Gramatigalhas

Bastante procurador

Bastante ou Bastantes? O Professor José Maria da Costa responde.

19/10/2005

O leitor Wilson Silveira, da CRUZEIRO/NEWMARC Patentes e Marcas Ltda, envia ao Dr. José Maria da Costa a seguinte mensagem :

"Para colocar pá de cal sobre o assunto: "Por seus bastantes procuradores..." ou por seus bastante procuradores ?"

1) O adjetivo bastante significa suficiente ou aquele que basta. A expressão bastante procurador, assim, tem a acepção de procurador suficiente, ou procurador apto, ou procurador com os poderes necessários.

2) Quanto à teoria, em português, o adjetivo (bastante) concorda normalmente com o substantivo (procurador) a que se refere em gênero (masculino ou feminino) e número (singular e plural). Por isso, o plural de seu bastante procurador é exatamente seus bastantes procuradores.

3) O que se deve observar, em acréscimo, é que essa palavra, além de adjetivo, às vezes funciona como advérbio, razão por que deve ser observada do prisma da concordância nominal.

4) Se modifica um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio, a palavra tem valor de advérbio e é invariável. Exs.:

a) "Ele trabalha bastante";

b) "Ela trabalha bastante";

c) "Eles trabalham bastante";

d) "Elas trabalham bastante";

e) "Ele está bastante cansado";

f) "Ela está bastante cansada";

g) "Eles estão bastante cansados";

h) "Elas estão bastante cansadas";

i) "Ele está bastante bem";

j) "Eles estão bastante bem".

5) Nesse sentido, observando que tal palavra "não varia quando modifica adjetivo ou particípio", Sousa e Silva manda corrigir para o singular o seguinte exemplo que colheu em uma revista médica: "Foram realizadas duas punções esternais, com resultados bastantes concordantes".1

6) Se, porém, modifica um substantivo, tem valor de adjetivo e concorda com a palavra modificada. Exs.:

a) "Havia bastante gente à espera do réu";

b) "Havia bastantes pessoas à espera do réu".

7) Nessa última situação, Eduardo Carlos Pereira classifica-o como adjetivo determinativo indefinido, categoria essa que conceitua como "o adjetivo que determina o substantivo de modo vago".2

8) Em observação abrangendo os vocábulos muito, pouco, bastante, tanto e quanto, asseveram Carlos Góis e Herbert Palhano que tais palavras são pronomes indefinidos, quando vêm modificando um substantivo; "neste caso são variáveis em gênero e número".

9) Acrescentam eles que tais palavras são advérbios, quando vêm modificando o verbo, o adjetivo, ou outro advérbio; "neste caso, são invariáveis".3

10) Napoleão Mendes de Almeida condena seu uso com a significação de "em grande quantidade", reputando errada uma frase como "Encontrei bastantes conhecidos na cidade".4

11) Tal rigor, porém, parece ser solitário, e esse posicionamento radical não vem tendo acolhida entre os gramáticos, que consideram correto tal emprego.

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1 Cf. SILVA, A. M. de Sousa e. Dificuldades Sintáticas e Flexionais. Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1958. p. 46.

2 Cf. PEREIRA, Eduardo Carlos. Gramática Expositiva para o Curso Superior. 15. ed. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia.; 1924. p. 88.

3 Cf. GÓIS, Carlos; PALHANO, Herbert. Gramática da Língua Portuguesa. 5. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1963. p . 123-124.

4 Cf. ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. São Paulo: Editora Caminho Suave Ltda., 1981. p. 38

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.