ao frio, foi facílimo assimilar a pressa paulistana e preparar tudo rapidamente e com a vantagem de fazê-lo com bom humor e à vista do consumidor. Além disso, atender a um cliente por duas vezes é o suficiente para cumprimentá-lo para o resto de sua vida, o que não é um comportamento comum para um paulistano da gema... E lá estava eu, hoje de manhã, sendo atendida por um desses heróicos personagens. Pedi o tradicional suco de laranja, mamão, cenoura e beterraba, que deu o que falar, como sempre, já que é muita informação 'frutífera' pra registrar de uma só vez... - Oxe, mas é fruta demais moça! - É, eu sei! Quero também um bauru assado. - Ô Zé, sai um 'três em um' com mamão. - Ô Figura, dá um bauruzinho pra princesa! Nesse meio tempo desocuparam três lugares no balcão e resolvi me sentar para olhar a agitação de trabalhadores e fregueses. No ato lembrei-me de um amigo de Curitiba - alto, louro e de olhos claros - que em uma breve visita a São Paulo esteve comigo no Sujinho. O comentário dele foi o seguinte, enquanto balançava a cabeça positivamente: - Isso aqui é a cara de São Paulo! O mais engraçado é que quando me voltei para pegar a jarra de suco, dei de cara com um 'pirulão' - pra quem não sabe, trata-se de um homem jovem e muito alto - louro de olhos azuis e com a expressão assustada, olhando pra todo aquele burburinho. Pois é Mauri, com essa coincidência de aparências logo depois de ter lembrado do seu comentário sobre o Sujinho, danei a rir sozinha imaginando você, numa de suas primeiras viagens para cá, em que quase foi parar em Minas Gerais em vez de em um bairro na zona sul de Sampa! Conclui, pela cara o 'pirulão', que São Paulo, ainda que em janeiro, continua a ser São Paulo! Não há, na minha opinião, tradução mais feliz para cidade que amo, que a de um conhecido baiano. Ele a chamou de 'realidade'. Carola, segue um trecho da composição do baiano de Santo Amaro da Purificação especialmente para você, Amiga: 'E foste um difícil começo Afasto o que não conheço E quem vende outro sonho Feliz de cidade Aprende depressa A chamar-te de realidade Porque és o avesso do avesso Do avesso do avesso...'. Beijos e boas férias aos que foram e aos que, como eu, ficaram," Envie sua Migalha