FARC 14/1/2008 Pedro Luís de Campos Vergueiro - advogado e Procurador do Estado de São Paulo aposentado "O assunto do momento é a atuação das FARC – forças armadas revolucionárias da Colômbia. E a novidade que causa espanto é o conceito que para elas postula o presidente venezuelano Hugo Chávez. Depois de resolvida a questão do terceiro refém que, na realidade, há muito tempo não mais era um refém, as colombianas, Clara Rojas e Consuelo Gonzáles foram devolvidas para seu país, onde poderão exercer as liberdades decorrentes dos direitos humanos de que são titulares. Para tanto, sabemos, foi atravessador das negociações o presidente Chávez. No momento em que elas deixaram de estar nas mãos dos seus seqüestradores, encerrou-se esse cativeiro. Enfim; e a bom termo: vivas. Isso assentado, com duas reféns libertadas, o presidente Chávez pretende que as FARC sejam retiradas da lista global das entidades terroristas e que lhes seja dado o reconhecimento de que seriam meras forças insurgentes com um projeto político que se identifica com o tal projeto 'bolivariano' do Chávez para os países da América espanhola, projeto esse do qual é apologista. Ora, que diferença fará isso? Modificar a classificação conceitual das FARC não vai alterar o conceito dominante que desfruta: as FARC são o que são e o que demonstram ser. Modificar o nome, ou a sua qualificação, não vai acarretar mudança da sua natureza. É isso que o enorme Shakespeare demonstra de forma precisa na sua tragédia Júlio César. A forma como o personagem título morreu é fato deveras conhecido: foi assassinado por seus pares, no Senado Romano, caindo e morrendo aos pés da estátua de Pompeu. Um dos conspiradores era Cássio, seu desafeto, invejoso, e dissimulado, e traiçoeiro, que instou Brútus, o preferido de Júlio César, a participar da conspiração. E para convencê-lo a participar da conspiração (o que acabou conseguindo), um de seus argumentos não foi outro senão este: ''Brútus' e 'César'; mas o que há neste nome 'César'? Por que deveria ressoar mais que o seu? Escreva os dois juntos: o seu é nome igualmente belo. Pronuncie-os, e eles cabem na boca igualmente bem. Pese-os, e eles têm o mesmo peso. Use-os para invocar espíritos, e 'César' não será mais rápido que 'Brutus'' (Tradução de Beatriz Viégas-Faria). Aí está escrito: uma vez FARC, sempre FARC, segundo o conceito de terroristas ao que se acresceu o de narcotraficantes. Esta é a imagem que as FARC construíram para si próprias e que os últimos acontecimentos revelaram que nada mudou. Assim, como ainda estão, vir a qualificá-las como 'forças insurgentes' em nada vai alterar sua natureza já assentada, nem mesmo com o patrocínio do ditador democrático Hugo Chávez. Demonstração evidente da natureza que exala das FARC veio de ser ressaltado pela ex-refém (refém = pessoa que, contra sua vontade, está em poder de outrem como garantia de alguma coisa) Clara Rojas ao afirmar em sua entrevista pós libertação que o delito de seqüestro é de lesa-humanidade. Preocupa-me muito que eles digam que são um exército do povo, e a gente vê que treinam gente para seqüestrar. Em princípio, parece ser uma organização criminosa' (in O Estado de S. Paulo - 12/1/2008 – e também em outros jornais). E, ainda, com relação às declarações da ex-refém, seqüestrada que ficou durante seis anos, sem considerar a constante pressão psicológica, destaca-se sua revelação de que reféns, utilizáveis como moeda de troca, ficavam acorrentados pelos pés e pelo pescoço, sendo todos mantidos, como ressalta, em 'prisões coletivas', em ‘áreas cercadas por arame farpado'. É a revelação de uma história que guarda semelhança com deploráveis histórias recentes. Ademais, ela disse que os reféns não têm nenhuma assistência efetivamente médica quando adoentados. Portanto, dar às FARC o nome de 'forças beligerantes', além de ser uma aberração conceitual, em nada vai modificar a sua natureza de grupo guerrilheiro estreitamente vinculado, como dizem, ao narcotráfico. Resulta, daí, ser lastimável que, apesar do empenho na libertação das reféns, o presidente venezuelano demonstre uma nada moderada simpatia pelas FARC. E considerado o tom de desagravo dado pela concessão das FARC com a libertação das políticas colombianas, considerada a existência de reféns venezuelanos, considerada a pretensão do presidente venezuelano de se manter indefinidamente no Poder mediante reeleição sem limites, será que sua política para a América espanhola não está inspirada na política germânica do terceiro reich do anschluss, a começar pela vizinha Colômbia?" Envie sua Migalha