Crucifixo

19/8/2009
Milton Córdova Júnior - OAB/DF 22.899

"Sou cristão, mas não sou ignorante no que se refere ao sentido da palavra de Deus e à Sua intenção. O Deus dos cristãos é o mesmo Deus dos judeus, é o mesmo Deus do Islã. Podem mudar o nome (Jeová, Javé, Deus, Allah), mas é o mesmo. Quanto a outros povos e culturas, é evidente que o Criador (vamos denominá-lo assim) se manifestou de formas diferentes, pois os tempos também era diferentes. Tupã, dos índios, é o Criador; o Odin, dos vikings, é o Criador; Zeus (ou Júpiter) dos gregos e romanos, era o Criador; a Manifestação Divina dos hindus, dos budistas, enfim, de todas as crenças ou religiões, em todos os tempos, é e sempre foi o Criador - apenas com nomes diferentes. Apenas isso. Há muitos anos li trechos de uma obra sobre Krishna (acredito que foi o Bhagavad Gita),onde num determinado momento ele diz algo mais ou menos assim: 'não importa o nome com o qual me invocais, eu vos atenderei'. Khrisna, que teria vivido uns três mil anos antes de Cristo, já alertava as pessoas sobre a desimportância do nome que Lhe dão. Portanto, trata-se de enorme ingenuidade (intolerância, fanatismo ou sectarismo?) acreditar que a expressão divina do Criador, do Princípio, do Pai seja exatamente a mesma em todos os povos e em todos os tempos. Não é. Não foi por acaso a vinda de grandes Homens como Confúcio, Buda, Khrisna, Abrahão, Moisés, Platão, Sócrates, Marco Aurélio (o imperador), Gandhi, Luther King, e tantos outros personagens em todos os tempos e regiões. Todos manifestações Dele. O próprio Jesus Cristo, respondendo a uma reclamação de João, que teria proibido uma pessoa que 'expulsava demônios' em nome Dele (Jesus) mas não os seguia, disse: 'não o proibais, ....pois quem não é contra nós, é por nós' (Marcos 9.40; Lucas 9.50). Trata-se de grande ensinamento de Jesus, esclarecendo ao discípulo que não importa a forma ou a aparência da manifestação, que não necessita ser exatamente a mesma (pois a tal pessoa 'não os seguia'). O que importa é a essência do ato, o ato em si. Pena que muitas igrejas e crenças, nos dias de hoje, com grande intolerância, ignoram o ensinamento de Jesus e semeiam a divisão, acreditando que cada uma recebeu uma procuração de Deus para falar, exclusivamente, em nome Dele. Um misterioso mas profundo registro encontrado na própria Bíblia, dando notícia de que outros povos eram até mesmo superiores em termos de espiritualidade, está em Mateus 2.1-2 e Mateus 2.12, quando Deus teria guiado uns 'reis magos do Oriente' até o berço de Jesus, e depois os orientado a retornarem por outro caminho, fugindo de Herodes. Que magos eram esses? De onde exatamente (Oriente) vieram? Qual sua missão? Porque Deus não enviou pessoas da própria região (e religião) onde Jesus nasceu, enfim, conhecedoras Dele? Certamente porque os magos que O visitaram eram oriundos de povos muito mais avançados e evoluídos moralmente, ainda que para eles Deus tenha outro nome e outra forma de manifestação. Mas é o mesmo Criador. No mundo do Direito existe a figura da 'fungibilidade recursal'. Quando a parte ingressa com um recurso equivocado, quando na verdade era outro recurso, o Juiz pode acolhê-lo como se fosse o outro. O Criador faz a mesma coisa. E com certeza, com uma grande paciência para suportar essas discussões terrenas tão estéreis e sem qualquer importância, as quais encerram, na verdade, outras intenções escusas. Para mim, ver um crucifixo remete instantaneamente ao Criador. Quando vejo uma figura de Buda ou de outra religião, da mesma forma sempre sou remetido apenas a Ele, Deus. Que é o mesmo, para todos e em todos os tempos. Até mesmo para os que não acreditam Nele."

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