Dia Internacional da Mulher

7/3/2008
Paulo R. Duarte Lima - advogado - OAB/RN 6.175; OAB/CE 19.979-A

"'Nós Homens somos uns pobres criados dos preconceitos'. (O Amor nos tempos do Cólera – Gabriel García Márquez).

Dia 08 de março! Dia Internacional da Mulher! Esse ano será em um sábado, mas não pode ser olvidado. No passado, o que se deu início com uma homenagem às operárias vítimas de uma tragédia nos Estados Unidos da América (EUA), hoje já podemos comemorar alguns avanços significativos pela conquista e no respeito que se dá aos direitos do ser humano do gênero feminino. No ano de 1857, trabalhadoras de uma fábrica de produtos têxteis na Nova York (EUA) que entraram em greve para reivindicar a redução do horário de trabalho de 16 horas diárias para 10 horas (recebiam menos de um terço do salário dos homens) foram trancadas no prédio em chamas e cerca de 140 mulheres morreram queimadas. Com esse evento trágico, tiveram início a elaboração de legislações de proteção à saúde e à vida das operárias. Começou nos EUA e se espalhou pelo mundo. Todo um verdadeiro ciclo de lutas, numa era de grandes transformações econômicas e sociais até as primeiras décadas do século passado (XX), tornaram o dia internacional da mulher no símbolo da participação ativa das mulheres na vida do nosso planeta. Decorrido esse tempo, lembremo-nos de todo sofrimento e discriminação a que foram vítimas no passado e não nos esqueçamos do papel e a importância de se respeitar a dignidade da mulher que, se ainda sofre maus-tratos e limitações em várias partes do mundo e no Brasil também, nos indica claramente que qualquer tipo de preconceito e discriminação (cor da pele, sexo, condição social, idade...) deve sempre ser refutado e combatido com todas as energias que possuímos. Parabéns mulheres! Lembrem-se que o seu dia não é só no dia 08 de março, pois esse dia é um marco histórico e simbólico que balizou o início de mudanças para melhor. Os 365 ou 366 dias do ano são seus, e de todos nós. Por um mundo melhor e mais justo! Deixo, por fim, um escrito de uma grande poetisa goiana - Cora Coralina – que em 1975 homenageava o ano internacional da mulher:

Mulher vida

'Mulher da Vida, minha Irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos, apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens que
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
'Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra'.
As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
'Ninguém te condenou, mulher...
nem eu te condeno'.
A Justiça pesou a falta pelo peso
do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.'
Declarou-lhe Jesus:
'Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes
vos precedem no Reino de Deus'.
(Evangelho de São Mateus 21, ver.31.)

Saudações humanísticas e democráticas,"

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