Células-tronco

17/3/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"O migalheiro e ex-embrião - como todos nós, um dia - Paulo Iotti, novamente, não enfrenta todos os pontos jurídicos, mas somente os pontos que interessam à causa abortista. Não é o único, há outros advogados que pensam desta forma, embora sejam minoria. Vejamos. Inicia sua réplica com a alegação de que somente invocamos posicionamentos de cientistas para embasar nossas teses. Mas não enfrenta o posicionamento em si. Não conhece o trabalho do geneticista antes mencionado, Jerome Lejeune. Antes, foge dele. Por quê? Porque o nobre migalheiro, assim como todos os defensores da causa abortista - que não é sua causa -, fecham os olhos para o que a própria ciência diz, se não estiver de acordo com os projetos 'laicos'. Quer dizer, temos aqui um exemplo de 'laicidade' que utiliza os famigerados 'subjetivismos' como lhe convém, mas com receio de enfrentar a causa científica em si mesma, particularmente a que já definiu a origem da vida a partir da concepção. É o paradoxo, mais do que possível e até engraçado, onde o 'laico' ataca o 'científico'. Não é culpa do douto migalheiro, afinal, já é procedimento utilizado na corrupção da política brasileira há séculos. A política, frequentemente, não está nem aí para a verdade, para as exigências da verdade. Somente atenta para seus conchavos e projetos ocultos à população, e ponto final (salvo raras exceções). Paulo Iotti parece não perceber que o Estado não é a Nação, e que historicamente são inúmeros os exemplos nos quais os governantes, legisladores e políticos utilizam expedientes para proveito próprio, ou para proveito de uma minoria de poder, e não para representar a sociedade. A lei promíscua é a elaborada segundo planos políticos que se afastam da vontade popular majoritária, ou que se afasta da verdade em si mesma. Os subjetivismos laicos são hipócritas, os mais hipócritas de todos, como já foi provado em outras migalhas. E isso porque a Assembléia Constituinte não consultou a maioria católica do Brasil em diversos artigos da Constituição, ao contrário do que pensa o migalheiro. Mas, de onde vem essa afirmação? Diretamente do Ministro Nelson Jobim, conforme publicado neste poderoso rotativo, no dia 5 de junho de 2007. Dizia Nelson Jobim: 'A propósito da Assembléia Nacional Constituinte, Migalhas se lembra agora do ministro Nelson Jobim, que confessou ter, à sorrelfa, inserido artigos na Carta Magna que nem sequer haviam sito votados. E lembra porque tem gente vendo suas digitais nos últimos acontecimentos que sacudiram o PMDB’. Não culpo o migalheiro Paulo Iotti pelo seu desconhecimentos dos fatos em torno da elaboração de alguns artigos da CF/88, porque o desconhecimento é geral. Ademais, disse bem outro migalheiro, Daniel Silva: se fundamentações 'religiosas' não podem embasar decisões jurídicas e políticas, os mandamentos 'não matar' e 'honrar pai e mãe' estão errados? O que será do Código Penal e do Código Civil, completamente influenciados, também, pelos costumes religiosos, que norteiam o andar da maior nação católica do mundo? Parece que o migalheiro Paulo Iotti tem, na verdade, muito receio. Receio de que uma fé lhe seja 'imposta' - é a palavra que mais usa. Mas a fé requer aderência espontânea, não imposição. Que medo é esse? O problema, aqui, não é exclusivo de fé, de aderência ou imposição. O problema é de preconceito contra a religião em geral, e contra a ciência, naquilo que a ciência contraria o movimento hipócrita laico. Isso é que é grave. Há juristas querendo impor um tipo de verdade elaborada cuidadosamente com distorções que ocultem a verdade científica na sua totalidade. Desafio o migalheiro Paulo Iotti a debater os trabalhos de Jerome Lejeune, pra variar, esse geneticista de gabarito bem superior aos que existem no Brasil. É ciência, e ciência comprovando o surgimento de uma pessoa humana na fecundação, para horror dos laicos comprometidos com a mentira. Quanto à prova 'abstrata' da exteriorização do amor, é justamente a tese que a religião - não apenas a cristã - também utiliza para provar a existência de Deus, e nisso o migalheiro Paulo Iotti concorda, devo dizer até com surpresa. Se concorda que Deus existe, e que Deus é Amor, pode acreditar que o Amor não é a favor da morte de seres humanos em qualquer de suas fases evolutivas, feita por outros seres humanos de forma cruel e burocrata. A questão dos crucifixos em repartições públicas já foi discutida aqui antes, na decisão do MInistério Público do Estado de São Paulo, processo 48723/07, do Conselho Superior do Ministério Público, onde eram partes o representante Daniel Sottomaior Pereira, e representado o Presidente da Câmara Municipal. A adoção de crucifixos é constitucional, sim. Veja a decisão. E ao contrário do que o migalheiro Paulo Iotti diz, embora sem sucesso, é a sociedade que acredita em Deus, e não eu - como poderia? - que imponho isso. E os argumentos andam conexos, não separados. Se Deus existe e é Amor, e confere ao maior geneticista do mundo, quiçá da história, a conclusão científica de que a vida começa na fecundação, que é o legislador ou o jurista ignorante em ciências biológicas que irá contestá-lo? Somente a falácia pseudo-jurídica de alguns políticos remunerados por institutos abortistas pelo mundo é capaz de justificar o genocídio em massa. Também o migalheiro Paulo Iotti desconhece completamente - e completamente mesmo - quais são os interesses sujos por trás do desejo de matança dos embriões e fetos. É coisa podre, meu caro. Muito podre, do pior tipo de corrupção que se possa imaginar. E essa podridão tem como ponto de partida não a lei, não o Direito, mas uma intenção - não menos suja - de atacar tudo o que seja forma de religião cristã. É preciso uma visão histórica aqui. Em suma, pelos subjetivismos inerentes à laicidade em geral, fundamentações que ocultam as pesquisas científicas que contrariam interesses políticos escusos não podem ser usadas para embasar decisões políticas ou jurídicas. A conduta religiosa e moral pauta o caminho de Ministros, Presidentes, Advogados, Juízes e demais profissionais, no mundo todo. Alçar o Direito acima do espírito humano - e da fé professada pelo indivíduo -, que origina esse mesmo Direito, é o mesmo que dizer que o automóvel é maior do que seu motorista. Cuidado com isso, equivocado migalheiro. A lei injusta, que deve ser obedecida, não a torna mais justa por isso. Voltemos a Miguel Reale."

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