Exame da OAB

9/6/2009
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Um questionamento sobre o Exame de Ordem diz respeito à elaboração das questões. Muitas delas - talvez a maior parte - utiliza o formato de 'pegadinha', ou melhor, 'preste atenção nos detalhes', 'preste atenção nas palavras', etc. Alguém poderia dizer: bem, quem estudou saberá reconhecer essas nuances, essas 'pegadinhas'. A prova não avalia apenas conhecimento, avalia autocontrole. É aspecto relevante o conjunto de fatores psicológicos e emocionais do candidato, na hora da prova. Nem todos estão de cabeça fria, esquemática e 'cartesianamente' organizada, ou sistematicamente concentrada, se é que é possível estabelecer parâmetros de frieza completa, como se todos os jovens tivessem características iguais, os quase-clones aspirando pela perfeição do equilíbrio na sala de 10 por 8 metros, dentro de quatro horas. E a vida real...? Bem, muitos jovens sustentam as próprias famílias logo cedo, ou perderam os pais, ou trabalham sofridamente para sobreviver, encontrando escasso tempo para os estudos. A culpa pelas reprovações, se me permitem dizer, não é um tema estritamente ligado,com exclusividade, ao número de faculdades e ao mau ensino. A reação em cadeia que leva à reprovação,ou melhor, a análise desta reação em cadeia vai muito além da mera estatística institucional. Há potenciais advogados brilhantes que não passam no Exame da Ordem em razão de suas características pessoais - como a ansiedade, por exemplo - ou ambientais - como no exemplo do forçado tempo exíguo de estudo. E são candidatos formados pela USP, pela PUC, pelo Mackenzie, por outras faculdades de primeira linha. A meu ver, toda a questão sobre o Exame de Ordem é tratada de forma ainda muito superficial por todas as instituições que com ele trabalham. Leio no jornal Tribuna do Direito que a reprovação do 138º Exame 'chocou a própria diretoria da seccional paulista'. Porém, mais do que chocar, irá gerar medidas concretas para, mantida a suposta excelência do Exame, criar condições para maior percentual de aprovações? Isso sim seria uma coisa que mereceria nossa 'atenção'. Pessoalmente, ouço no Fórum Central que 'quanto menos advogados, melhor', ou ainda, 'tomara que o Exame reprove todo mundo, já tem advogado demais'. De onde vem esse tipo de pensamento discriminatório? Enquanto isso, por exemplo, os médicos continuam sem 'Exame de Ordem'. É isso aí. Talvez todos os candidatos se sentissem mais confortáveis, ou respeitados, ou ainda consolados, se os responsáveis pelo Exame de Ordem publicassem, com detalhes, a metodologia de elaboração das questões, se houver. Há?"

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