Migalheiros

1/4/2008
Cleanto Farina Weidlich - Carazinho/RS

"Receita ancestral: Esperei 110 (cento e dez) anos, para encontrar essa receita ancestral, retirei-a do livro Grama Humana - A Grama do Senhor, pub. por Remo Rômulo Farina, mas escrito por Gino Farina, filho de Antônio e Catarina Farina, quando da travessia no 'Cinísio', que iniciou no Porto de Gênova da 'nostra' Itália, em 25 de outubro de 1888, remando para o Porto do Rio de Janeiro,... Estou lendo a história dos Farina, contada por um parente chamado Gino, filho do Antonio Farina, irmão do vô Domênico (mincio),... em uma passagem, descreve o autor, os fatos que se passaram em casa de Antonio, na época localizada na zona rural em Alfredo Chaves (hoje Veranópolis), logo após o Rio Jabuticaba,... 'no tópico 94, se lê:... - Pronto. Acabou-se a festa. Chega o desmancha prazeres. Logo agora que dou o maior baile da paróquia. - Pois também posso entrar nessa dança - vai dizendo o recém-chegado. - E a sorte vai virar, garanto. Boa-noite senhores. Atrás dele aparece o escrivão Ferreira, do escritório da Comissão, tremendo de frio. Veste roupa grossa, manta no pescoço, botina militar. - Sobra da Guerra do Paraguai - faz, de sorriso aberto, o alegre funcionário, que vem em busca de uma bebida quente. O José e eu cedemos-lhes nossos lugares, e passamos a assistentes da batalha que se aproxima. - E agora? Quem pode vencer a Igreja? - diz, desolado, o Artari, enxugando a testa, não obstante o frio. - Ora, seus amiguinhos das furnas talvez o ajudem - ironiza o padre. - Apele a eles: têm muita força os súcubos! - Com sabe se tenho amigos lá?! - retruca o outro. - Talvez o reverendo tenha andado distribuindo santinhos e benzendo tocas na infernália? - Não. Só quando o amigo me apresentar. Padre não é bem quisto naqueles lugares - argue o cura, enquanto se acomoda na poltrona e apanha as cartas, que abre em leque. E antes que as coisas esquentem mais, 'pa' intervém, solícito, recomendando a bebida, que lhe é oferecida. - O álcool evaporou, bebida agradável e suave, mal algum. Espere um pouco: podemos melhorar. Catarina bata um 'zabaione', daqueles reforçados, mesmo, à moda cremona. Vou ajudar mamãe na cozinha. Quebro doze ovos, alcançando-lhe as doze gemas. Ela adiciona 100 gramas de açúcar e umas quatro ou cinco colheres, das de sopa, de água pura. Apanha o vidro do marasquino, em curtição com bagos de jabuticaba, põe 'quantum satis'. Mistura todos os ingredientes, numa panela de fundo espesso, usando um vigoroso batedor de ovos. Leva ao fogo brando, continuando a bater. Quando a mistura se torna espumosa, amarelada, está pronto para servir. - Delicioso - estala a língua, entusiasmado, o Ferreira. - Isto é capaz de botar múmia a dançar batucada. Não sou múmia egípcia, porém um freguês assíduo, criado e obrigado. - E burros voar como anjo - encaixa, Artari, repetindo a dose. - Acho que vou nessa - concorda Dom Tadeu, cordial. - Na minha modesta morada, não há lareira acesa nem fogão, e a noite se faz frígida. Para aquecer os ossos, cogitei de me agasalhar, por uns momentos, num lar como este do Antonio, meu amigo. Andei o dia inteiro a cavalo, visitando pessoas doentes, no fundo das linhas, levando-lhes o conforto da religião. Sinto-me enregelado. Necessito pôr o gelo para fora. - É assim que gosto de vê-lo - pisca Artari, admirado. - Quando desce os degraus do trono e vem misturar-se aos sofredores. Isso só dignifica o homem, em especial um poderoso, qual o reverendo. - Artari, no fundo, é leal, divertido e sincero - analisa o cura. - Cultiva lá suas idéias, seus conceitos, nem sempre convincentes, a meu ver, diz o que pensa, doa a quem doer. Não circula na igreja, mas é autêntico, bom e eu gosto dos bons e autênticos. ... Essa receita ancestral, não é patrimônio privado dos Farina, e sim, dos bons descendentes dos cremoneses, que emigraram de Torricella del Pizzo, em 25 de outubro de 1888, com a missão de ser a 'Grama do Senhor', é só preparar um bom 'zabaione', para que todos nós, possamos ficar feliz - os Farina só de barriga cheia - igual água de chafariz. Um grande abraço a todos, e qualquer coisa, se precisarem de algum auxílio no preparo do 'zabaione', me liguem que eu chego com os meus apetrechos. p.s.: falando ontem com minha mãe, que festejou oitenta há pouco, sobre os predicados e conhecimento da dita receita, ela me informou, que mais tarde, aqui no Vale das Antas (local geográfico do assentamento dos Farina na Província de São Pedro), a mesma foi 'aperfeiçoada', para se fazer acrescentando o vinho tinto requeimado (também conhecido por quentão), no lugar do marasquino. Cordiais saudações!"

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