Atentado no Palácio da Justiça de SP - Ano de 1952

15/7/2009
Lionel Zaclis - escritório Barretto Ferreira, Kujawski, Brancher e Gonçalves - Sociedade de Advogados

"Prezado editor, com relação ao assunto gostaria de agregar um 'pequeno' detalhe à história (Migalhas 2.182 - 14/7/09 - "Advogado atira em desembargadores" - clique aqui). Diz a reportagem que, naquela quinta-feira, 31 de janeiro de 1952, após atirar nos desembargadores, o capitão-advogado Chrysogono de Castro tentou fugir pelos corredores do Palácio, mas, dirigindo-se ao terceiro pavimento, foi dominado e conduzido para a sala onde se achavam os desembargadores. De fato, a pessoa que o dominou foi meu saudoso pai, Waldemar Zaclis (OAB/SP 5.189), o qual se encontrava compulsando autos de um processo num dos cartórios cíveis (naquela época, todos os cartórios judiciais da Capital se localizavam no Palácio da Justiça). Ao ouvir gritos e correria, saiu ao corredor, quando deu de frente com o capitão, portando um revólver e completamente fora de si, perdido no verdadeiro labirinto que é o edifício, só conhecido pelos assíduos frequentadores. Assim, frente a frente com o capitão armado e temendo que este pudesse atirar, meu pai não teve dúvida: desferiu-lhe um violento 'upper', que o atirou ao chão, desarmando-o, pelo menos do revólver que se encontrava empunhando. Quem conheceu meu pai sabe muito bem que, embora cordato e cavalheiro, não gostava de levar desaforo para casa e enfrentava as ameaças de peito aberto. Afinal, ainda estávamos na década de 50, quando a vida humana valia bem mais do que hoje em dia! Depois disso, acompanhou os soldados que conduziram o capitão à presença dos desembargadores. O mais interessante é que o capitão, amedrontado, implorou ao meu pai que fosse junto, pois temia ser agredido. Ao retornar ao escritório, a poucos metros do Palácio da Justiça, na Rua Felipe de Oliveira, 21 (onde hoje se localiza o acesso ao metrô da Praça da Sé), recebeu a visita de dois oficiais de justiça, informando que o Presidente do Tribunal de Justiça solicitava sua presença no Gabinete. Ali dirigiu-se, temendo alguma conseqüência em virtude do soco que havia desferido no capitão. Em lá chegando, e na presença dos desembargadores da 2ª Câmara Criminal, do Vice-Presidente e do Corregedor-Geral, o Presidente indagou-lhe se desejava apresentar queixa contra o capitão no 1º Distrito, no Páteo do Colégio, tendo em vista 'a agressão que sofrera', ao que meu pai respondeu que preferia abrir mão desse direito... Esse episódio, aliás, foi relatado na nota do Consultor Jurídico, de 21 de março de 2004, por ocasião de seu falecimento.  Mais tarde, com os comentários correndo de boca em boca, passou a ser carinhosamente tratado pelos desembargadores, como 'o defensor da Magistratura paulista'. Se vivo fosse, iria completar 91 anos no próximo dia 24 de agosto. Como homenagem à sua memória, permito-me registrar o fato. Atenciosamente,"

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