Praça René Thiollier

5/5/2008
Stella Maria de Mendonça e Elisabeth Cecília Malfatti

"Uma cidade sem História não tem Presente, quiçá um Futuro! Aqui faço meu protesto e representando também Betty Malfatti! Meu nome Stella Maria de Mendonça, sobrinha de Elisabeth Cecília Malfatti, Betty é sobrinha e herdeira de Anita Malfatti, indignada se solidariza, juntas somos solidárias a voz solitária de Maria Nazareth Thiollier. Sou restauradora de obras de arte e preservo o acervo da artista plástica expressionista Anita Malfatti a 'Mãe do Modernismo', mais de vinte cinco anos e atualmente tenho me aprofundado em sua biografia que representa uma genuína parte da história cultural da cidade de São Paulo e do Brasil. René Thiollier um nome vivo no 'Cenário Cultural Paulista', com sua atuação no passado de uma fundamental importância para a historia atual na cidade de São Paulo, deveria ser reverenciado, pois graças á contribuição efetiva desse aristocrata, temos hoje o privilégio e orgulho da nossa história cultural. Podemos começar a dizer aos quatro cantos do planeta, que Isadora Duncan a célebre bailarina moderna norte-americana, estivera na cidade de São Paulo no Teatro Municipal, graças a Anita Malfatti e René Thiollier. Anita Malfatti que introduziu a Arte Moderna no Brasil em 1917, anteriormente, durante a I Guerra, na sua permanência em Nova York desde 1914 até 1916, participou de um intenso convívio com os modernistas americanos, franceses e russos, tendo o privilégio de presenciar o nascimento da Arte Moderna nos Estados Unidos da América do Norte, onde freqüentou extasiada ativamente, os ensaios do Balé de Isadora Duncan. Nas vésperas de sua partida, em Nova York, Anita ainda chegou a ver, Isadora Duncan bailar 'a Iphygenie de Tarsus', em um teatro ao ar livre, no estádio da Universidade de Columbus. Anita em agosto de 1916, já no Brasil, sabendo que a consagrada bailarina Norte Americana estaria na América do Sul, na Argentina, pediu apoio imediato a um único homem paulistano, sensível e capaz de viabilizar este evento, René Thiollier. Amigo da família Malfatti, fora um personagem de extrema relevância na cultura e sociedade paulistana, criando convenientemente as peças, trazendo Isadora Duncan para apresentar-se também em São Paulo. Mobilizou sem medir esforços, os contatos com o Balé de Isadora Duncan, reservando o Teatro Municipal. Em setembro, nos dias, 2, 3 e 5 de 1916, estreou nesta cidade o majestoso recital, Anita Malfatti fizera uma caricatura de Isadora Duncan no teatro Municipal de São Paulo, para registrar este notável acontecimento, graças ás medidas de René Thiollier. Chamado de 'O Empresário da Semana de 22', René Thiollier, amigo do prefeito na época, solicitou o Teatro Municipal, para acontecer o Manifesto Modernista, A Semana de Arte Moderna em São Paulo. Cuidou da licença, alugara o Teatro, pagou do próprio bolso e dera como garantia seus bens pessoais. Reunindo e organizando um comitê patrocinador composto por Antônio Prado Junior, Paulo Prado, Edgard Conceição, Armando Penteado, José Carlos de Macedo Soares, Oscar Rodrigues Alves, Alberto Penteado, Franco Zampari e Alfredo Pujol, que custearam as despesas dos artistas que vieram do Rio e o aluguel do Teatro Municipal por uma semana para a realização do evento. Defensor de Anita Malfatti após a chegada da Arte Moderna, Thiollier era grande entendedor dos fundamentos da Arte Moderna, já fizera contato com o Modernismo em Paris bem antes da Semana de 22, isso não era novidade para ele. Em sua casa na Villa Fortunata na Avenida Paulista, nº. 1853, abriu seu salão, para os encontros intelectuais, culturais e sociais, muito freqüentado. No final de 1921, os modernistas como: Paulo Prado, Mário e Oswald de Andrade, Luís Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Plínio Salgado, Agenor Barbosa, Di Cavalcanti e Anita Malfatti, entre muitos outros organizaram o programa do Manifesto Modernista tão comemorado por nós brasileiros. Anita Malfatti em seus manuscritos preservados pelo Instituto de Estudos Brasileiros, USP, escreveu seu depoimento sobre a Histórica 'Semana de Arte Moderna'. Depoimento de Anita Catharina Malfatti:

'Foi com a chegada ao Rio de Janeiro do escritor Graça Aranha, que René Thiollier com Paulo Prado conseguiram alugar o Teatro Municipal por uma semana para os artistas.'

'Foi em São Paulo que soou o toque do clarim que rompeu as amarras do velho barro acadêmico, lançando os artistas ao mais agitado, à precursora de novos horizontes artísticos. Ninguém teve tempo de preparar algo novo, mas a idéia moderna estava viva no coração deste pequeno grupo de artistas brasileiros, tinta indelével que marcaria época a dirigir uma geração de paulistas'.

'Foi em 9 de fevereiro de 1922 com a inauguração da S.A.M. que se afirmou á nova era artística no Brasil. O teatro Municipal, pois era cedido ao grupo dos artistas por uma semana inteira coisa nunca alcançada no Brasil. Ainda guardo carinhosamente o catálogo da Semana'.

Através da soma de conhecimentos literários, teatrais, óperas e artes cênicas adquiridas e vivenciadas em Berlim e Nova York, como os Balés russos de Sergei Dhiaghilev’s e o cenógrafo Léon Nikolayevich Bakst, também professor de Marc Chagall, para apresentação no Metropolitan Opera House, como também a francesa Stacia Napierkowska, atriz que inaugurou um gênero de espetáculos novos com apresentações da peça War’s Bride, como os grandes literatos premiados com o premio Nobel de literatura, Máximo Gorki, Romain Rolland e Selma Langerloff, Anita, despojava um repertório riquíssimo, digno de interesses mútuos, René e Anita conduziam conversas intermináveis sobre teatro e literatura, no salão da casa Fortunata. René Thiollier o escritor, em suas matérias publicadas, sobre os encontros com os modernistas não se referia a Anita Malfatti, pois na época, não seria visto de bom-tom uma senhorinha conspirando no meio de intelectuais. Um verdadeiro gentleman, um intelectual habilitado, onde muito prestigiou e valorizou a nossa cultura em todos os seus feitos com muita sutileza e discrição, para que hoje São Paulo se tornasse o Símbolo Cultural do nosso País. Acredito plenamente no equivoco impulsivo dos representantes da nossa Prefeitura da capital de São Paulo, de cunho sensível e mãos confiáveis que preservam nossos bens culturais, protegem e promovem a cultura e o Patrimônio Histórico da nossa cidade, não acredito que cometam propositadamente um lapso histórico de tamanha proporção tão ante-cultural e cívico. O histórico casarão da Villa Fortunata, infelizmente não existe hoje, mas sua história esta impregnada naquele terreno e em sua majestosa floresta. Esperemos que nesta atual gestão se faça jus á 'Praça René Thiollier' de uma nobilíssima família que com seu legado preservou e tombou a essência fundamental da vida no meio da Avenida Paulista, uma parcimoniosa floresta erguida, massacrada pelo concreto armado. Esta paisagem esplendorosa e sobrevivente cultivada pelas mãos do nosso compatriota visionário e mecenas cultural, que tanto fez e amou São Paulo, René Thiolier. Estimadíssima, Sra. Maria Nazareth Thiollier não a conhecemos pessoalmente, saiba, entretanto que abraçamos sua causa, e somos solidárias, conte com o nosso apoio. Obrigada pela atenção,"

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