Gramatigalhas

Perder de ou perder para?

Confira o texto "Perder de ou perder para?"

27/2/2008

O leitor Antonio Doarte de Souza envia ao autor de Gramatigalhas a seguinte mensagem:

 

"Cada vez com mais freqüência, profissionais da imprensa falam 'O time X perdeu do time Y'. Por entender que quem ganha 'ganha de' e quem perde 'perde para', gostaria de saber se há alguma lógica em 'perder de'... Obrigado pela atenção."

 

Perder de ou perder para?

 

1) Quando se faz uma indagação como essa – perder de ou perder para? – quer-se saber, em suma, que preposição está a exigir o verbo perder para o seu complemento.

 

2) Esse assunto de relacionamento entre as palavras na frase diz respeito a uma parte da Gramática denominada sintaxe (do grego sin = conjunto + taxe = construção).

 

3) E o capítulo específico da Gramática que trata das preposições exigidas pelo verbo para iniciar seu complemento chama-se regência verbal.

 

4) Em nosso idioma, as questões de construção, ou seja, de sintaxe, são solucionadas pelo uso que nossos melhores autores, desde Camões (1524-1580), fizeram do idioma pátrio. E a expressão melhores autores deve abranger aqueles escritores que empregaram o vernáculo com apuro e zelo.

 

5) Buscar, porém, na obra literária dos nossos melhores autores, como empregaram a regência do verbo perder é como procurar agulha em um palheiro.

 

6) Mas essa pesquisa não é necessária, pois, de um modo geral, estudiosos e gramáticos já realizaram estudos nesse sentido, compilaram milhares de exemplos e sistematizaram, em monografias preciosas, grande parte da sintaxe de vocábulos dessa natureza.

 

7) De modo específico para a indagação feita, o gramático Domingos Paschoal Cegalla ensina que o verbo perder, "na acepção de ser vencido, constrói-se comumente com a preposição de". Ex.: "O Fluminense perdeu do Flamengo".

 

8) Quando se quantifica o resultado do jogo, acrescenta tal autor que se pode usar uma de duas preposições: de ou por. Exs.:

a) "O Santos perdeu do São Paulo de 3 a 2";

 

b) "O Santos perdeu do São Paulo por 3 a 2".

9) E ainda assim finaliza sua lição: "Parece-nos boa também a regência perder para". Exs.:

a) "A Itália perdeu para o Brasil por 3 a 1";

 

b) "Portugal perdeu de 2 a 1 para a Espanha".

10) Em síntese, de modo específico para a indagação feita, tanto se pode dizer perder de como perder para. Vale aqui o princípio de que, quando abalizados autores permitem mais de uma construção, não se deve vedar ao usuário nenhuma delas ("in dubio, libertas").

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.