Poltergalhas

1/12/2008
Nicodemos Rocha

"Nenhuma das traduções que conheço sobre a Lenda Ali Babá e os 40 Ladrões, nosso herói devolve ao Poder Público o que conseguiu surrupiar dos bandidos. Inclusive, Ali Babá é qualificado como mercador, pastor, estafeta etc. Há controvérsia até mesmo sobre sua profissão. Em síntese, o que se pode concluir pela maioria das traduções é que, Ali não roubou. Tomou dos ladrões e depois se defendeu. E continuou a saquear sistematicamente a poupança daqueles abnegados cultores do assalto para manter o nível de vida que passara a considerar seu de direito. Não plantou, não construiu, não fez filantropia. Só usufruiu. A bem da verdade, os outros eram bandidos. Mas neste caso que os entregasse às autoridades. Já no Brasil da era moderna o Ali Babá teria sido cooptado pelos ladrões, que reconheceriam a utilidade de uma figura carismática e fútil e teria sido transformado em representante oficial da quadrilha, que manteria a polícia à distância, aumentando a sua capacidade de saque. Portanto, equivocada a consideração do ilustre migalheiro que vê no Ali o símbolo maior do cidadão íntegro. Sabe-se de fonte segura que autores diferentes como Voltaire, Proust, Machado de Assis, Allan Poe, Jean Porocki, Jorge Luiz Borges, Charles Nodier, fizeram de ‘Mil e Uma Noites’ uma espécie de leitura obrigatória. Também eu, embora humilde e superficialmente, conheço algumas das estórias contadas pela princesa Saharazad, ao rei Sahraiar. Com o devido acatamento do ilustre e culto migalheiro, ouso discordar de sua tese. Ali Babá, ao contrário do que alega é o símbolo maior da desonestidade. Não merece desagravo. Se este texto chegar ao conhecimento do ilustre e culto migalheiro, dr. Luiz Tomaz do Nascimento Filho, espero que seja recebido democraticamente, ou seja, dentro das perspectivas que as idéias, ainda que contrárias, convivam harmonicamente."

Envie sua Migalha