Gramatigalhas

Prebiótico ou Pré-biótico – Qual a forma correta?

Prebiótico ou Pré-biótico – Qual a forma correta? O professor esclarece.

4/1/2023
O leitor que se identifica apenas como Kaio envia à coluna Gramatigalhas a seguinte mensagem:

"Olá! Muito boa tarde ao pessoal do Migalhas. Em um primeiro momento congratulo-os pela iniciativa altruísta prestada ao público brasileiro no que tange à resolução de questões relativas ao uso adequado do nosso Português. Minha dúvida é se, do ponto de vista gramatical, é correto ou não, ou é facultativo ou não, o uso do termo 'prebiótico' nos textos diversos que for produzir. Ao buscar a grafia da palavra por meio de algumas fontes, encontrei somente o termo 'pré-biótico', isto é, o vocábulo em questão escrito tão só com hífen, evidentemente devido à presença do prefixo pré. Nesse sentido, a grafia da palavra questionada tão-somente está certa e apropriada na forma hifenizada? Agradeço de forma encarecida pela atenção de todos, desde já".

1) Um leitor indaga, em síntese, qual a forma correta: "prebiótico ou pré-biótico?"

2) O que se vai fazer aqui, mais uma vez, é, em última análise, lançar um roteiro de como proceder em situações como esta, em que se quer saber se o vocábulo existe ou não em nosso idioma. E a ideia é deixar o leitor autônomo, autossuficiente e capacitado para resolver questões dessa natureza por si próprio.

3) E, assim, quando se quer saber se um determinado vocábulo existe ou não em nosso idioma, o primeiro passo é lembrar que, entre nós, a Academia Brasileira de Letras é o órgão incumbido, desde a edição da lei 726/1900, de definir a existência, a grafia oficial, o gênero e as peculiaridades dos vocábulos em nosso idioma.

4) E a ABL, para atender a essa incumbência legal, o faz oficialmente pela edição, de tempos em tempos, do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Mais modernamente, ela também tem disponibilizado, em seu site pela internet, o rol dessas palavras e expressões oficialmente existentes, bem como tem registrado as demais peculiaridades dos vocábulos.1

5) Sintetize-se, então, que o primeiro passo para solucionar o desafio é consultar o VOLP, a fim de saber se o vocábulo efetivamente existe na língua portuguesa. Lembre-se, nesse campo, que a última edição física disponível do VOLP pode estar bem desatualizada. Em seguida, como segundo passo, no Google, busque-se por Academia Brasileira de Letras, ou simplesmente ABL. Na sequência, clique em Busca no Vocabulário e digite o vocábulo pretendido.

6) No caso, uma consulta à edição eletrônica do VOLP vai comprovar que, atualmente, ambas as formas são aceitas em vernáculo: prebiótico e pré-biótico. E, com isso, está resolvida a questão.

7) Um alerta adicional precisa ser feito a esta altura: nessa tarefa de saber se o vocábulo existe ou não em português, não confie nos dicionários. Os estudiosos da língua e os dicionaristas, sem sombra de dúvida, prestam relevantes serviços ao vernáculo. Não são eles, porém, as autoridades para dizerem, com valor oficial, se uma palavra existe ou não no idioma, bem como qual seja sua grafia, suas peculiaridades, ou mesmo sua correção. Essa atribuição cabe, com exclusividade, à Academia Brasileira de Letras, de modo que, na divergência entre os gramáticos, filólogos e dicionaristas de um lado, e o VOLP de outro, há de prevalecer, nesse campo, o que registra este último.

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1 Mais recentemente, a ABL tem tomado duas providências interessantes, para as quais o leitor deve estar atento, a fim de não incorrer em deslizes gramaticais: a primeira, a Academia não mais tem editado fisicamente o VOLP, mas apenas tem disponibilizado as novas edições por aplicativos específicos; a segunda, tem ela atualizado sua lista de novos vocábulos à medida que sua Comissão de Lexicologia e Lexicografia os aprova como novos integrantes do idioma, e não necessariamente em bloco e de tempos e tempos. Assim, na dúvida sobre a existência de qualquer palavra, é um bom hábito consultar com frequência a listagem eletrônica respectiva.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.