Falta de afeto

20/10/2009
Claudia Corrêa

"Ao ler sobre isso, não sei se rio ou se choro, sinceramente. Não, isso não é nada Constitucional. Nem humano, valha-me! Com ingênua esperança, sejamos otimistas... será uma 'pegadinha’? Cadê a câmera? Casseta e Planeta? Seria uma Lei das Organizações Tabajara? Seria mesmo até cômico se não fosse trágico – e ridículo. Mais uma inutilidade brasileira, entre tantas. Uma ideia dessa não pode sair de um cérebro considerado comum. Não, não pode. E quando digo comum, não me refiro a quantidade de massa encefálica, nem a sanidade mental. Me refiro a cérebros como o meu, como o seu, caro leitor, de pessoas honestas, íntegras e com capacidade de avaliar com dignidade, mínima que seja, que o assunto em questão trata-se de ordem sentimental. Algo muito maior, grandioso! Amor. Sentimento verdadeiro e honrado entre pais e filhos. Mas, de que modo falar em verdade e honra quando as cifras falam aos berros para alguns? Penso que, o que vemos aí - mais uma vez – é a imposição de uma cambada de espertalhões, metidos a sabidos e com bastante tempo ocioso, fazendo uso de um poder indubitavelmente medíocre, nada mais do que isto. Aquela corja de sempre, que já conhecemos de cor e salteado: oca, vazia, inescrupulosa, cara-de-pau, que dita as regras e nos obriga a cumpri-las sob penalidades que são apenas voltadas para interesses próprios. As preocupações que alegam são meramente ilustrativas. Sabemos que, no que diz respeito ao amor entre pais e filhos, o sentimento já existe naturalmente sem que haja necessidade de meios para conquistá-lo. Muito menos negociá-lo. Ama-se os filhos feios e os filhos bonitos. Ama-se os filhos bandidos e os filhos doutores. Ama-se as filhas prostitutas e as filhas freiras. É a Lei – da vida. Imutável. Sábia. Qualquer um sabe que, ainda que filhos levem broncas e castigos de seus pais, isso não implica em falta de amor. Bem ao contrário. Se um filho erra e é punido, eis aí a demonstração do mais puro amor. Não estou falando em violência física, nem espancamento. Isso é opressão hierárquica, abuso de poder, covardia. Mas uns 'puxões de orelha', uns 'tapas no traseiro' ou uns dias sem computador não matam ninguém não. Infelizmente, no mundo de hoje, onde nossas crianças estão bem a frente do tempo infantil, é preciso pulso firme sim. Se erram, precisam arcar com as conseqüências de seus atos. É errando que se aprende. E é pagando por seus erros que se registra o aprendizado, e encontra-se maior probabilidade em tornar-se um adulto realmente maduro, realmente responsável, capaz de responder por si com devida postura e segurança. Será que agora ao educarmos nossos filhos com o intuito de que sejam pessoas melhores, ao menos dignas, teremos de consultar uma tabela de multas? Não é possível que, um fulano qualquer, sei lá eu de onde, esteja - verdadeiramente - mais preocupado com a qualidade do amor que a minha filha recebe do que eu. Sinceramente, isso foge a compreensão dos meus poucos neurônios. Só pode mesmo ser uma 'pegadinha'. Não vejo outra explicação."

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