Tropa de Elite

8/1/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Eu sei que o filme Tropa de Elite já foi comentado aqui em Migalhas, mas gostaria de deixar minha opinião. Sinceramente, acho que deveria ter sido produzido em formato de documentário, utilizando cenas de reconstituição com trechos do próprio filme, mas ampliando o foco de debates. Porque aquilo que era para ser um 'despertador', uma mostra da 'realidade como ela é', e uma das melhores histórias em potencial dos últimos tempos do cinema brasileiro, acaba degringolando para a apologia à violência desmedida, 'uma necessidade a ser feita pelo lado do bem'. Gosto muito de cinema, e em determinado momento, não sei porquê, o final do filme fez-me recordar do final de 'Os Imperdoáveis', com Clint Eastwood. Só que, naquela obra, houve mais cinema. No filme brasileiro, houve um 'excesso de realidade', por assim dizer. Não que o filme peque nas denúncias que faz, de forma nada sutil. Não é isso. Mas é que a mensagem que se pretendia passar, a meu ver, foi esmagada pela apologia à violência a qualquer preço. Você vai ao cinema, fica feliz com uma produção nacional bem feita, com elenco afinado (nada excepcional), começa a gostar do filme, e vê tristemente a coisa desandar até o último ato, uma desgraça. Se fosse um documentário, talvez houvesse espaço para o aprofundamento final do tema que envolve a polícia do Rio de Janeiro, o tráfico nas favelas e fora delas, a corrupção infiltrada em todos os setores da sociedade, os aspectos morais envolvidos em todas as cenas - como no caso dos problemas familiares do Capitão Nascimento -, as soluções possíveis e a indicação de pautas de reflexão, tudo para que o ódio armado não fosse transformado em 'última tábua de salvação'. Wagner Moura faz um excelente trabalho. Mas, se alguém queria ver o filme num Oscar - outra coisa que perdeu o sentido nos últimos anos, devido aos 'lobbies' - os estrangeiros até podem perguntar: o brasileiro não sabe mais fazer cinema sem falar de 'realidade de favela'? 'Cidade de Deus', 'Central do Brasil', 'Carandiru', produções respeitadas e respeitáveis, são a principal tônica da nossa produção cinematográfica, a linha mestra do nosso 'pensar cinema'? Deixo também esta questão no ar. Por fim, 'Não matar' ainda é o quinto mandamento da Lei de Deus, assim como o artigo 121 do Código Penal permanece em vigor. Mesmo que tenhamos aplaudido as denúncias feitas pelo filme. Reflexão, pede pra entrar!"

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