Antigas histórias dos calouros

27/2/2008
Marisa Galvão Klemm - escritório Franchi Consultores Associados

"Como foi meu primeiro dia de bicho? Foi no ano de 1994. Lá estava eu no primeiro dia de aula Na Faculdade de Ciências Contábeis e Econômicas 'Padre Anchieta', em Jundiaí (Migalhas 1.844 - 25/2/08 - "Calouros" - clique aqui). Por circunstâncias do destino, entrei tardiamente na faculdade – já estava com 31 anos. Tinha uma experiência enorme na profissão contábil, porém, faltava-me o ‘canudo’. Nunca imaginei que passaria no vestibular após 12 anos sem estudar. Incentivada pelos amigos do escritório em que trabalhava, consegui passar e estava muito feliz porque sempre desejei me formar em Ciências Contábeis. Estava sendo muito difícil encarar que iria ficar os próximos cinco anos sem compartilhar a presença dos meus filhos à noite para ir à faculdade. Ao mesmo tempo, estava animada para realizar o sonho tardio. Naquele primeiro dia de aula, pensei em não ir porque sabia do trote e tinha receio do que poderia acontecer. Tinha ouvido falar barbáries sobre os trotes, principalmente quanto às humilhações impostas aos calouros. Mas fui! Embora soubesse qual era a classe do primeiro ano, não ousei me aproximar quando vi que os veteranos estavam 'armados' com coquetéis fedorentos para jogar nos calouros, além, é claro de tesouras e diversos itens para pintura. Procurei fazer uma expressão facial diferente da que realmente sentia (susto, insegurança, medo etc). Aparentando nítida tranqüilidade, aproximei-me do beiral que dava para o pátio e fiquei observando o corre-corre, o pega-calouro, a gritaria e choradeira que acontecia, como se eu fosse uma veterana. Afinal, minha idade me protegia. E os veteranos passaram por mim e nem desconfiaram de nada. Então, inesperadamente, surgiu um colega chamado Cleverson, que já tinha trabalhado comigo e estava no quarto ano de contábeis – sim! Um veterano. Ele me reconheceu, se aproximou e perguntou o que eu fazia ali. Na hora gelei! Não sabia se poderia confiar nele e ao mesmo tempo se mentisse, talvez ele desconfiasse. Arrisquei e disse a verdade – sou uma caloura. E comecei a rezar, seja o que Deus quiser. Para meu alívio, ele não me delatou e ainda ficou ali conversando comigo. Depois dessa, me senti totalmente protegida. Valeu Cleverson! Embora nunca mais tenha te visto, nunca esquecerei! E nos dias seguintes soube das barbáries que sofreram meus colegas que não tiveram a mesma sorte. Coitadinhos. Sei que atualmente a direção da Faculdade 'Anchieta' não aprova e nem deixa mais ocorrer esse tipo de trote, incentivando a doação de alimentos e outras atitudes mais dignas. Iniciativa louvável, parabéns."

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