Artigo - Entre as políticas públicas salutares e o autoritarismo estatal

2/7/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Parabéns, migalheiro Daniel Silva. São poucas as pessoas que conseguem ver o fim do túnel, para onde vão as coisas afinal. São milhares de bares e restaurantes só em São Paulo, nos quais a venda de bebida representa, respectivamente 60% e 40% do faturamento. Só para fazer uma piadinha, com as demissões no setor, que por certo ocorrerão, o que farão essas pessoas sem emprego, nesses dias difíceis? Certamente passarão a beber. E, se tiverem carros... Mas, como o colega mencionou Orwell, e seu 1984, sempre atual, e Aldous Huxley, que sempre deve ser lido, e relido, tomo a liberdade de sugerir um filme, 'O Homem que Incomoda', norueguês, meio esquisito, a história de um homem... que incomoda, que se vê a meio de uma sociedade, em uma cidade cinza, sem música, sem sons, sem cheiros, sem sensações, sem emoções. Ao flagrar, por exemplo, um buraquinho em uma parede, por onde passa um cheirinho de comida, procura rapidamente expandi-lo, até conseguir retirar, do 'outro lado', um doce, antes de ser capturado e levado de volta... à sociedade perfeita, politicamente correta, sem crianças, sem sujeira, sem gritos, sem alegria... Vale a pena. Quem bebe, sugerem, que pegue um táxi. Mas, os táxis, assim como qualquer transportador (é o que diz o Código Civil), pode recusar o passageiro alcoolizado. E, mais ainda, a Lei de Direitos Autorais prevê que poderá haver cobrança de direitos autorais pela música tocada em lugares públicos, inclusive... em táxis, expressamente. Fumantes já são execrados em praça pública. Fumam às escondidas, no recesso de seus lares, virando para baixo as horrendas fotos estampadas em seus maços de cigarros, em nome de políticas de saúde, as mesmas que mantém hospitais sem condições matando milhares de pessoas e deixando outras sem qualquer atendimento. Enquanto o viciado fica feliz porque 'pouca' droga pode, o padre é flagrado pelo bafômetro após rezar duas missas e o 'somelier' é preso após uma noite de trabalho durante a qual 'provou' vinhos para servir aos clientes do restaurante onde trabalha e os traficantes retomam o Morro da Providência, de onde saiu o Exército, que não serve para manter a ordem aqui, mas só no Haiti. Por outro lado, nossas crianças não mais podem ver nos circos, os animais, proibidos agora. E os anões? Não é a mesma coisa ver pessoas 'verticalmente prejudicadas'. Não é nada engraçado, apesar de politicamente correto. Aliás, nem bêbado se poderia falar, já que o correto seria pessoa dependente de álcool. Não, caro migalheiro, Daniel Silva, não há nenhuma semelhança entre o Brasil e a visão de Orwell ou a Huxley. Estamos mais para o 'Samba do Crioulo Doido', ou para o filme que sugeri, 'O Homem que Incomoda', no caso, os homens que incomodam, nós, os cidadãos brasileiros, sempre a incomodar o Estado."

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